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Noroelle beijou o filho e sussurrou baixinho:

— Nuramon... Espero estar fazendo o certo. É a única possibilidade. Tenha uma boa vida, meu filho.

Ela tirou o bebê da invisibilidade e colocou-o diante da porta. Ele continuou em silêncio e fitava-a fixamente com seus grandes olhos. Só quando Noroelle se voltou e deu os primeiros passos para longe, ele começou a chorar. Os olhos dela encheram-se de lágrimas. Mas precisava ir! Era para o bem dele.

Noroelle escondeu-se atrás de uma árvore próxima. O choro da criança era de cortar o coração! Por um momento ela cogitou apanhá-lo e permanecer com ele neste mundo para sempre. Mas a rainha a seguiria. Noroelle sabia que precisaria usar sua mágica se quisesse vencer no mundo dos humanos. Mas cada feitiço fazia as trilhas albas oscilarem. E logo ela atrairia a atenção dos capangas da rainha para si. Seu filho, em contrapartida, ainda era muito pequeno para usar os poderes que Noroelle sentia nele. E, como no mundo dos humanos não haveria nenhum mestre para instruí-lo, o seu dom aparentemente jamais despertaria. Então, ele permaneceria livre da fúria da rainha.

De seu esconderijo, Noroelle viu quando a porta da casa se abriu e alguém veio para fora. Era uma mulher. Curiosa e ao mesmo tempo aflita, a elfa observou aquela que poderia se tornar a nova mãe do pequeno Nuramon. A mulher de fato vestia roupas grossas, mas dava a impressão de, mesmo nua, ter quadris e ombros muito largos. Noroelle não pôde evitar pensar em Mandred. Aparentemente, esse porte robusto era característico dos humanos.

A filha de humanos fez uma cara de surpresa e olhou em volta, desconfiada. Certamente se perguntava quem teria sido capaz de deixar seu filho diante da porta e desaparecer sem deixar rastro. Curvou-se hesitante sobre o bebê de Noroelle. O rosto da mulher parecia duro. Tinha um nariz de batata e olhos pequenos. Mas, ao se inclinar sobre o bebê, sorriu, exibindo o calor de seu coração refletido no seu semblante. A filha de humanos consolou o bebê numa língua que Noroelle não dominava. Mas as palavras soavam tão amáveis que acalmaram a criança. A mulher procurou ao seu redor mais uma vez, e então levou o menino para dentro da casa.

Mal a porta se fechou, Noroelle deslizou de volta até a casa e espreitou pela janela. Queria se sentir segura de não ter se enganado a respeito da mulher, mesmo que soubesse que não poderia permanecer o suficiente para ter certeza absoluta.

Noroelle ouviu a mulher falar com nítida alegria.

Também havia um homem, que parecia menos contente. Sua voz estava repleta de dúvidas. Mas, depois de um tempo, ele pareceu mudar de opinião. Ainda que as palavras dos humanos parecessem grosseiras aos ouvidos de Noroelle, ela sentia que seu filho ali estava seguro. Agora, ela só precisaria cuidar que a rainha não encontrasse seu bebê.

Ela retornou para a proteção da árvore. Na verdade, havia planejado retornar ao lugar em que chegou ao Outro Mundo. Mas agora mudara de ideia. Ela queria dificultar a descoberta de seu caminho o quanto fosse possível. Durante um dia e uma noite, ela se distanciaria o máximo possível dessa cabana torta, e só então atravessaria para a Terra dos Albos com a ajuda de seu feitiço do sol. Uma vez nas trilhas albas, ela tomaria o caminho mais curto até a corte para se apresentar à soberana.

A sentença da rainha

Os guerreiros encontraram Noroelle junto ao Carvalho dos Faunos. Ela entregou-se a eles sem resistir, mas também sem revelar onde a criança se encontrava.

Os espadachins a conduziram ao castelo da rainha. À frente, ia o comandante; chamava-se Dijelon, um guerreiro tão leal que estaria pronto para renunciar a si mesmo a qualquer hora. Tinha ombros excepcionalmente largos para um elfo, que nem o longo traje azul nem os cabelos negros conseguiam disfarçar. Quando o portão da sala do trono abriu-se diante deles, Dijelon deteve-se. Mestre Alvias estava à sua frente. O velho não dignou-se a olhar para Noroelle.

