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— O que a rainha disse? — insistiu Farodin. — Você pediu para também ser banido? Você tem permissão para ir onde Noroelle está?

Nuramon sentou-se no banco, ao lado das bolsas.

— Não. Eu tentei de tudo. Mas a rainha não se deixou convencer por nada. Não quis me mandar para o exílio. Mesmo que matássemos o devanthar de vez, isso não mudaria nada.

— E então você quer partir sozinho para procurar Noroelle.

Nuramon olhou Farodin longamente. Era impossível esconder dele o seu plano.

— Queria que fosse tão fácil. Queria poder pegar minhas coisas, partir e procurar qualquer forma de ajudar Noroelle. — Fez uma pausa. — Se eu pedir para simplesmente me deixar partir sem fazer perguntas, você faria isso?

— Ainda tenho uma dívida para saldar. Você me buscou de volta da morte... Mas penso que o destino ligou nós dois. E acho que Noroelle ainda não fez a sua escolha. Por isso o nosso destino é procurá-la juntos.

— Poucas horas atrás poderia ter sido assim, da forma como você diz.

A conversa com a rainha tinha mudado tudo.

— O que a rainha disse a você? — perguntou Farodin novamente. — Tanto faz no que você se meteu, não vou odiá-lo por isso. Mas agora fale!

— Então está certo — disse Nuramon, levantando-se. — Ela disse que não havia jeito de salvar Noroelle. E eu prometi que faria tudo o que ela exigisse.

— Isso foi um erro. — Farodin sorriu piedoso. — Será que você nunca vai aprender?

— Você me conhece, Farodin. E sabe como é fácil me induzir a fazer besteiras. Emerelle também sabia disso.

Mandred se meteu novamente na conversa.

— E o que ela exigiu de você?

Nuramon desviou o olhar do filho de humanos. De todos eles, era quem havia pago o preço mais alto.

— O que ela quer de você agora? — insistiu Farodin.

Nuramon hesitou em responder, pois logo que seu companheiro soubesse a verdade também não haveria mais sorte em sua vida.

— Diga, Nuramon!

— Você tem certeza de que quer ouvir, Farodin? Às vezes é melhor não conhecer a verdade. Se eu disser, nada será como antes para você. Se ficar em silêncio, você pode ser feliz... Eu imploro! Deixe-me partir sem arrancar mais nada de mim e sem me seguir! Por favor!

— Não, Nuramon. Qualquer que seja esse fardo, nós temos de carregá-lo juntos.

Nuramon suspirou.

— Foi você quem quis assim. — Mil pensamentos passaram por sua cabeça. Será que lhe faltavam forças para cometer aquele assassinato sozinho? Será que no fundo ele queria dividir a culpa com Farodin, por isso estava cedendo? Não era presunçoso querer decidir sozinho? Farodin não tinha direito de saber o que a rainha exigira? — Vou partir para procurar o filho de Noroelle e matá-lo — disse Farodin baixinho.

Farodin e Mandred olhavam-no fixamente como se ainda estivessem esperando por suas palavras.

— Deixem-me ir sozinho! Você ouviu, Farodin? Espere aqui até Noroelle voltar.

— Ele sabia o que aconteceria agora. Não havia mais volta.

Como se estivesse anestesiado, Farodin sacudiu a cabeça.

— Não, não posso fazer isso. Você acha que vou ficar aqui sentado esperando por Noroelle? O que direi a ela quando voltar? Que o deixei partir sabendo que iria matar seu filho? Não, agora que eu sei, tenho só duas possibilidades: posso detê-lo ou acompanhá-lo... Se eu o impedir, Noroelle não receberá ajuda. Então preciso compartilhar do seu destino de salvá-la.

Mandred balançou a cabeça, perplexo.

— Oh, Luth, mas em que trama você foi meter esses elfos!

— Parece que os seus deuses não estão do nosso lado — confirmou Nuramon. — Mas, no fundo, a culpa é nossa. A rainha me lembrou do nosso fracasso na caverna. — E contou a seus companheiros a repreensão de Emerelle.

— E por acaso é nossa culpa que não sejamos albos? — indignou-se Mandred.

— Se é assim, então nascemos com essa culpa. Toda a nossa existência está marcada por esse estigma. Parece que há trilhas ainda mais sombrias diante de nós. Vamos partir!

