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— Eu trouxe o meu filho. Para ele é uma honra nos acompanhar.

Farodin e Nuramon apanharam as suas trouxas.

— Vamos! — disse Nuramon.

Alfadas esperava diante da porta. Esquivou-se do olhar de Nuramon, como se estivesse com vergonha do pai.

Devagar, puseram-se a caminho até os estábulos.

As baias estavam iluminadas, apesar das altas horas da noite. Um servo de pernas de bode abriu o portão para eles, como se os estivesse esperando. E não estava sozinho. Quatro elfos vestidos de longas túnicas cinzentas estavam de pé ao lado dos cavalos, equipados como se quisessem ir para a guerra. Todos vestiam trajes de malha de ferro e estavam bem armados. Seu líder virou-se com um sorriso estreito no rosto e olhou para Mandred.

— Ollowain! — gemeu o filho de humanos.

— Bem-vindo, Mandred! — respondeu o guerreiro, e dirigindo-se a Nuramon: — Estou vendo que encontrou parceiros de armas. Isso fortalecerá nosso poder de luta.

— Mestre! — Alfadas estava surpreso.

Mandred fez uma careta, como se tivesse levado um pisão de cavalo nas partes baixas. Nuramon sabia o que Mandred achava de Ollowain. Era uma terrível peça que o destino lhe pregava, que seu filho tivesse sido treinado justamente por esse guerreiro elfo.

Ele deu um passo à frente.

— Foi a rainha quem os escolheu? — perguntou a Ollowain.

— Sim. Ela disse que devíamos aguardar aqui, a postos. Ela sabia que você não perderia tempo.

— Ela também disse qual é a missão?

O sorriso de Ollowain desapareceu.

— Sim. Nós devemos matar o filho do demônio. Não posso imaginar o que se passa dentro de vocês, mas sou capaz de ver o quão amargo esse caminho deve ser. Noroelle sempre foi boa para mim. Temos de ver na criança não o seu filho, mas o do devanthar! Só dessa forma seremos capazes de vencer nossa tarefa.

— Nós vamos tentar — disse Farodin.

Ollowain apresentou-lhes seus acompanhantes.

— Estes são meus sentinelas, os melhores guerreiros da Shalyn Falah. Yilvina é um verdadeiro furacão na luta com duas espadas curtas. — Apontou para a elegante elfa à sua esquerda. Tinha cabelos curtos e louros e retribuiu o olhar de Nuramon com um sorriso maroto.

A seguir Ollowain apresentou Nomja, uma guerreira esguia. Devia ser muito jovem; seus traços finos eram quase infantis. Estava apoiada em seu arco como um soldado experiente, mas o gesto parecia estudado.

— E este é Gelvuun.

O guerreiro tinha uma espada longa afivelada às costas, cujo punho se podia ver debaixo da túnica. Retribuiu o olhar de Nuramon de forma inexpressiva. Isso não surpreendeu o elfo, que já ouvira falar dele. Era conhecido como um brigão rabugento. Alguns diziam existirem trolls mais sociáveis que ele. Mas, na sua presença, as zombarias cessavam.

Ollowain aproximou-se de seu cavalo e apanhou um machado de cabo longo que estava pendurado na sela. Virou-se com destreza e lançou-o para Mandred.

O coração de Nuramon deu um pulo, mas sentiu alívio ao ver Mandred pegá-lo no ar. O filho de humanos alisou a lâmina dupla da arma quase carinhosamente, e admirou os retorcidos nós élficos que a enfeitavam.

— Belo trabalho. — Mandred dirigiu-se a seu filho: — É assim que é uma arma de homem.

Quis devolvê-lo a Ollowain, mas ele sacudiu a cabeça.

— É um presente, Mandred. No mundo dos homens devemos estar sempre preparados para aborrecimentos. Estou ansioso para ver se você luta melhor com o machado do que com a espada.

Mandred brincou com o machado, fazendo-o rodopiar no ar.

— É uma arma bem balanceada. — De repente ficou imóvel e aproximou o ouvido da lâmina do machado. — Ouviram? Ela está pedindo sangue.

Nuramon sentiu o estômago encolher. Será que Ollowain presenteara o humano com uma arma com algum tipo de maldição? Nuramon conhecia algumas histórias sombrias sobre espadas que precisavam derramar sangue toda vez que eram puxadas. Eram armas coléricas, forjadas nos piores dias da primeira Guerra dos Trolls.

