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Quando Nuramon alcançou os companheiros, viu sob a luz das pedras de barin que Vanna estava curvada sobre Lijema. Quando a feiticeira se ergueu, Nuramon pôde ver que a mãe dos lobos tinha o peito destroçado. Algo havia perfurado o seu corpo e despedaçado coração e pulmões. Seus olhos ainda brilhavam, mas a face estava paralisada numa máscara horrorizada de morte. Vanna pressionou seu rosto carinhosamente contra o dela.

— O que aconteceu? — perguntou Farodin.

Vanna continuou calada.

Farodin agarrou a feiticeira pelos ombros e chacoalhou-a de leve.

— Vanna!

Com os olhos arregalados, ela parecia olhar através de Farodin. Apontou para o lado.

— Ali atrás da árvore está Brandan. A besta o pegou...

Vanna não terminou a frase.

Nuramon pôs-se em marcha. Queria chegar a Brandan o mais rápido possível. Tinha medo, pois não podia evitar pensar em Aigilaos. Enquanto isso, Mandred e Farodin começaram a discutir. O filho de humanos queria perseguir a besta, mas Farodin não queria permitir. Como eles eram capazes de brigar por algo assim agora? Talvez Brandan ainda estivesse vivo!

Nuramon chegou aos limites da floresta e encontrou Brandan. O descobridor de rastros estava deitado no chão. Tinha leves feridas nas têmporas e na perna. De fato, estava inconsciente, mas respirava lentamente e seu coração ainda batia. Nuramon pôs suas mãos mágicas sobre os ferimentos na cabeça e na perna. Sentiu o formigamento começar e logo seguiu-se a dor. Por fim, as feridas cicatrizaram sob seus dedos. Isso devia bastar por enquanto. Mais tarde o curaria completamente.

Com esforço, Nuramon tomou Brandan nos braços e, com passos pesados, começou a voltar até os outros. Graças ao peso extra, seus pés afundavam na neve. Ouviu a voz paciente de Farodin tentando convencer Mandred.

— A fera está brincando conosco. Não devemos nos deixar levar e fazer qualquer coisa sem pensar direito. Amanhã vamos atrás dela!

— Como quiser — retrucou Mandred, contrariado.

Quando viram Nuramon, foi visível o medo que os tomou. Andaram ao seu encontro.

— Ele está...? — balbuciou Mandred.

— Não, ele está vivo. Mas precisamos levá-lo até o acampamento.

Calados, Farodin, Vanna e Mandred deixaram a clareira.

O caminho de volta até o acampamento foi cansativo. Mandred carregou Brandan, enquanto Farodin e Nuramon levaram o corpo de Lijema. Deixaram os lobos onde estavam. Durante o percurso, Mandred tentou acordar Brandan. Mas o descobridor de rastros estava profundamente inconsciente.

Chegando ao acampamento, Farodin se encarregou de Lijema, embrulhando seu corpo em um cobertor. Mandred e Vanna sentaram-se perto do fogo, atentos aos sons da floresta. Nuramon os observava enquanto a cabeça de Brandan descansava sobre suas mãos, recebendo a sua magia. A postura do filho de humanos e da feiticeira dizia mais do que qualquer palavra. Dois membros da Caçada dos Elfos estavam mortos; seus lobos que não haviam morrido estavam desaparecidos.

Nuramon observou a lua. O que sua avó disse estava certo. Só se podia ver metade do astro, e ela era muito menor do que na Terra dos Albos. Voltou a pensar na conversa que teve com Noroelle. O que acontecia quando se morria na reino dos homens? Esperava que Lijema pudesse renascer. Quanto aos centauros, ele realmente não sabia. Alguns filhos de albos dizem que eles vão direto para o luar ao morrerem. Esperava que as almas dos seus colegas mortos não estivessem perdidas.

Quando a dor se arrastou do corpo de Brandan para suas mãos, Nuramon fechou os olhos e pensou em Aigilaos. Farodin estava certo: ele já não podia ser salvo. Em seguida, pensando em em Noroelle e na promessa que fizera, questionou-se sobre a culpa pela morte do centauro. Talvez com um pouco mais de esforço tivesse conseguido salvá-lo.

A dor desvaneceu de repente e Nuramon abriu os olhos. Farodin, Mandred e Vanna estavam ao seu lado, com a preocupação estampada em seus rostos. Ele soltou Brandan.

