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Mandred encontrou a pedra sepulcral branca no flanco da colina. Ali ajoelhou-se por muito tempo. Suas mãos acariciavam afetuosamente a pedra áspera. No momento mais escuro da noite, Mandred pensou ver uma sombra de vestido rasgado no topo da colina.

— Vou trazê-lo de volta, Freya, mesmo que isso me custe a vida — sussurrou ele. — Vou trazê-lo de volta. Juro pelo carvalho que me devolveu a vida. Meu juramento é sólido como o tronco de um carvalho!

Mandred procurou o presente de Atta Aikhjarto e, quando o encontrou, afundou a bolota na terra escura da tumba.

— Vou trazê-lo de volta para você.

A lua surgiu entre as nuvens. A sombra no cume da colina havia desaparecido.

Retorno à terra dos Albos

Era inverno na Terra dos Albos e, mesmo com toda a beleza da paisagem coberta de neve, o frio congelante não dava a ele menos trabalho do que havia dado em seu mundo. Aqui o guerreiro também precisava abrir caminho com esforço em meio à neve alta enquanto seus amigos elfos andavam com passos leves ao seu lado. E desta vez faltavam-lhe forças. No túmulo de Freya teria podido disputar com toda a Terra dos Albos junta, mas hoje estava abatido e não sentia dentro de si nada além de desespero e vazio.

Mesmo o pensamento no filho, que seria um desconhecido para ele, não era capaz de consolá-lo. Queria vê-lo, de fato... Mas depositava pouca esperança nisso. Oleif provavelmente crescera e tornara-se um homem há muito tempo, e talvez visse outro como seu pai. Como ainda era inverno na Terra dos Albos, Mandred estava desanimado de vez. Esta era a terra dos elfos e das fadas, aqui a primavera deveria reinar para sempre! Pelo menos era isso o que diziam as lendas. Certamente era um mau presságio encontrar este mundo no inverno, mesmo que Farodin e Nuramon lhe houvessem assegurado uma centena de vezes que aqui as estações mudavam da mesma forma que no mundo dos homens.

Atta Aikhjarto não falou com Mandred quando ele o visitou junto ao portal. Será que as árvores hibernavam depois de deitarem suas folhagens ao chão? Ou será que havia outro motivo para isso? Ninguém os recebera no portal, mesmo que constasse que a rainha sabia de tudo o que acontecia em seu reino.

No primeiro dia, avançaram até o portal de Welruun. Ninguém cruzou o caminho. Mandred acreditava saber o porquê. O destino os seguira até aqui, até a Terra dos Albos! Desde a primeira hora, uma má estrela brilhara sobre a Caçada dos Elfos. E essa estrela não se havia apagado. O que eles viveram era uma história como as sagas dos heróis antigos. E essas histórias terminavam sempre de forma trágica!

Na manhã do segundo dia na Terra dos Albos, Mandred só se levantou de seu gelado leito noturno para que no futuro ninguém pudesse dizer que ele não percorrera o seu caminho até o fim. Ele traria de volta a Caçada dos Elfos — a primeira liderada por um humano —, ou ao menos o que ainda restava dela. E queria finalmente saber qual era o desfecho que o destino lhes reservava.

Nenhum guarda estava no caminho quando cruzaram o portão da Shalyn Falah. No castelo de Emerelle ninguém os aguardava, como se todos houvessem desaparecido. O som de seus passos ecoou de forma sombria quando passaram pela imponente construção. Mandred de fato tinha a sensação de estar sendo observado, mas em todos os lugares onde seu olhar pousava só encontrava cumes abandonados e janelas vazias.

Farodin e Nuramon mal falaram durante a viagem. Eles também pareciam inquietos.

Por que o evitavam? Foi o que Mandred se perguntou, aborrecido. Ficaram longe por um bom tempo, era verdade, e pagaram com muitas vidas... mas voltavam vitoriosos. Deveriam ser recebidos de forma digna! Mas quem era ele para querer compreender os elfos? O que acontecia aqui devia ter a ver com a sua sina... Com aquele último golpe do destino que põe fim a cada saga.

Nuramon e Farodin aceleraram seus passos. Num surdo staccato, o som de suas pisadas era devolvido pelas paredes transparentes do átrio.

