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Mandred guiou seu cavalo até a borda do penhasco, dando a impressão de querer atirá-lo profundezas abaixo. Aparentemente o vilarejo do outro lado do fiorde exercia sobre ele uma enorme força de atração. Devia ser essa a aldeia sobre a qual ele falara na corte.

— Encontrei o rastro! — gritou Brandan. — Está muito fresco, como se o tal homem-javali tivesse estado aqui agora mesmo.

O lugar era exposto ao vento e lá em cima não havia nada para comer. O que teria mantido a besta ali por tanto tempo? Teria ficado esperando? Nuramon não conteve um sorriso. É claro que era loucura.

— Mandred! — chamou Farodin, com uma voz cortante.

O filho de humanos se juntou a eles, puxando as rédeas e afastando sua égua do penhasco.

— Desculpem. Eu só precisava saber como estão os meus semelhantes. A besta parece ainda não ter atacado Firnstayn.

Ele tomou a dianteira do grupo e conduziu-o penhasco abaixo. A alcateia caminhava dispersa na frente deles. Eles também haviam encontrado a pista do homem-javali.

Embora o rastro claramente conduzisse para longe da aldeia, Nuramon tinha a impressão de que o filho de humanos ficava mais inquieto a cada momento.

— Há algo de errado, Mandred? — perguntou a ele.

— Os cavalos — murmurou o guerreiro, com a voz sufocada. — Eles são enfeitiçados, não são?

Nuramon não entendeu o que ele queria dizer.

— Por que enfeitiçaríamos os cavalos?

— Eles não afundam na neve. Não pode ser. Aqui a neve está pelo menos na altura dos joelhos.

Nuramon percebeu Farodin e Brandan sorrirem um para o outro. Sabiam de alguma coisa?

— E por que os cavalos deveriam afundar na neve?

— Porque assim é! — Mandred refreou a égua. — Se os cavalos não estão enfeitiçados, então é a neve que está — ele se jogou da sela e num instante afundou na neve até os joelhos.

Brandan riu.

— Eu não acho engraçado — interferiu Aigilaos, correndo até Mandred e deixando pegadas profundas atrás de si. — Esses orelhas pontudas estão se divertindo às nossas custas. Até hoje não entendi como eles conseguem andar sobre a neve. Feitiço com certeza não é. E também não depende de os cavalos terem ou não ferraduras.

Nuramon esperava que o filho de humanos ficasse ofendido, mas de repente um brilho reluziu em seus olhos.

— Vocês acham que a rainha me daria o cavalo de presente quando nós voltarmos?

— Se você tiver êxito, talvez, humano — opinou Farodin.

— Vocês acham que um dos meus garanhões poderia cruzar com essa égua?

Aigilaos deu uma gargalhada relinchante.

Nuramon achou a ideia bizarra. O que o filho de humanos estava pensando?

— Não podemos ficar aqui à toa, fazendo piada — advertiu Vanna. — Logo vai começar a nevar. Precisamos prosseguir, senão vamos perder o rastro.

Mandred montou e o bando pôs-se novamente em movimento, seguindo o rastro. Nuramon percorreu as terras com os olhos. Imaginara o mundo dos homens de outra maneira. Aqui a neve era rígida e áspera, e as cadeias de montanhas tinham saliências tão irregulares que era difícil gravar a paisagem na memória. Nada parecia combinar com nada. Como encontrariam o homem-javali neste caos? Mil coisas atraíam o seu olhar, por serem diferentes de como eram na Terra dos Albos.

Todas essas novas impressões deixavam Nuramon cansado. Ele esfregou os olhos. Este mundo parecia vasto demais para o olhar. Quando via uma árvore, mal conseguia observá-la como um todo, de tanto que as suas particularidades o atraíam. Também era difícil estimar as distâncias — as coisas pareciam estar mais próximas do que de fato estavam, dando-lhe a impressão de que este mundo era muito apertado. Agora entendia por que a rainha convocara Mandred como líder. Tudo isso era familiar para ele.

