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A atenção de Noroelle se prendia a cada palavra que seus amados pronunciavam. Logo estavam se revezando de forma tão harmônica que parecia que tinham estudado a grande epopeia cada dia do último século. Quando lhe contaram dos sofrimentos pelos quais passaram, os olhos dela enchiam-se de lágrimas. E, quando contavam dos casos de Mandred, então era-lhe inevitável sorrir, mesmo quando os episódios eram fortes e seus amados eram obrigados a dizer palavras que outrora a teriam chocado. Narraram até tarde, noite adentro.

Foi Nuramon quem terminou:

— A rainha nos disse que nós três seríamos os últimos filhos de albos no Outro Mundo. Em seguida, atravessamos o portal. A trilha para a Terra dos Albos desvaneceu e, com o passo que demos para o Mundo Partido, a nossa busca terminou. E essa é a história de Noroelle, a feiticeira; de Farodin, o grande herói; de Nuramon, a alma antiga; e de Mandred Torgridson, o filho de humanos.

Ficaram um tempo calados, olhando uns para os outros Noroelle queria que esse momento pudesse durar para sempre. Deixava os acontecimentos passarem mais uma vez diante dos olhos.

— Eu queria poder agradecer a Mandred! Eu só o vi rápidamente, mas as palavras de vocês também o tornaram um companheiro meu. Talvez as portas do luar realmente estejam abertas para os humanos. E vocês dois, meus queridos, fizeram mais do que qualquer um poderia esperar. Eu lhes dei as pedras para protegê-los do devanthar. Jamais teria esperado que vocês procurariam por mim e me libertariam. — Ela afastou uma mecha de cabelo do rosto. — Estou feliz por vocês, pois serão para sempre heróis na Terra dos Albos. Estou contente principalmente por você, Nuramon. Você encontrou a sua memória e agora sabe o que eu sempre senti: que você é mais do que parece. Ao longo de todos os anos, lá no meu pequeno mundo, eu aprendi a olhar para dentro de mim mesma. Também sou mais do que pareço, pois carrego em mim a alma de uma elfa que morreu.

Com isso Nuramon não contara.

— Você também se lembra das suas vidas anteriores?

— Sim. Antes eu me chamava Aileen. Como muitos outros, eu morri nas Guerras dos Trolls, junto à Shalyn Falah. Dolgrim, o duque dos trolls, foi quem me matou.

Farodin desviou o olhar de Noroelle. Sua amada se lembrava da vida anterior! Então também devia se lembrar dele.

Noroelle acariciou a face de Farodin.

— Por que não me disse? Por que não disse que carrego a alma de Aileen em mim?

— Eu não queria que você me amasse por causa de um antigo compromisso.

— Então você silenciou pelo motivo certo. Naquele tempo, prometi amor eterno a você. Mas eu era Aileen, e como Noroelle fiz novas promessas a vocês dois. Eu disse a vocês que tomaria a minha decisão quando retornassem da Caçada dos Elfos. E então eu a deixei em aberto, porque pensei que jamais reveria vocês. Queria poder escolher vocês dois. Agora, que nós somos os únicos filhos de albos neste mundo, este certamente seria um caminho prudente. Mas para mim foi revelado a quem meu coração pertence, e o que acontecerá se eu me declarar para ele.

Farodin ficou inquieto. Tinham se preocupado com Noroelle por tanto tempo que sua decisão havia se tornado menos importante. Agora eles retornavam ao caminho onde tinham estado naquela época do início da Caçada dos Elfos. E não havia mais segredos entre eles. Agora tudo se decidiria: a busca dele por Aileen, e depois a busca por Noroelle... Enfim, se colheria o que plantou a vida inteira.

Nuramon ainda estava surpreso por Farodin já ter conhecido Noroelle como Aileen. Lembrou-se da briga em Iskendria, quando fizera muitas acusações ao amigo por não ter sido capaz de se abrir para Noroelle por tanto tempo. Agora ele entendia o porquê de ele ter agido assim.

— Vejo o quanto minhas palavras mexeram com vocês — disse Noroelle. — Vocês dois mereceriam ter um amor realizado. Quem poderia ter ido tão longe quanto vocês? Qual amada de trovador um dia já recebeu uma dedicação como essa? Mas eu não posso amar por gratidão.

