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Farodin pendurou-se em uma viga ao longo da tábua onde Guillaume estava agachado. O sacerdote tinha os olhos fechados e rezava em voz baixa.

— Precisamos sair daqui — gritou Farodin. — Tudo vai despencar a qualquer momento.

— Eu não consigo — gemeu Guillaume. — Não consigo me mover nem mais uma polegada. Eu... — ele soluçou. — Meu medo é mais forte que eu.

— Você tem medo de cair? Se você não se mexer, então vamos morrer os dois!

Como se quisesse reforçar as palavras de Farodin, um novo solavanco percorreu o andaime. A plataforma danificada balançava para a frente e para trás. De repente ouviu-se um estampido agudo. O último suporte cedera sob o peso, e a plataforma despencou no vazio.

Farodin agarrou o sacerdote e empurrou-o para a frente. Como um enorme machado, a plataforma de obras rompeu madeiras e vigas. Um pedaço inteiro do andaime soltou-se da parte principal e inclinou-se lentamente na direção do carvalho na praça do templo.

O pânico deu a Farodin uma força inimaginável. Ele levantou o sacerdote e carregou-o nos braços como uma criança grande. Apavorado, Guillaume se agarrava a ele. O elfo mal era capaz de ver onde pisava.

Agora tudo no andaime parecia estar em movimento. A tábua em que andava tremia cada vez mais forte. Horrorizado, Farodin viu os ganchos de fixação no muro do templo se quebrarem. Não conseguiriam mais descer a escada até a plataforma que os levaria com um pequeno salto até o telhado da hospedaria. Precisariam tentar um pulo de uma altura maior!

Então, correu como raras vezes correra na vida. Vigas e hastes de madeira choviam do alto sobre eles. O andaime chacoalhava para lá e para cá. O elfo sabia que carregando Guillaume era difícil conseguir dar um salto muito longo. Como alguém que se afoga e, com medo, puxa seu salvador para baixo junto consigo, o sacerdote não largava o elfo.

Sem aviso prévio, a tábua em que estavam vergou-se. Mais dois passos e alcançariam o ponto certo para saltar... Na queda, Farodin agarrou uma corda que estava enroscada ao redor da viga de sustentação, que igualmente curvou-se para o chão.

Algo pesado como o punho de um troll atingiu Farodin nas costas. Sentiu várias costelas se partirem. A corda de suporte balançara na direção da casa de peregrinos e agora oscilava de volta.

Semiconsciente, Farodin soltou a corda que segurava. Guillaume deu um grito estridente enquanto caíam. Despencaram com força sobre o telhado. Ripas de madeira se despedaçaram com o choque. Farodin foi jogado em outra direção e, sem força, rolou seguindo a inclinação da superfície, escorregando sobre a beirada do telhado. Com a mão esquerda, ainda conseguiu segurar-se em uma viga horizontal diante dele. Seu corpo balançou e bateu com força contra o muro da construção.

— Ali está um deles — gritou alguém de baixo.

Farodin segurava-se firmemente com ambas as mãos na viga, mas suas forças já não eram suficientes para lançar-se para cima. Flechas de bestas cravaram-se ao seu redor.

Com um estrondo ensurdecedor, o andaime junto ao templo veio abaixo. Uma imensa nuvem de poeira cobriu a praça.

Uma pancada atingiu a coxa direita de Farodin. O elfo berrou de dor. Uma flecha transpassara sua perna e fincara-se, suja de sangue, na parede da construção.

Lentamente, os dedos de Farodin escorregavam da beirada da viga. Sua vontade se despedaçara. Não era mais capaz de lutar.

— Segure a minha mão.

Farodin encarou os olhos azuis arregalados de medo de Guillaume que, debruçado no telhado, estendia-lhe a mão.

— Eu não consigo mais...

— Tjured, afaste o meu medo — murmurou o sacerdote.

Sua face brilhava de suor quando avançou um pouco mais e agarrou o pulso de Farodin. Com um tranco que quase deslocou seu braço, o elfo foi puxado para cima do telhado.

Farodin arfava. Estava com frio. Seu ferimento na coxa sangrava muito.

Guillaume, que enroscara um pé entre os caibros para encontrar apoio, ergueu metade do corpo. Olhava a ferida com preocupação.

— Vou amarrar sua perna para fazer um torniquete. Senão você vai...

