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Farodin estava encantado. Em seus ouvidos, o canto tinha mudado. A voz dela ainda era a mesma, mas cantava a melodia como Aileen gostava de fazer quando achava que estava sozinha. Cantava alguns versos e então continuava murmurando a melodia.

Finalmente haviam chegado. Somente por aquele instante, todos os esforços e perigos já tinham valido a pena. O peso de uma vida inteira caiu dos ombros de Farodin.

Foi Nuramon quem se aventurou a dirigir a palavra a Noroelle. Ele disse:

Oh, veja, graciosa filha de albos!

Noroelle estremeceu. Seria uma voz que ela não tinha criado com um feitiço? Ela redobrou a atenção, mas nada veio a seguir. No entanto, logo sentiu que havia alguém ali. Ela se levantou. Quando deu meia-volta, não acreditou no que seus olhos viram.

— Por todos os albos! Isso é uma ilusão? Um feitiço da minha saudade? Oh, doce saudade! Mas que presente o seu!

Aquilo atingiu Farodin e Nuramon como um raio: ver novamente as maravilhosas feições de sua amada. Ela não estava diferente. Tinha a mesma aparência daquele dia em que precisaram se separar dela para partir para a caçada ao devanthar. Usava um vestido branco e, adornando o belo colo, uma corrente de grama trançada, onde estava presa uma água-marinha.

— Você está enganada, Noroelle — disse Farodin com voz suave. — Somos nós mesmos!

— Nós viemos para libertá-la — completou Nuramon.

Noroelle balançou a cabeça, incrédula. Não era possível! Emerelle deixara-lhe claro que não haveria esperanças. Como os seus amados teriam encontrado um caminho até ela? Aproximou-se dos dois com receio; então parou e fitou-os longamente antes de estender as mãos trêmulas para eles. Passou-as por seus rostos, prendendo a respiração. Seu olhar vagueava entre suas mãos, para lá e para cá. Simplesmente não podia acreditar que estava realmente tocando as faces de seus amados. Acariciou a única mecha branca no cabelo de Nuramon. Ele estava mudado. Farodin, por sua vez, estava exatamente como antes.

— O que vocês tiveram de enfrentar para chegar até aqui? — Ela soltou-se de seus amados e deu um passo para trás. — Que horrores vocês tiveram de atravessar para me salvar? — disse, começando a chorar.

Nuramon e Farodin seguraram suas mãos, mas não ousaram dizer nada. Somente contemplaram Noroelle. Doía-lhes ver suas lágrimas correrem.

— Desculpem — disse a elfa. — Vocês vêm até mim e eu choro como se fosse um desastre. — Ela sorriu com esforço. — Mas entendam que eu jamais...

Nuramon pousou suavemente o dedo sobre a boca de Noroelle.

— Nós a entendemos!

Ela beijou a mão de Nuramon, e depois a de Farodin. Então sorriu aliviada.

— Levem-me para fora, para o Outro Mundo, meus amados! Deem um fim nisso!

Farodin e Nuramon caminharam lentamente, com ela entre eles, através da floresta.

De repente, Nuramon parou.

— O que foi? — perguntou Farodin.

Nuramon fitou Noroelle nos olhos.

— Nossa busca está no fim. — Lentamente sacou a espada de Gaomee. — Eu carrego esta arma desde aquela noite antes da partida da Caçada dos Elfos. Ela me acompanhou por toda a nossa longa viagem. Mas agora começa um novo caminho.

Ele fincou a arma no chão. Então retornou para o lado de Noroelle e Farodin, para seguir em direção à estrela alba.

O olhar de Noroelle passeava entre seus dois amados. Tanto tempo havia se passado, mas para ela era como se os três tivessem estado há pouco sentados junto a seu lago, sob a sombra das tílias.

Nuramon não conseguia acreditar na sua felicidade. Tocar sua amada novamente depois de todos aqueles anos, ouvir sua voz, ver o seu semblante e sentir o seu perfume! Mesmo que tivesse acreditado firmemente que um dia estaria ali e poderia viver exatamente o que acontecia agora, de repente lhe parecia que tudo aquilo só podia ser um sonho.

