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— Tentei consolar a sua mulher — prosseguiu Emerelle. — Tentei contar sobre o futuro do seu filho, mas ela não quis ouvir nada e fez um gesto na direção da saída. Só ao fechar a porta atrás de si ela começou a chorar. Mas saiba, Mandred, que eu não tinha vontade de fazer atrocidades contra os homens. Seu filho era predestinado a crescer na Terra dos Albos. Chegará o dia em que os elfos precisarão da ajuda dos homens. E a linhagem que crescerá das sementes do seu filho será a que se manterá fiel à Terra dos Albos quando um mundo estiver em chamas. Agora é com você, Mandred. Leve seu filho de volta para as terras do fiorde. Dê a ele tudo o que um filho pode receber de seu pai. Ajude-o a encontrar o seu lugar entre os homens.

— O destino dele será tão cruel quanto o meu, rainha?

— Algumas coisas vejo com clareza, outras surgem de forma confusa e há também aquelas que não vejo. Já revelei demais sobre o vosso futuro! — Emerelle levantou a mão num gesto também dirigido à corte. — Ninguém deve conhecer o seu destino de forma precisa demais. Nas sombras do futuro, nenhuma vida é capaz de crescer.

As palavras de Noroelle

Farodin e Nuramon percorreram em silêncio o caminho até o terraço. Ambos estavam absortos em seus pensamentos. Após toda a estafa dos últimos dias, estavam loucos para rever a amada e ouvir a sua decisão. Farodin não conseguia deixar de pensar em todos os anos de cortejo a Noroelle, enquanto Nuramon ansiava pelo momento de poder dizer a Noroelle que havia mantido a sua promessa.

Ao atravessarem o portão e saírem para a noite, surpreenderam-se, pois quem estava no terraço não era Noroelle. Ali esperava uma elfa loura, de vestido cinza-claro, de costas para eles. Sua cabeça estava erguida. Ela parecia olhar para a lua.

Aproximaram-se, hesitantes. A elfa virou um pouco a cabeça, e pôs-se a escutar. Então suspirou e virou-se por completo.

Nuramon reconheceu-a imediatamente.

— Obilee!

Farodin estava, ao mesmo tempo, desconcertado e chocado. Sim, eles sabiam que tanto no mundo dos homens quanto ali, na Terra dos Albos, quase trinta anos haviam se passado. Mas só a visão de Obilee tornou claro para ele o que isso significava.

— Obilee! — disse Nuramon mais uma vez, encarando a elfa cujo sorriso não era capaz de esconder a melancolia dos olhos. — Você se tornou uma elfa maravilhosa. Exatamente como Noroelle disse.

Farodin via a imagem da grande Danee diante de si. Antes não havia mais que uma vaga semelhança, mas agora mal era possível distingui-la de sua avó. Vira Danee pela primeira vez na corte. Naquela ocasião, ele ainda era criança, mas ainda hoje se lembra nitidamente da admiração que tomou conta dele quando o olhar dela cruzou com o seu.

— Agora também estou vendo. Você tem algo da aura de Danee, bem como Noroelle sempre disse.

Obilee concordou.

— Noroelle tinha razão.

Farodin olhou para o pomar.

— Ela está lá embaixo?

A jovem elfa desviou o olhar.

— Não, ela não está no pomar. — Quando olhou novamente para ele, tinha lágrimas nos olhos. — Ela não está mais aqui.

Farodin e Nuramon trocaram um olhar inseguro. Farodin pensou nos trinta anos que haviam se passado. Será que Noroelle não acreditou que estavam mortos? Teria deixado a corte por isso e se recolhido na solidão?

Nuramon lembrou-se do silêncio na sala do trono. Todos que estavam lá sabiam de alguma coisa. O que poderia ter acontecido para deixar Obilee assim tão triste? Certamente não era a morte, pois ela é seguida do renascimento. Devia ser algo mais doloroso, e essa ideia provocava medo em Nuramon.

— Noroelle sabia — disse Obilee. — Ela sabia que vocês retornariam.

Farodin e Nuramon permaneceram calados.

— Anos se passaram, e vocês ainda estão carregando as coisas que levaram ao partir...

— Obilee! O que aconteceu? — perguntou Farodin de forma direta.

— O pior, Farodin. O pior de tudo.

Nuramon começou a tremer. Não pôde evitar pensar em todas as provas pelas quais passaram. Mas ele tinha feito de tudo para cumprir a sua promessa!

Como Obilee não prosseguia, Farodin perguntou:

— Noroelle nos abandonou? Ela voltou para Alvemer? Está desiludida?

Obilee deu um passo para trás e respirou fundo.