Um silêncio incômodo instaurou-se no grupo. Ninguém além de Mandred ouvia o grito do machado, mas isso não queria dizer nada.

Finalmente, Alfadas foi até um dos boxes bem no fundo do estábulo e selou um cavalo. Isso quebrou o encanto do silêncio.

Nuramon perguntou ao servo do estábulo:

— A rainha preparou cavalos para nós?

O pernas de bode apontou para a direita.

— Lá estão eles.

Nuramon não acreditou no que seus olhos viram. Era o seu cavalo branco!

— Felbion! — gritou, indo até ele.

Farodin também estava surpreso de rever o seu cavalo castanho. Até Mandred disse:

— Por todos os deuses, esse é o meu cavalo!

Conduziram os animais até Ollowain.

— Como isso é possível? — perguntou Nuramon. — Tivemos de deixá-los para trás no Outro Mundo.

— Nós os encontramos perto do círculo de pedras do fiorde. Estavam esperando por vocês — esclareceu Ollowain. Ele olhou para o rapaz do estábulo. — Ejedin cuidou bem deles. É verdade, não é?

— Com certeza — respondeu o fauno. — Até a rainha veio ver os cavalos algumas vezes.

Nuramon achou que esse era um bom presságio. Até o ânimo de Farodin pareceu melhorar. Nuramon reparou que Farodin se comportava de forma reservada diante de Ollowain. Não era antipatia, como no caso de Mandred. Talvez Farodin já não confiasse na rainha tanto quanto antes e, como Ollowain era um criado dela, devia também desconfiar dele.

A manhã se aproximava com suas asas prateadas quando o grupo saiu com seus cavalos para o pátio. O castelo ainda estava silencioso. Ninguém os veria partir além dos guardas do portão. A diferença em relação à última partida não poderia ser maior. Naquela vez se puseram a caminho à luz do dia, como heróis. E agora saíam assim, furtivamente, esquivando-se como capangas.

A saga de Alfadas Mandredson

A primeira viagem

Ainda no mesmo inverno, Mandred e Alfadas deixaram lado a lado o reino dos albos. O pai queria se certificar de que o filho era digno de um sucessor seu. Eles partiram com os príncipes elfos Faredred e Nuredred e procuraram aventuras onde elas se ofereciam. Eles jamais fugiam à luta, quem se colocasse em seu caminho se arrependeria antes mesmo de o primeiro golpe ser dado. Alfadas seguiu seu pai por lugares que nenhum habitante dos fiordes já vira antes. Mas o filho de Torgrid preocupava-se demais com o seu rebento. Instruiu-o na luta com o machado, mas só raramente permitia que Alfadas pusesse à prova o seu conhecimento. E sempre que o perigo era grande, o filho de Mandred era incumbido de vigiar os cavalos ou o acampamento.

Um ano se passou, e Alfadas então disse a Mandred: “Pai, como posso aprender a ser como você se sou sempre protegido de qualquer perigo? Se você sempre temer que algo aconteça a mim, então nunca me tornarei o jarl de Firnstayn”.

Mandred reconheceu que até então estava privando sua carne e sangue de qualquer glória. Pediu conselhos aos príncipes elfos. Eles disseram-lhe que deveria submeter seu filho a uma prova. Então, à noite, Mandred saiu furtivamente para subir uma montanha cheia de perigos. Ao chegar ao cume, cravou o seu machado no chão e, sem ele, retornou até o vale. Na manhã seguinte, disse a Alfadas: “Suba aquela montanha e apanhe o que escondi lá em cima”.

Alfadas então partiu. Mandred foi tomado pela preocupação, pois a subida da montanha era repleta de perigos. Alfadas, contudo, esforçou-se e finalmente encontrou uma caverna no cume. Lá havia uma espada no gelo. Apanhou-a e escalou até o topo para desfrutar a vista. Encontrou o machado do pai, mas deixou-o onde estava e retornou ao vale para junto dos outros. Eles ficaram admirados ao ver a espada desconhecida. Somente Mandred se aborreceu: “Filho! Essa não é a arma que escondi lá em cima”.

Alfadas, então, retrucou: “Mas, pai, a única arma escondida lá era esta espada. O seu machado estava exposto, enfiado no gelo do cume. Se eu tivesse a visão de uma águia, certamente poderia vê-lo daqui. Você me indicou o alvo errado, embora tenha me mostrado o caminho correto”.