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Farodin puxou a espada e golpeou o sacerdote no vitral bem em seu rosto deformado de dor. A vidraça quebrou-se com grande ruído. Com poucos golpes, o elfo arrancou as armações de chumbo dos fragmentos de vidro para que pudessem pisar no nicho da janela e observar os agressores na praça do templo.

Farodin ouviu os sacerdotes se lamentarem na galeria. Escutou nitidamente a voz de Guillaume:

— Por Tjured, ele destruiu o retrato de São Romuald. Estamos perdidos!

Farodin recuou um pouco no nicho para que não pudesse ser visto da praça. A torre do templo estava cercada por um andaime de madeira. Pouco mais de meio metro abaixo da janela, havia uma plataforma estreita para os trabalhadores. De lá era possível subir mais pelo andaime. Desconfiado, Farodin examinou as escoras de madeira. Para ele, tudo parecia inacabado.

Lateralmente à torre do templo havia uma casa para peregrinos. Sua fachada era dividida por nichos onde havia estátuas de santos. Era mais enfeitada que a torre onde os humanos rezavam para Tjured. Com um pouco de ousadia, era possível pular do andaime sobre o telhado. A partir dali podiam passar para outros telhados e escapar dos enviados do rei.

Farodin atravessou a janela, voltando para dentro. Os sacerdotes o aguardavam de cara fechada. Sem poder fazer nada, Nuramon deu de ombros:

— Eu não os entendo.

— Mas o que há de tão difícil para entender? — perguntou um sacerdote jovem e ruivo. — Vocês destruíram um retrato de São Romuald. Ele era um homem colérico, que encontrou tarde o caminho para Tjured e que foi assassinado pelos pagãos nas florestas de Drusna. Amaldiçoou todos que levantaram a mão contra ele. Em poucos anos, seus assassinos estavam mortos. Os pagãos ficaram tão impressionados com isso que passaram a crer em Tjured aos milhares. Dizem que sua maldição ainda vigora. Quem profana um de seus retratos tem de contar com o pior. Mesmo como santo, Romuald continuou um homem colérico.

Farodin não acreditava no que ouvia. Como podiam crer numa loucura dessas?

— Vocês não fizeram nada. A maldição de Romuald só vai atingir a mim. Não precisam se preocupar, nós... — A porta do templo arrebentou sonoramente.

— Nuramon, vá na frente. Conduza os sacerdotes. Precisamos escalar o andaime, um a um, e então saltar para a casa vizinha. Assim damos menos na vista. E não devemos sobrecarregar o andaime com muito peso.

Lá embaixo, no átrio, soavam os gritos dos guerreiros.

— Joguem o óleo das lâmpadas no andaime depois de fugir.

— Por que eu? — perguntou Nuramon. — Você conhece o caminho...

— E eu luto melhor com a espada.

Nuramon encarou-o ofendido.

— Vá! Eu vou segurá-los.

Ouviam passos pesados na escada em caracol. Farodin agarrou as lâmpadas e jogou-as degraus abaixo. Então rasgou uma manga de sua camisa e a embebeu em óleo. Pôs fogo no tecido com o pavio de uma lâmpada. O óleo não era de boa qualidade e o fogo demorou para pegar; uma fumaça densa e escura subiu quando o pano finalmente começou a queimar. O elfo lançou a manga escada abaixo e observou como as chamas queimaram rápido o óleo derramado e o fogo consumiu o tecido num instante... e se apagou.

Perplexo, Farodin examinou os degraus. A qualidade do óleo era mesmo terrível! Um primeiro guerreiro surgiu na beirada da escada. Amedrontado, escondia-se detrás de seu escudo. A visão do elfo o fez hesitar. Então foi empurrado pelos guerreiros que o seguiam e obrigado a prosseguir.

Farodin esticou-se, alongando os músculos. Estava decidido a ter uma boa luta contra os humanos. De canto de olho, viu um grupo mirar suas flechas no átrio inferior. A direção dos tiros foi péssima. As flechas bateram no revestimento de madeira da galeria e uma das grandes janelas quebrou-se com ruído.