Nuramon voltou-se para o filho de humanos.

— Nossos caminhos se separam aqui, Mandred. Você encontrou o seu filho. Dedique seu tempo a ele e seja ao menos agora o pai de que o destino o privou. Você não está condenado como nós. Trilhe o seu caminho e deixe-nos seguir o nosso soturno destino.

O filho de humanos fez uma cara aborrecida.

— Tolices de elfo! Se a rainha diz que nós devíamos ter vencido o demônio, então eu também falhei. A partir de agora, nossos caminhos estão entrelaçados.

— Mas, o seu filho! — intrometeu-se Farodin.

— Ele nos acompanhará. Preciso mesmo ver se ele serve para alguma coisa. Não me levem a mal, mas não posso imaginar que seja bom para um rapaz crescer numa corte de elfos. Os perfumes daqui... As camas macias, a comida fina... Aparentemente, ele nunca aprendeu como estripar um antílope, e não sabe que depois deixamos a carne pendurada alguns dias para que fique bem tenra. Então nem tentem me impedir de levá-lo conosco. A partir de agora, a regra é: aonde vocês vão, Mandred também vai!

Nuramon trocou um olhar com Farodin. Já conheciam aquele cabeça-dura o bastante para saber que não conseguiriam dissuadi-lo de sua decisão. Farodin acenou de forma quase imperceptível com a cabeça.

— Mandred Aikhjarto! — começou Nuramon. — Você tem a solidez do velho Atta. Se é esse o seu desejo... É uma honra para nós tê-lo ao nosso lado.

— Quando partimos? — perguntou Mandred, ansioso para agir.

Antes que Nuramon pudesse responder, Farodin disse:

— Imediatamente. Antes que percebam alguma coisa.

Mandred riu, satisfeito.

— Então vamos lá! Vou preparar as minhas coisas. — E com essas palavras, deixou o quarto.

— O filho de humanos é tão barulhento que não vamos conseguir escapar despercebidos — disse Farodin.

— Quantos anos Mandred tem? Quanto tempo vive um humano?

— Não sei direito. Talvez cem anos?

— Ele está disposto a sacrificar o seu curto tempo de vida para nos ajudar. Será que ele tem ideia de quanto tempo a nossa busca pelo filho de Noroelle pode durar?

Farodin deu de ombros.

— Não sei dizer. Mas tenho certeza de que ele está falando sério. Não se esqueça do poder de Atta Aikhjarto. O velho carvalho mudou-o quando o salvou. Ele não é mais como os outros homens.

Nuramon concordou com a cabeça.

— Será que ainda dá para ficar pior? — perguntou Farodin subitamente.

— Se fizermos o que a rainha exige, vamos de fato libertar Noroelle, mas para isso teremos de conviver para sempre com o seu desprezo. O que pode ser pior que isso?

— Vou pegar as minhas coisas. — Foi tudo o que Farodin respondeu. Deixou o quarto sem fazer barulho.

Nuramon aproximou-se da janela e olhou para a lua. O desprezo de Noroelle, pensou com tristeza. E, sim, ainda era possível piorar. Podia ser que ficasse desesperada ao saber que seus amados mataram seu filho. O destino, ou Luth, como Mandred o chamava, os conduzira por um caminho doloroso. Em algum momento a sorte tinha de surgir.

Não demorou até que Farodin voltasse. Esperaram em silêncio pelo filho de humanos, até que soaram vozes no corredor.

— ... Isso é vingança — disse Mandred.

— A vingança não vai mudar nada. Minha mãe está morta. E o que o filho de Noroelle tem a ver com isso?

— Ele também é filho do devanthar. A dívida de sangue do pai dele foi transmitida a ele.

— Isso tudo é loucura! — retrucou Alfadas.

— Então foi isso o que os elfos ensinaram a você! No meu mundo, o filho obedece a palavra do pai. E é exatamente o que você vai fazer agora!

— Senão, o que acontece?

Nuramon e Farodin se entreolharam. De repente o silêncio diante da porta era mortal.

— O que eles estão fazendo? — perguntou Nuramon num murmúrio.

Farodin deu de ombros.

A porta se abriu de repente. Mandred estava com a cara vermelha.