Para Farodin, foi inevitável pensar em como ele e Noroelle tinham vivido o tempo de forma diferente. Para ele, somente poucos anos haviam se passado; para Noroelle, séculos. Não teria se admirado se ela estivesse diferente. Para a sua surpresa, tinha a sensação de que ainda era a mesma daquela época, quando se despediram antes da Caçada dos Elfos.

Eles deixaram a ilha, caminharam pelo mar de névoa e chegaram à estrela. Nuramon e Farodin estavam prestes a abrir o portal novamente, quando Noroelle os deteve.

— Deixem-me fazer esse feitiço.

Ela lembrou-se da última vez que o fizera. Havia aberto o portal para fugir com seu filho para o mundo dos humanos.

Farodin e Nuramon recuaram e contemplaram sua amada. O Carvalho dos Faunos ensinara-lhes muito da arte de Noroelle.

Ela olhou para cima. Não havia sol. Teria de fazer sem a ajuda do astro. Então fechou os olhos, sentiu as trilhas albas e deixou seus próprios poderes mágicos fluírem por seu curso. Conseguia sentir a magia se espalhar sobre as trilhas à sua volta. Então abriu os olhos e sorriu.

Farodin e Nuramon ficaram surpresos ao perceber que tudo ao redor deles se transformava. Foi ficando mais claro; a névoa desapareceu e o chão deformou-se levemente. Ao longe, florestas e montanhas saíram da escuridão e a ilha cercada de luz verde transformou-se na ilha do mundo dos humanos. O céu tornou-se azul-escuro. Estava anoitecendo, as estrelas surgiam no céu. Nuramon e Farodin estavam ali de pé, admirados. Como o feitiço dos portais de sua amada era poderoso!

Noroelle inspirou profundamente.

— É maravilhoso.

Ela viu a ampulheta no círculo de mariscos, apanhou-a e foi em frente até a ilha. Parou junto à pedra, e olhou de volta para a estrela alba.

— A rainha estava aqui quando abriu o portal e me mandou embora. Ela quebrou a ampulheta na pedra e a areia se espalhou. Agora esse ciclo também se fecha. — E apontando para a floresta: — Ali, na pequena clareira, Emerelle me disse que todas as esperanças deveriam ser esquecidas. Eu perderia tudo, até mesmo o luar. E ela me disse isso tão afetuosamente, como se não fosse ela quem me proferia a sentença... Vamos até lá!

Ela avançou. Seus amados pegaram as bolsas que haviam deixado na borda da floresta e a seguiram.

Chegaram à clareira do outro lado da ilha. Ali Farodin e Nuramon tinham há muito tempo armado seu acampamento com os companheiros. Nada lembrava mais aquilo.

— Vamos nos sentar aqui — disse Noroelle. Ela tomou as mãos dos amados e, juntos, sentaram-se na grama alta. — Contem-me tudo o que vocês viveram. Tudo. Eu gostaria de saber.

Nuramon tirou de sua bolsa duas pedras de barin que Wengalf lhe dera na última noite e colocou-as na grama. Lançou um olhar de interrogação para Farodin, que consentiu com a cabeça. Então começou:

— Quando nós atravessamos o portal junto a Atta Aikhjarto e viemos para o Outro Mundo, percebi o quanto estes campos são diferentes da nossa pátria. O ar era turvo e, à primeira vista, as coisas não pareciam se encaixar. Nós encontramos a pista do homem-javali. No entanto, quando a noite veio e acampamos em uma floresta, começou o desastre.

Farodin escutava as palavras de Nuramon e foi ficando totalmente envolvido. Seu companheiro narrava com uma voz que não se podia comparar a nenhuma outra. Invejava-o um pouco por isso. Sem hesitar, Nuramon descreveu a Noroelle em todos os detalhes os eventos e horrores daquela noite. Farodin podia ver no rosto da amada o quanto a narrativa a sensibilizava. Ela agarrava a água-marinha que usava na corrente trançada e, o tempo todo, prendia a respiração. A narração da cura de Farodin pelas mãos de Nuramon a fez tremer. E Farodin sentia seu próprio coração batendo forte. Nunca vira aquela história da forma como agora era narrada por seu companheiro. Quando falou do retorno para a Terra dos Albos, de Obilee e sua recepção no terraço, Nuramon perguntou como Farodin vivenciara aquele momento. A partir daí, os dois companheiros alternaram-se para narrar a história.