Impulsionado pelos gritos enfurecidos de seus companheiros, o escudeiro deu mais um salto para a frente e escorregou nos degraus cobertos de óleo. Caiu pesadamente pela escada e levou vários de seus camaradas consigo.

— Venha! — Guillaume estava de pé no nicho da janela, acenando para Farodin. — Os outros já estão no telhado.

O elfo embainhou a espada. Guillaume agarrou seu braço e o puxou para cima, para o nicho da janela. Apesar de ser magro, o sacerdote era surpreendentemente forte. Só com uma mão ajudara Farodin a subir. Seria essa força uma herança de seu pai?

Uma flecha atingiu ruidosamente o topo arqueado do nicho da janela. Ouvia-se a voz do líder dos guerreiros na praça do templo. Tinha descoberto a rota de fuga.

— Vá na frente! — disse Farodin.

O sacerdote hesitou.

— O que você está esperando?

— Eu... eu tenho medo... de altura. Se olhar para baixo fico paralisado. Eu... eu não consigo. Deixe-me para trás!

Farodin agarrou Guillaume rudemente pelo braço.

— Então nós vamos juntos!

Arrastou-o até a beirada do nicho. Juntos pularam sobre a plataforma de madeira sob a janela. O andaime tremeu com o impacto. Com o coração batendo forte, Farodin espremeu-se contra a parede de pedra. Um golpe surdo soou, e o andaime inteiro balançou novamente. Em algum lugar embaixo deles uma viga de madeira se soltou e despencou sonoramente nas profundezas.

Quando o andaime tremeu uma terceira vez, Farodin curvou-se sobre a borda e viu com horror o que acontecia. Lá embaixo, diante da porta, um grupo de guerreiros agarrara uma barra grossa e batia-a continuamente contra a viga de sustentação do andaime. Aqueles tolos pareciam não perceber que eles mesmos seriam enterrados sob os escombros, se o andaime de quase quinze metros de altura desmoronasse!

Algo partiu-se sob eles. Sentiram um solavanco quando uma das plataformas de construção se inclinou e despencou nas profundezas, destruindo algumas vigas de sustentação.

Farodin sentiu seu estômago encolher dolorosamente. Só mais alguns instantes e todo o andaime viria abaixo.

— Cuidado! — soou a voz do sacerdote.

O elfo deu meia-volta. No mesmo momento o guerreiro que escorregara degraus abaixo pisou sobre o estrado. Um som de estilhaços acompanhou o impacto da subida do pesado homem. Atacou com seu pesado machado, num golpe rápido.

Farodin deixou-se cair para desviar do golpe. Queria enganchar um pé por trás do calcanhar do agressor, quando a plataforma cedeu. Por reflexo, o elfo agarrou-se em um pilar de madeira enquanto seu oponente despencou, agitando os braços. Naquele momento pareceu que a pesada plataforma encontrara um equilíbrio instável. Estava inclinada para baixo num ângulo íngreme.

O coração de Farodin batia como um trovão. Precisavam ir adiante e sair do andaime. Como se quisesse enfatizar esse seu pensamento, uma seta disparada por uma besta cravou-se na madeira a um palmo de sua cabeça. O sacerdote se salvara sobre uma tábua estreita que dava em uma escada, pela qual era possível descer até o nível seguinte do andaime. Guillaume enlaçara os braços ao redor dos joelhos e espremia-se o quanto podia contra a parede da torre. Nuramon e os dois sacerdotes de Tjured estavam no telhado da casa dos peregrinos, para fugir da mira dos besteiros da praça do templo. Farodin viu o líder da guarda enviar pequenas tropas de homens para cercar a casa. A tentativa de fuga falhara.

Com muito barulho, o aríete chocou-se contra a pilastra do andaime. Chiados e rangidos percorreram a frágil construção de madeira. A plataforma ao lado de Farodin inclinou-se. Angustiado, o elfo olhou para baixo. Como uma gigantesca lâmina de machado, várias vigas transversais se romperiam assim que se soltasse.