Então, segurou a mão de Farodin e continuou:

— Você é o homem que eu amei na época em que era Aileen. Você era tudo o que eu queria naquele tempo. Mas já faz muito tempo que sou Noroelle. E Noroelle é muito mais do que Aileen já foi. Encare-me como uma elfa que mudou ao longo dos séculos; que não continuou a mesma. Até você mudou desde que nos despedimos na partida da Caçada dos Elfos. Você não esconde mais os seus sentimentos.

Agora era a mão de Nuramon que ela segurava:

— E você cresceu como eu sempre desejei. Como eu, agora você é muito mais do que naquele tempo. Eu consigo entender como você se sentiu quando suas lembranças vieram à tona. A pergunta é: será que naquela época Farodin e eu fomos destinados um para o outro? Ou será que já tivemos o nosso tempo? E será que Aileen era a amada de Farodin, e Noroelle é a de Nuramon? Eu conheço a resposta. Depois de todos esses anos que passaram, vocês devem ouvi-la.

Ela olhou em volta na clareira.

— Aqui a rainha me revelou que um de vocês é o meu destino. Ela me disse: “Qualquer que fosse aquele que você escolhesse, com ele você iria para o luar. Mas agora isso jamais acontecerá”. Eu não sei se na época a rainha já sabia como isso terminaria. Mas agora vocês estão aqui, e o que uma vez já me pareceu impossível de acontecer está para se tornar realidade. Eu fiz a minha escolha. É você...

Ela olhou para Farodin, e ele não soube se isso era bom ou ruim. É você! Será que ele era o seu escolhido ou aquele que ela recusava? Seu coração pulava.

— O destino nos fez um para o outro, desde o primeiro dia — completou Noroelle. — Nós partiremos para o luar juntos.

Um peso enorme saiu dos ombros de Farodin. Aquele era o momento pelo qual esperara a vida toda. Lágrimas vieram-lhe aos olhos. Ele olhou para Nuramon e viu o olhar vazio de seu companheiro.

As palavras de Noroelle ainda ecoavam nos pensamentos de Nuramon. Ela partiria para o luar com Farodin? E ele ficaria ali, sozinho, separado para sempre da Terra dos Albos? Ficaria prisioneiro em um mundo imenso. Estava dominado por seus sentimentos. Desespero e medo fizeram lágrimas surgirem em seus olhos.

Noroelle aproximou-se dele e pousou a mão sobre seu ombro.

— Eu sinto muito, Nuramon — disse em voz baixa.

Para ele, foi difícil encará-la. Mas, ao olhar em seus olhos azuis, retornaram todas as lembranças dos dias à margem de seu lago. Ele vivera vinte anos com a sua afeição e salvara sua amada junto com Farodin.

Noroelle enxugou as lágrimas dele.

— Eu não sou o seu destino, Nuramon. Eu não sou o seu caminho para o luar. Eu o amo como amo Farodin. Mas você não é a minha determinação. E dói em mim saber que você enfrentou todo esse caminho para terminá-lo sozinho. Você me contou sobre Obilee. E eu agradeço pelo momento que você deu a ela e pelas doces palavras que soube lhe dizer. É como um punhal em meu coração saber o quanto ela te ama e como sente a sua falta. Agora, mundos diferentes os separam; mundos que jamais se reencontrarão. E isso tudo por minha causa! Isso eu nunca serei capaz de consertar.

Nuramon acariciou os cabelos de Noroelle.

— Você já fez isso. Só por ter podido vê-la mais uma vez, tudo o que passei valeu a pena.

— Você precisa seguir o caminho que é somente seu. Olhe para dentro de você! Verá que o seu destino é marchar pelos séculos. Não somos nós três os últimos filhos de albos neste mundo. É você.

Ela beijou-o e acariciou sua face. Então soprou-lhe:

— Logo serei só lembrança, exatamente como todo o resto. — Beijou-o novamente: — Eu te amo. Jamais se esqueça, Nuramon!

Ela soltou-se dele e dirigiu-se a Farodin:

— Você esperou por mim tanto tempo. E agora estou desperta, e me lembro de tudo que já aconteceu um dia. — Ela olhou para cima: — Ali! O fim está próximo! A lua está brilhando clara! E eu sinto que está nos chamando, Farodin. É hora de nos despedirmos. Venha!