Uma última fagulha de vida acendeu-se em Farodin. Assustado, rastejou para se afastar do sacerdote.

— Não me toque. Você... Não tente me...

Guillaume riu cansado.

— Amarrar. Não falei de cura. Eu só queria... — Ele tossiu. Sangue escorreu de seus lábios. O sacerdote apalpou a boca e olhou para os dedos ensanguentados. Uma mancha escura crescia rápido em seu hábito. Uma flecha de besta o atingira sob as costelas e atravessara o seu tronco.

De repente Guillaume tombou para o lado como uma árvore. Farodin tentou agarrá-lo, mas tudo foi rápido demais. O sacerdote despencou pela beirada do telhado. Farodin pôde ainda ouvir o filho de Noroelle estatelar-se contra o chão da praça do templo.

As janelas muradas

O estrondo do andaime despencando pôde ser ouvido até na montanha do vinhedo. Mandred apertou os olhos na clara luz da manhã. Os guerreiros forasteiros penduravam algo no carvalho da praça do templo, mas ele estava muito distante para ver direito o que acontecia lá.

— Precisamos ir até a cidade — disse Mandred insistentemente.

— Não — repetiu Ollowain pela terceira vez. — Por acaso nós sabemos o que está acontecendo ali? Provavelmente Nuramon e Farodin estão escondidos em algum lugar esperando que esses incendiários sumam de lá.

— Provavelmente não basta para mim! — Mandred agitou-se na sela. — Pelo visto, na língua dos elfos a palavra amigo tem um significado diferente do nosso — completou ele. — Em todo caso, não vou ficar mais aqui sentado sem fazer nada. O que vocês vão fazer? — disse olhando para Oleif e para ambas as guerreiras. Das elfas, ele não esperava muito. Eram totalmente submissas a Ollowain. Mas seu filho... Cavalgaram juntos por três anos. Será que em todo esse tempo não conseguira ensinar a ele ao menos um pouco do senso de honra? É claro que Mandred sabia que sozinho não conseguiria fazer nada e, sim, mesmo em cinco eles não conseguiriam vencer os inimigos, que estavam em maior número. Mas ficar simplesmente esperando ali, com a esperança de que seus amigos fossem embora, não era como um homem deveria se portar.

Oleif lançou um olhar de interrogação para Ollowain. O filho parecia surpreso com o comportamento do mestre da espada.

— Vocês todos viram que quase cem homens atravessaram a ponte cavalgando no raiar da manhã — disse Ollowain.

Mandred acariciou o cabo do machado que pendia de sua sela.

— Essa promete ser uma luta empolgante. Pelo que estou vendo, as proporções estão quase equilibradas. — Ele puxou as rédeas e guiou seu cavalo pela trilha estreita que descia da montanha até o vale.

Ao chegar à estrada que levava à cidade, ouviu um bater de cascos atrás de si. Não se voltou, mas seu coração se encheu de orgulho. Dessa vez Oleif não agia como um elfo.

Cavalgaram calados lado a lado. Seu silêncio dizia mais que palavras poderiam expressar.

Cinco guerreiros guardavam a ponte. Mandred viu um dos homens preparar uma besta. Um rapaz corpulento, de cabeça raspada, pôs-se no caminho deles. Apontou a ponta da lança contra o peito de Mandred.

— Em nome do rei, deem meia-volta. Esta ponte está bloqueada.

Mandred sorriu simpático, e arqueou-se para a frente. Sua mão direita escorregou até o nó de couro que prendia o machado à sela.

— Negócios urgentes me trazem a Aniscans. Por favor, libere a minha passagem, amigo.

— Desapareçam daqui, ou vou rasgar sua barriga e pendurá-lo pelas próprias tripas na primeira árvore que encontrar. — A lança do guarda avançou palpitante e parou a poucos dedos da garganta de Mandred.

Mandred ergueu o machado como um raio e despedaçou o cabo da arma. Um golpe de revés destroçou o crânio do guarda.

O jarl abaixou-se rente à nuca do cavalo para dificultar a mira dos besteiros. Oleif pulara da sela e causava estragos nos guardas desprevenidos. Esquivava-se de suas lanças e girava sua espada por círculos mortais. Nem escudos nem trajes de malha de ferro ofereciam resistência ao aço élfico. Em poucos instantes os cinco guerreiros jaziam no chão.