Bem no fim da ampla sala, um vulto vestido de preto os aguardava. Era mestre Alvias. Inclinou levemente o tronco para Mandred, mas Farodin e Nuramon não foram dignos de um olhar seu.

— Saudações, Mandred Filho de Humanos, jarl de Firnstayn. A rainha previu a hora de sua chegada. Ela gostaria de ver você e os seus companheiros. Siga-me!

Como por obra de uma mão fantasma, o portão abriu-se para a sala do trono, que estava repleta de filhos de albos. Elfos e centauros, fadas, duendes e goblins apertavam-se ali, em silêncio. Mandred tinha a sensação de que algo tentava lhe estrangular a garganta. O silêncio dessa enorme multidão era ainda mais estranho que a infinidade de salas e pátios vazios. Não se ouvia nenhuma tosse, nenhum pigarro — nada.

O olhar de Mandred deslizou até o teto. Uma ampla cúpula de gelo substituía o arco-íris da primavera. Não pôde evitar pensar na Gruta de Luth.

A multidão estava dividida, deixando livre um caminho até o trono. O tempo não deixara vestígios na rainha. Emerelle ainda tinha a aparência de uma jovem elfa.

Mestre Alvias juntou-se a um grupo de jovens guerreiros, que estavam em pé à esquerda da escada que ia até o trono, enquanto Farodin e Nuramon curvaram-se sobre o joelho diante da soberana.

Um sorriso se esboçou nos lábios de Emerelle.

— E você, Mandred Filho de Humanos, continua sem se curvar diante da soberana da Terra dos Albos.

“Mais do que nunca”, pensou Mandred.

Emerelle apontou para a tigela ao lado de seu trono.

— Todas as vezes que olhei na água nunca consegui ver você nem os seus companheiros. O que aconteceu, Mandred, líder da Caçada dos Elfos? Vocês encontraram a sua presa?

Mandred pigarreou. Sua boca estava seca como se tivesse engolido um saco de farinha.

— A besta está morta. Foi abatida. Seu crânio foi posto aos pés de Luth, e seu fígado foi dado de comer aos cães. Nossa ira acabou com ela!

O guerreiro percebeu a careta de desdém que Alvias fez. Essa gralha negra podia pensar o que quisesse dele! Ou, melhor ainda — Mandred deu um sorriso colérico. A soberba corroeria Alvias e os outros quando descobrissem qual era a fera que haviam caçado.

— Cavalgamos à caça de uma criatura metade homem, metade javali. — Mandred fez uma curta pausa como as que os bardos às vezes faziam para atiçar a impaciência do público. — De fato encontramos uma criatura que não deve mais existir desde o tempo dos albos. Uma criatura conhecida entre os povos da Terra dos Albos como um devanthar!

Mandred observou a multidão de canto de olho. Estava contando ao menos com alguns desmaios de fadas de flores. Mas, em vez de vozes de surpresa, colheu somente o silêncio, como se os filhos dos albos não estivessem ouvindo nada de novo.

A quietude o perturbava. Com a voz um pouco trêmula, contou sobre a caçada, sobre os sustos e os mortos. Descreveu a subida até a geleira, contou enfurecido sobre os barbas de ferro profanados e elogiou a coragem heroica de Farodin e o poder de cura de Nuramon. O amargor quase lhe tirou a voz quando narrou a queda do devanthar e todos os anos que o demônio lhe roubara. Quando Mandred estava prestes a completar com o relato de seu retorno a Firnstayn, olhou rapidamente para os companheiros, que ainda estavam de joelhos a seu lado.

— Com meus dois últimos irmãos de caça eu fui...” — Farodin chacoalhou a cabeça de forma quase imperceptível.

— O que você queria dizer, Mandred? — perguntou a rainha.

— Eu... — Mandred não entendeu por que devia omitir o que aconteceu. Hesitou por um instante. — Eu queria dizer que retornamos a Firnstayn para passar uma noite com os meus. — As últimas palavras saíram num tom gelado.

A rainha não mudou de expressão.

— Agradeço por seu relato, Mandred Filho de Humanos — respondeu formalmente. — Vocês três prestaram um grande serviço. Mas qual você acha que era a intenção por trás dos atos do devanthar?

O guerreiro apontou para os seus companheiros.