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Então Mandred precisou escalar a montanha mais uma vez para buscar o seu machado e retornou praguejando. Mas, quando Faredred e Nuredred esclareceram ao filho de Torgrid que reconheciam na espada de Alfadas uma nobre espada da Terra dos Albos, a ira de Mandred desapareceu e ele ficou orgulhoso de seu filho, pois a espada era digna de um rei. Alfadas decidiu que seria a sua arma no futuro, porque fora um presente de Luth. Disse ao pai: “O machado é a arma do pai, e a espada, a do filho. Assim pai e filho nunca poderão ser comparados um ao outro”.

Seguiram viagem, mas Mandred ainda tinha dúvidas quanto a seu filho. Pouco depois, cruzaram uma cordilheira. Dizia-se que um troll vivia ali. À noite, ouviram o som de marteladas e pensaram que o troll queria assustá-los. Faredred e Nuredred então decidiram descer para abater o monstro, mas Mandred os deteve. Disse ao filho: “Vá você até o troll! De suas ações tirarei a sua medida”.

Alfadas desceu corajosamente até a caverna do troll. Encontrou-o em pé ao lado de uma bigorna. O troll o viu e ergueu seu martelo. Então Alfadas ameaçou-o com sua espada e disse: “Uma parte de mim vê um inimigo e diz: acabe com ele! Outra parte vê um ferreiro diante dos olhos. Decida o que você quer ser!”.

O troll preferiu ser seu inimigo e atacou-o. Mas Alfadas desviou dos pesados golpes de martelo e o fez sentir sua espada. Então o troll se rendeu e disse: “Meu nome é Glekrel, e se você poupar a minha vida, irei dar-lhe um presente digno de um rei”.

Alfadas não confiou no troll. Mudou de ideia quando a criatura apanhou uma armadura élfica e a entregou a ele. Alfadas, cheio de alegria, despiu a sua para vestir a que ganhara. Mas, antes que estivesse pronto, foi atacado novamente. Então o jovem guerreiro foi tomado por uma fúria tamanha que arrancou uma das pernas do troll. E seguiu seu caminho, levando a armadura élfica no corpo. Até hoje a armadura está em posse do rei e lembra esses dias passados. Mesmo os trolls conhecem o ocorrido, pois Glekrel sobreviveu e narrou o que o filho de Mandred lhe fizera.

Na manhã seguinte, Alfadas retornou para seus companheiros. E, quando Mandred viu o filho, ficou novamente orgulhoso de ser seu pai. Alfadas agora realmente tinha o aspecto de um rei.

A seguir, os companheiros percorreram as campinas do sul, depararam-se com um vasto mar e poderosos reinos. Realizaram grandes feitos, de forma que seus nomes ainda hoje estão na boca de todos. Certa vez, fizeram recuar uma centena de guerreiros de Angnos para salvar uma aldeia que lembrava a jovem Firnstayn. Também libertaram as celebrações de Rileis de seus espíritos. Em numerosos duelos, Alfadas mostrou-se um hábil espadachim, comparável a Faredred e Nuredred. Então já haviam se passado mais dois anos quando Mandred e Alfadas, por amizade aos príncipes elfos, os seguiram até a cidade de Aniscans. Ali os príncipes queriam procurar uma certa criança trocada...

Conforme narrativa do bardo Ketil, Livro 2 da biblioteca do templo de Firnstayn, pág. 42

O milagreiro de Aniscans

Três anos se passaram desde que os guerreiros deixaram a Terra dos Albos. Ainda assim, todos os dias havia algo de novo para Nuramon descobrir no mundo dos humanos. As línguas humanas o interessavam em especiaclass="underline" já havia aprendido muitas delas. Por isso se surpreendia com o quanto era difícil para Mandred aprendê-las. Alfadas, que Mandred sempre chamava de Oleif, embora esse nome humano lhe fosse estranho, tinha as mesmas dificuldades com isso. A esse respeito, pouco parecia servir-lhe o fato de ter crescido entre elfos. Que estranhos eram os humanos!

A busca pelo filho de Noroelle não dera resultado até então. Tinham cruzado as grandes florestas de Drusna; passado pelo Reino de Angnos, devastado pela guerra; procurado durante muitas luas nas esparsas Ilhas Aegílicas e, por fim, chegado ao Reino de Fargon. Era um lugar verde e fértil; um lugar que queria ser conquistado pelos humanos, como Mandred sempre repetia. Muitos refugiados de Angnos chegaram ali nos últimos anos, trazendo suas crenças. Alguns dos poucos humanos que já viviam ali há gerações recebiam os estranhos com curiosidade, enquanto outros os viam como uma ameaça.