— Não tenham medo. Está tudo bem.

Pouco depois, Brandan despertou. Todos ficaram aliviados. Ele se sentia cansado, mas conseguiu contar o que aconteceu.

— De repente a besta estava lá, com aquele fedor. Foi como se eu estivesse paralisado. Não consegui fazer nada. Nada!

Ele fora golpeado pela fera até ficar inconsciente e serviu de isca para os demais. A última coisa de que se lembrava era de um terrível grito de agonia.

Nuramon contou a Brandan e Vanna o que aconteceu com Aigilaos. Descreveu o seu fim em todos os detalhes, omitindo somente que Aigilaos suplicara-lhe a morte. Os rostos dos companheiros refletiam puro horror.

Farodin sacudiu a cabeça.

— Há alguma coisa de estranho com esse tal homem-javali. Ele é mais que uma fera grosseira.

Mandred retrucou:

— Seja o que for, só vamos conseguir acabar com ele se não nos separarmos mais. Vamos nos revezar para ficar de guarda para não sermos surpreendidos por esse porco maldito.

Antes que decidissem sobre o primeiro turno da guarda, dois lobos voltaram ao acampamento, em silêncio e com o rabo entre as pernas. Não estavam feridos. Mandred ficou feliz em vê-los e acariciou a cabeça de um deles. Vanna se encarregou do outro. Os lobos estavam esgotados e fediam como o homem-javali.

— O que é aquilo ali? — perguntou Farodin, apontando para o focinho do lobo que estava com Mandred.

Para Nuramon, parecia sangue.

O filho de humanos examinou melhor.

— É sangue congelado. Vejam como é claro!

Nuramon percebeu um brilho prateado, mas não era capaz de dizer se era por causa do gelo.

Todos observaram melhor o sangue. Mandred então disse:

— Então é possível ferir a besta. Amanhã vamos descobrir onde ela está e dar o troco!

Farodin sacudiu a cabeça, resoluto. Nuramon e Brandan também concordaram.

Só Vanna não respondeu. Observava o focinho do seu lobo, que também parecia ensanguentado.

— O que há com você?

A feiticeira ergueu-se, deixou o lobo e se colocou entre Nuramon e Farodin. Tinha uma expressão preocupada, e inspirou profundamente.

— Ouçam bem. Esta Caçada dos Elfos não é como as outras. E não estou dizendo isso porque falhamos terrivelmente e dois companheiros estão mortos.

— O que isso quer dizer? — perguntou Mandred. — Você está sabendo de algo que não sabemos?

— No início era só uma suspeita. Ela me parecia tão equivocada que não disse nada, assim descartei-a de imediato. Eu sentia uma presença diferente, que me era familiar. Quando estávamos na pista da besta, prestei atenção no seu cheiro. E de novo tive aquela sensação, mas apenas o mau cheiro não era uma prova suficiente. Quando finalmente fiquei de frente com ela e vi como os lobos a enfrentavam; quando eu olhei nos seus olhos azuis e ela lançou mão de sua magia para ferir Lijema dessa forma, então eu soube com o que estamos lidando. Eu ainda não queria acreditar. Mas agora que estou vendo esse sangue não há mais dúvida... — Ela se calou.

— Do quê? — pressionou Mandred.

— Talvez isso não diga muita coisa para você, Mandred, mas a criatura que você chama de homem-javali não é nada mais do que um devanthar, um ser demoníaco do tempo dos albos.

Nuramon estava perplexo. Não era possível! O mesmo horror que ele sentia estava estampado no rosto de Farodin e Brandan. Era verdade que Nuramon sabia muito pouco sobre os devanthares, mas diziam que eram seres das sombras que praticavam tão somente o caos e a destruição. Os albos os combateram e os exterminaram. Era o que as lendas contavam; mas nelas só havia poucas palavras dedicadas a aqueles demônios. Diziam que eles podiam mudar de aparência e que eram feiticeiros poderosos. Provavelmente só a rainha sabia realmente do que se tratava. Mas Nuramon não achava que Emerelle os enviaria se soubesse que o alvo da caçada era um ser das sombras como esse. O que Vanna disse não podia ser verdade!

Farodin encarou a feiticeira com uma expressão neutra e disse o que Nuramon estava pensando:

— Isso é impossível! Você sabe.