Выбрать главу

— Encontrarei o filho de Noroelle e o matarei — sentenciou.

— E eu escolherei os melhores guerreiros para acompanhá-lo. Farodin certamente o acompanhará.

— Não. Aceitarei a ajuda de seus guerreiros, mas não vou pedir a Farodin que me acompanhe. Se Noroelle voltar, ela tem o direito de me odiar por ter matado o seu filho. As mãos de Farodin, contudo, não estarão cobertas de sangue. Ela encontrará o amor que merece nos braços dele.

— Está bem, a decisão é sua. Mas ao menos você não rejeitará os cavalos do meu estábulo, tenho certeza. Escolha os mais apropriados para você e seus companheiros.

— Assim o farei, rainha.

Emerelle aproximou-se dele. Agora observava-o cheia de compaixão. O aroma que a cercava trazia calma.

— Todos nós devemos seguir o nosso destino até onde ele nos levar. Mas escolhemos como trilhar esse caminho. Acredite nas palavras com as quais o aconselhei naquela noite. Elas ainda valem. O que quer que digam sobre você no futuro, jamais poderão dizer que traiu o seu amor. Agora vá e descanse no seu quarto. A Caçada dos Elfos retornou, e vocês devem se recuperar em seus aposentos. Decida você mesmo quando quer partir. Dessa vez vocês não cavalgarão como a Caçada dos Elfos, mas somente a serviço da rainha.

Nuramon lembrou da armadura que Emerelle lhe concedera.

— Gostaria de lhe devolver a armadura, o casaco e a espada.

— Estou vendo, a armadura de dragão e o casaco lhe prestaram bons serviços. Deixe-os no seu quarto, como manda a tradição. Mas a espada é sua. É um presente. — Emerelle ergueu-se nas pontas dos pés e beijou-o na testa. — Agora vá e confie na sua rainha.

Nuramon obedeceu às suas palavras. Olhou para trás mais uma vez antes de deixar a sala. Ela sorria amigavelmente. Ao chegar lá fora e juntar-se aos outros, não conseguia entender a mudança de rumo que a conversa tomara. Emerelle o recebeu como uma mãe benevolente, julgou-o como uma rainha de coração gelado e dispensou-o como uma velha amiga.

Três grãos de areia

Farodin apoiou a cabeça na parede. Uma estreita faixa de luz iluminava a sala secreta que dava para a varanda dos aposentos da rainha. Ele não tinha permissão para estar ali.

Vestia um gibão discreto, uma calça justa e uma grande túnica com capuz, todos cinza, e também luvas finas de couro, um cinto largo e braçadeiras, nas quais havia punhais enfiados. Ele esperava não precisar fazer uso das armas. Embaixo dele, nas escadas e corredores secretos, Farodin ouvia ao longe as gargalhadas dos duendes. Toda uma nova geração deles já crescera desde o dia em que Noroelle foi condenada.

Numa fúria desamparada, Farodin cerrou os punhos. A dor ainda era recente demais. Fora o carrasco secreto da rainha tantas vezes e em nenhuma delas havia duvidado de seu elevado senso de justiça. Sequer uma vez pensara que as sentenças secretas de morte que cumpria pudessem não ser nada mais que pura arbitrariedade. Agora, uma sentença dela havia acabado com a sua vida, mesmo que ainda estivesse ali, vivo e respirando.

Ninguém conhecia Noroelle como ele. Ninguém sabia que um dia fora Aileen, aquela que perdera a vida ao seu lado na violenta luta contra os trolls. Procurou por ela ao longo de séculos, e agora, que a havia encontrado, estava sendo arrancada dele mais uma vez. E, desta vez, não podia contar com o renascimento de Aileen. Se ela morresse em seu local de exílio, então não haveria caminho de volta. Sua alma ficaria aprisionada para sempre naquele lugar.

Lágrimas de raiva escorriam pela face de Farodin. Noroelle fora enganada por um devanthar, uma criatura conhecida justamente como mestre da enganação! E o demônio se aproveitara do amor dela...

Por que havia assumido a forma de Nuramon? Farodin se esforçava para suprimir as dúvidas, que só cresciam. Em vão. Será que o devanthar sabia de algo? Será que Noroelle escolheria Nuramon quando a Caçada dos Elfos retornasse? E se o que ela disse a Obilee fossem somente palavras ao vento, um consolo para ele diante da certeza de que nunca voltariam a se ver?