— Siga-me — disse ele a Dijelon. — Ao restante de vocês peço que esperem aqui.

A conduta de Alvias não surpreendeu Noroelle. Tratavam-na abertamente como uma inimiga. Então permaneceu em pé sob o arco do portão e lançou um olhar para o salão. Quase todos os membros da corte estavam ali reunidos. Todos queriam presenciar a chegada da feiticeira decadente. Até o nascimento do filho, sua boa reputação crescera continuamente, mas num só golpe tudo estava acabado. Só as árvores não se haviam impressionado com a cólera da rainha. O Carvalho dos Faunos dera-lhe a sensação de que tudo acontecera rápido demais para que ela pudesse ponderar adequadamente sobre isso.

Noroelle olhou para as paredes. A água retumbava em cascatas espumantes. Evidentemente, a rainha queria assegurar que Noroelle soubesse a força que a esperava na sala do trono. Mas isso sequer era necessário. Noroelle sabia muito bem que ninguém na Terra dos Albos podia se comparar à soberana.

— Nós a encontramos no Carvalho dos Faunos. — Ela ouviu o guerreiro dizer. — Não quis nos dizer onde está a criança.

A água nas paredes secou e um silêncio terrível recaiu sobre a sala.

— Então Noroelle, a feiticeira, retorna.

A voz da rainha mantinha-se baixa, mas atravessava todo o salão até ela.

— E ela não faz ideia do quão grande é o mal que nos trouxe. Diga-me apenas um motivo para que eu ainda permita a sua entrada na minha sala do trono, Noroelle!

— Para que você, com sua sentença, volte a me banir dela.

— Então você compreende que fez algo abominável?

— Sim. Eu me opus a você. E isso é algo que ninguém sob a sua proteção deve fazer. Não estou aqui somente para receber uma sentença, mas também para fazer uma acusação.

Um murmúrio atravessou o salão. Ninguém na Terra dos Albos desafiara a rainha em sua corte assim, tão abertamente. Mas Noroelle não estava disposta a se calar e omitir o que Emerelle quisera fazer com seu filho. Ela estava surpresa que a rainha estivesse realizando esse encontro assim, publicamente. Tudo seria revelado dessa maneira.

— Então ponha-se diante do trono da Terra dos Albos, se você ousa.

Noroelle hesitou, mas atravessou o portão e foi ao encontro da rainha. Desta vez, os olhares de todos pelos quais passava não importavam para ela. Curvou-se diante da rainha e olhou rapidamente para o lado. Perto de mestre Alvias estava Obilee. Sua amiga tinha uma expressão desesperada, parecia à beira das lágrimas.

— Antes de me decidir sobre você, ouvirei o que tem a dizer — disse a rainha, com toda a sua frieza. — Você diz que deseja acusar alguém. De quem se trata?

Obviamente de Emerelle! Mas Noroelle não queria se atrever a atacar diretamente a rainha diante de toda a corte.

— Eu acuso Dijelon — disse ela, em vez disso. — Pois há três dias ele esteve em minha casa para matar o meu filho.

Noroelle viu o guerreiro ficar paralisado. Ela sabia que ele agira obedecendo ordens da rainha e estava ansiosa para saber até que ponto ia a sua lealdade.

A rainha olhou rapidamente para Dijelon e então novamente para Noroelle, como se quisesse pura e simplesmente verificar que o guerreiro ainda estava presente.

— E ele conseguiu?

— Não.

— E, em sua opinião, o que devo fazer, Noroelle? Nesse caso, aconselhe-me.

— Não quero nenhuma compensação e também não quero ver Dijelon punido. Só quero saber por que ele queria acabar com a vida de meu filho.

— Mas agora, Noroelle, a lealdade de Dijelon o proíbe de falar, então vou responder em seu lugar: foi uma ordem minha. — Um cochicho começou entre os membros da corte. — Mas penso que essa resposta não será suficiente para você, não é verdade? Você está se perguntando como eu, rainha de todos vocês, pude ordenar o assassinato de um filho de albos.

— É isso mesmo.

— E se ele não fosse um filho de albos, mas...