Os companheiros tinham seguido muitos rastros. Sua única esperança era que o filho de uma elfa com um devanthar possuísse poderes mágicos. Se ele fizesse uso desse dom, destacaria-se entre os demais. Os humanos falariam dele. Então, os guerreiros iam atrás de cada história sobre feitiços ou milagres contada entre os homens. Até então tinham se decepcionado todas as vezes.

Enquanto os elfos e Alfadas mostravam-se caçadores resistentes, com o passar dos anos faltava a Mandred cada vez mais paciência. Frequentemente se embebedava, como se quisesse esquecer que uma vida humana podia ser curta demais para a busca pelo filho do demônio.

Nuramon se surpreendia que Alfadas, ao contrário do pai, mantinha a calma como um elfo. Suportava até as horas de lições com Mandred com uma paciência que beirava a abnegação. Alfadas parecia ter herdado muito pouco do pai, exceto talvez pela cabeça-dura, pois mesmo depois de três anos continuava se recusando a reconhecer o machado como rei de todas as armas, o que visivelmente dava muito prazer a Ollowain.

Uma nova primavera irrompera. Eles desciam as montanhas para seguir uma pista na cidade de Aniscans. Nomja, Yilvina e Alfadas já tinham se tornado amigos havia tempo e isso fazia com que às vezes lhes faltasse a seriedade necessária durante a busca. Gelvuun seguia sendo um lobo solitário, que mal separava os dentes. Um dia, Farodin revelou que certa vez os trolls quebraram todos os dentes de Gelvuun. Por isso ele não abria a boca. Até hoje Nuramon não sabia se isso era só uma brincadeira.

Ollowain era o único a não perder de vista o dever que fora imposto a eles. Fazia-os ficar pouco tempo em cada lugar e seguir viagem rápido sempre que uma pista não dava em nada.

Farodin, em contrapartida, deixava o grupo toda vez que podia. Era ele quem se dispunha voluntariamente a explorar o caminho. A Nuramon às vezes parecia que Farodin não buscava a criança, mas procurava alguma outra coisa em segredo. Talvez também estivesse tentando protelar a viagem para não ter de cometer o assassinato contra o filho de Noroelle.

Mandred cavalgava ao lado de Nuramon; juntos, conduziam sua pequena tropa ao longo da descida por entre as colinas. O filho de humanos, cuja amizade Nuramon aceitara na caverna de gelo, sempre os divertia com suas palavras e atos, fazendo os elfos se esquecerem por um tempo do motivo pelo qual viajavam. Mesmo quando o juízo retornava logo depois da alegria — a consciência de que o objetivo deles poderia ser o começo de uma existência marcada por sofrimentos da alma —, Nuramon estava contente de que Mandred tivesse o dom de diverti-los.

— Você ainda se lembra da vez em que encontramos aqueles ladrões? — perguntou Mandred, sorrindo. A noção de tempo que o filho de humanos tinha era diferente da de um elfo. Um ano se passava e ele já se regalava com lembranças. O mais estranho era que Nuramon também se contagiava com a sensação de terem vivido muita coisa e, por isso, de muito tempo ter se passado.

— De que ladrões você está falando? — Tinham encontrado alguns. E a maioria fugira deles imediatamente.

— Os primeiros. Os que realmente se defenderam.

— Sim, eu me lembro. — Como ele poderia esquecer os saqueadores de Angnos? Ele e os outros elfos tinham vestido seus casacos de capuz e não foram reconhecidos num primeiro momento como filhos dos albos. Foi uma descoberta ruim para os ladrões. Não queriam se render, pois se achavam infinitamente superiores. Então, tiveram de descobrir de forma dolorosa a diferença entre força e poder.

— Aquela, sim, foi uma luta! — Mandred olhou ao redor. — Bem que eu queria que alguns ladrões de galinhas estivessem agora à nossa espreita.

Nuramon ficou em silêncio. Esse desejo de Mandred só podia significar uma coisa: hoje à noite Alfadas tinha de estar pronto para mais uma prova. Mandred não desistia de tentar entusiasmar seu filho pela luta com o machado. Mas Alfadas provava uma vez depois da outra que era capaz de se igualar a ele, mas na luta com a espada. Quando Mandred era superado por seu filho, Nuramon nunca entendia muito bem os sentimentos do guerreiro. Ficava orgulhoso ou ofendido? Certa vez, Nuramon até suspeitou que Mandred estivesse secretamente se refreando no exercício de luta, preocupado que pudesse ferir Alfadas.