— Não... Ouçam estas palavras! Pois foi Noroelle quem as disse na noite em que foi embora.

Obilee olhou para cima.

— “Eu sabia que vocês retornariam. E agora vocês estão aí, e descobrirão o que aconteceu comigo.” — Ela dizia as palavras como se fosse Noroelle. O tom de sua voz refletia todas as emoções. — “Não façam mau juízo de mim quando descobrirem o que fiz e aonde o meu destino me levou. Pouco depois de vocês partirem, tive um sonho. Você, Nuramon, me visitou, e nós nos amamos. Um ano mais tarde dei à luz um filho. Pensei que fosse seu filho, Nuramon, mas eu me enganei. Pois não foi você quem esteve comigo naquela noite, mas sim o devanthar que vocês foram caçar no Outro Mundo.

Farodin e Nuramon ficaram sem ar. Só o pensamento de que o devanthar conseguira estar por perto de Noroelle já era insuportável para eles.

Farodin recordou da luta na caverna. O demônio havia facilitado demais para eles. Agora ele sabia por quê. Será que ele esteve sempre procurando um caminho até Noroelle?

Desolado, Nuramon abanou a cabeça. O devanthar assumira as suas feições para seduzir Noroelle. Havia se aproveitado do amor dela. Ela estava sonhando com ele quando o devanthar se aproximou e...

Obilee agarrou a mão de Nuramon, arrancando-o de seus pensamentos dolorosos.

— “Nuramon, não acuse a si mesmo. O demônio tinha o seu rosto. Eu me deixei seduzir pelo seu semblante e pelo seu corpo. Mas não pense que por isso sinta desprezo ou nojo. Eu o amo ainda mais do que antes. Por favor, não odeie a si mesmo, mas somente ao devanthar! Ele usou contra nós o que sentíamos um pelo outro. Somente se nos mantivermos fiéis ao que somos e ao que sentimos conseguiremos deixar para trás o que ele fez. Isso se torna irrelevante. Não se culpe.” — Obilee encarou-o como se estivesse esperando a sua reação. Havia uma súplica em seus olhos à qual ele não conseguia resistir. Ele respirou fundo e abanou a cabeça.

Então Obilee pegou a mão de Farodin.

— “E você, Farodin, não pense que já fiz a minha escolha. Não havia me decidido por Nuramon em segredo. Não foi por isso que o demônio veio até mim.”

— Mas onde você está, Noroelle? — perguntou Farodin. Ele estava confuso. Por um momento era como se sua amada realmente pudesse ouvi-lo.

Obilee sorriu deitando a cabeça para o lado, como Noroelle sempre fazia. Mas seus olhos não conseguiam esconder sua tristeza.

— “Eu sabia que faria essa pergunta, Farodin. Essa faísca que você me deixou ver naquela noite, esse olhar para o seu interior, isso bastou para conhecê-lo como sempre quis antes. Posso ler o seu íntimo exatamente como faço com o rosto de Nuramon. Onde estou? Vai doer em vocês saber disso. Pois estou em um lugar em que ninguém pode me alcançar. A rainha me baniu para sempre da Terra dos Albos. Agora nos separam barreiras que vocês não podem ultrapassar. Só me restam as lembranças; como a da noite da partida de vocês, em que tanto me deram. Você, Farodin, mostrou-me a luz do seu ser. E você, Nuramon, tocou-me pela primeira vez.”

Obilee deteve-se, e parecia hesitante. Por fim, disse:

— “Vocês também precisam saber por que fui banida. O filho que dei à luz tinha orelhas redondas, e a rainha o reconheceu como uma criança-demônio, filha do devanthar. Três noites após o parto, tinha a obrigação de me apresentar com meu filho à corte, mas a rainha enviou Dijelon e seus guerreiros durante a noite para matar o bebê. Levei meu filho para o Outro Mundo, para um lugar onde a rainha dificilmente o encontraria. E, quando estava diante de Emerelle, neguei-me a revelar o seu lugar de abrigo. Perdoem-me se puderem, pois não vi nenhuma maldade nos olhos do bebê. Agora vocês conhecem a minha mácula. Mas ela não deve ser a de vocês. Perdoem-me por ter agido de forma tão insensata.”— Obilee começou a chorar, pois naquele dia Noroelle também não conseguira mais conter as lágrimas. — “Por favor, lembrem-se dos lindos anos que passamos juntos, pois nada com vocês foi ruim; não aconteceu nada de que devamos nos arrepender. Aconteça o que acontecer, por favor, não me esqueçam. Por favor, não se esqueçam de mim...” — Obilee não conseguia conter seus sentimentos por mais tempo.