No fim de tudo, ela ainda se entregara rápido demais ao Nuramon falso. Ambos a cortejaram por tantos anos, e ela nunca havia conseguido tomar uma decisão... E de repente pôde tomá-la em uma só noite. “Deve ter sido o feitiço do devanthar”, Farodin tentou convencer a si mesmo.

Noroelle era inocente! Seu coração era puro. Ela tem o coração puro! Ela está viva! E por isso ele a encontraria, jurou Farodin para si mesmo. Tanto fazia quanto tempo a sua busca pudesse durar. A rainha estava errada ao impor a Noroelle a pior de todas as penas. Ele não aceitaria a sentença. Farodin olhou para o pequeno vão iluminado no fim da escada. Ele realmente não devia estar ali. Mas que diferença fazia agora? Emerelle o usara para exercer a sua justiça quando o direito falado já não ajudava mais. Agora ele faria a sua própria justiça!

Decidido, Farodin espremeu-se para passar pelo vão estreito. Saiu cautelosamente para o parapeito da varanda e olhou para as profundezas. Uma cúpula de gelo ocultava a sala do trono do seu olhar, mas ele sabia que Emerelle estava ali embaixo, acompanhada da corte.

Aproximou-se da ampla porta que dava para os aposentos da rainha e encontrou-a destrancada. Seria por causa de sua arrogância? Será que confiava que os tabus fossem mais fortes que as trancas?

Farodin apagou as pegadas rasas que deixara na neve e abriu cuidadosamente a porta. Durante todos os séculos em que foi o carrasco secreto de Emerelle, nunca esteve em seus aposentos. A decoração modesta o surpreendeu. Os poucos móveis eram de uma elegância despretensiosa. A luz da chama na lareira mergulhava o quarto numa meia-luz avermelhada que o tornava agradavelmente quente.

Desnorteado, Farodin olhou em volta. Sabia que havia um quarto de vestir — uma sala onde a rainha guardava suas luxuosas vestes. Noroelle falara dela uma vez. Era ali que devia iniciar a sua busca! Precisava encontrar o vestido que Emerelle usava quando levou Noroelle para o seu exílio. Mas onde podia estar escondida a entrada para o quarto de vestir? Não via mais nenhuma porta além da que dava para a varanda e de outra que devia dar nas escadas. Tateou as paredes, olhou por trás de tapeçarias e finalmente se viu diante de um grande espelho. Sua moldura era de ébano com incrustações de madrepérola. Deslizou os dedos sobre o desenho de flores e folhas. Havia uma rosa contornada por um vão visível. Apertou cuidadosamente a peça de madrepérola.

Farodin ouviu um clique baixo e o espelho então deslizou para o lado. Surpreso, deu um passo para trás. A entrada para um cômodo repleto de silhuetas luminosas revelou-se. Silhuetas sem cabeça. O elfo respirou fundo e riu baixo. Eram só vestidos. Estavam esticados sobre manequins de varas de vime para que mantivessem a forma. Sob os manequins havia velas aromáticas, que os faziam brilhar como grandes lampiões.

Se o quarto de dormir da rainha era modesto, este era maravilhoso. Farodin foi totalmente envolvido pela enorme variedade de aromas. Pêssego, almíscar e menta eram os perfumes que prevaleciam. Emerelle não se vestia só de túnicas, mas também de perfumes.

O quarto se curvava acompanhando o formato exterior da torre, de forma que não era possível vê-lo por completo olhando da porta. Farodin atravessou a soleira e o espelho fechou-se atrás dele. O elfo ainda estava dominado pela infinidade de estímulos. Junto às paredes havia almofadas de veludo acomodadas sobre pequenos nichos, sobre as quais brilhavam as joias da rainha. Pérolas e pedras preciosas de todos os tons do arco-íris emanavam uma luz quente. Devia ser um grande prazer sonhar entre todos aqueles vestidos e joias.

Mas quanto a janelas, ali estranhamente não havia nenhuma.

— Noroelle — sussurrou o elfo.

Ela teria amado o quarto de vestir da rainha. A infinidade de vestidos. Os trajes de caça de veludo e couro, os vestidos de noite refinadíssimos, as túnicas transparentes e incrivelmente macias que Emerelle jamais vestiria na presença da corte. Os brocados magníficos, mantidos no formato por barbatanas de baleia e arames; os corpetes para eventos solenes e cerimoniais na corte, que nada mudaram ao longo dos séculos.