O grupo seguiu a pista da besta durante todo o dia. Eles cavalgavam rápido quando seguiam o rastro numa campina aberta e cautelosamente quando adentravam bosques ou passavam por terrenos pedregosos. Estavam sempre prestes a dar de cara com o alvo. Ao menos era essa a impressão que Nuramon tinha.

Nas últimas horas, Brandan enfatizara que o rastro do homem-javali lhe parecia estranho. Simplesmente tinha a impressão de ser sempre fresco demais. Era como se a neve se recusasse a cair sobre suas pegadas. Isso deixava Nuramon inquieto, e Lijema também tinha no rosto uma expressão preocupada. Os outros pareciam levar o aviso de Brandan a sério, mas nenhum deles parecia duvidar de que cumpririam a sua missão. A Caçada dos Elfos partira, e agora os lobos, que corriam com gosto, causavam em Nuramon a sensação de que nada nem ninguém poderia detê-los, mesmo neste mundo esquisito.

À tarde a neve deu uma trégua aos caçadores. As pegadas levavam para dentro de um bosque denso, onde a besta podia estar à espreita em qualquer lugar. Mandred, então, ordenou que deveriam encontrar um lugar para acampar. Brandan memorizou a direção das pegadas e então seguiu Mandred. A expressão de Farodin tornou-se estranhamente desconfiada, tanto que Nuramon não foi capaz de interpretá-la direito.

Chegaram à borda da floresta e ali montaram seu acampamento. Aigilaos estava com fome e queria caçar de qualquer jeito. Ele seguiu algumas pegadas acompanhado por Brandan.

Nuramon e Farodin apearam. Vanna, a feiticeira, fez uma pequena fogueira no meio do acampamento. Seus pensamentos pareciam estar longe. Algo a preocupava. Lijema e Mandred se ocuparam dos lobos. A mãe dos animais esclareceu ao filho de humanos tudo o que ele queria saber. Estavam calmos, o que Nuramon via como um bom sinal.

Farodin soltou uma das selas e então parou para respirar.

— Foi assim que você imaginou a Caçada dos Elfos?

— Para dizer a verdade, não.

— De fora tudo parece sempre bem mais bonito e reluzente. Nós seguimos a pista da nossa presa, a abatemos e, em seguida, retornamos até a nossa soberana. No fundo é muito simples.

— Você já esteve aqui no mundo dos homens, não?

— Sim, várias vezes. Lembro-me da última vez. Tivemos de encontrar um traidor e levá-lo até a rainha. Foi como agora. Mal atravessamos o portal, também já encontramos a pista. Poucas horas mais tarde já estávamos no caminho de volta. Mas não foi uma Caçada dos Elfos de verdade.

— E então? Para você o Outro Mundo parece tão estranho quanto para mim?

— Você está falando da sensação de aperto?

— Sim, exatamente disso.

— É por causa do ar. A rainha me explicou uma vez. O ar daqui é diferente. Não é tão puro quanto o nosso.

Nuramon refletia.

— Aqui tudo é diferente — prosseguiu Farodin. — É em vão querer encontrar a beleza e a pureza da Terra dos Albos. As coisas não combinam. — Ele apontou para um carvalho. — Aquela árvore não combina com esta aqui — disse, tocando o carvalho que havia perto de si. — Na nossa terra as coisas são diferentes, mas estão sempre em harmonia. Não é de surpreender que os homens achem os nossos campos tão lindos.

Nuramon se calou. Apesar de tudo isso, achava o Outro Mundo fascinante. Aqui havia muito a descobrir. E, uma vez conhecendo o segredo deste mundo, então talvez seria possível encontrar harmonia nele.

— Para Mandred tudo parece estar em harmonia — disse baixinho, e lançou um olhar rápido sobre o filho de humanos.

— Mas ele não tem os sentidos apurados como os nossos.

Nuramon concordou com a cabeça; Farodin tinha razão. Mas... Talvez houvesse uma ordem por trás de tudo ali, cuja compreensão exigisse sentidos ainda mais apurados — mais até que os dos elfos.

Quando todo o trabalho já tinha sido feito, Nuramon sentou-se e deixou seu olhar passear pela paisagem. Farodin juntou-se a ele, oferecendo-lhe amoras da sua bolsa.

Nuramon ficou surpreso.