"Davai, davaü", grunhiu nervosamente o coronel Pryakhin, tentando apressá-los. "Mexam-se!"
Com as duas arcas na sua posse, e deixando para trás apenas um homem de guarda ao camião, os cinco acompanharam o oficial russo em direcção à entrada de serviço e penetraram no edifício.
A temperatura lá dentro era acolhedora e os intrusos tiraram as luvas, mas mantiveram os sobretudos. Ruslan olhou em redor, avaliando as instalações. O interior era iluminado por uma luz amarelada e as paredes de betão pareciam incrivelmente grossas.
"Têm oito metros de espessura", disse o coronel ao ver Ruslan a contemplar as paredes. Apontou para cima. "E o tecto está coberto por cimento, alcatrão e cascalho."
O oficial russo conduziu os intrusos pelos corredores desertos, virando consecutivamente à direita e à esquerda, até que se imobilizou numa esquina e olhou para trás, encarando Ruslan.
"Daqui para a frente já não vou", sussurrou. "No próximo corredor situa-se a sala de monitorização vídeo, que vigia o acesso e também todo o interior do cofre. Comojá vos^expli-quei, estão lá dois homens.
Mais à frente, ao fundo do corredor, há umas escadas e lá em cima fica a antecâmara com a entrada do cofre. Lembrem-se de que os dois funcionários que lá se encontram são imprescindíveis para aceder ao cofre. Um tem uma parte do código, o outro tem a outra. Se vocês apenas controlarem um deles, só terão acesso a metade do código. E por isso que..."
"Eu sei", cortou Ruslan com súbita rispidez, como quem ordena silêncio.
O coronel calou-se por um momento e fitou intensamente o chefe do comando, a avaliá-lo. Estava habituado a dar ordens àquele tipo de gente, não a recebê-las.
"Boa sorte", resmungou enfim.
Ruslan voltou-se para trás e cravou os olhos em dois dos seus homens.
"Malik. Aslan." Fez um movimento curto com a cabeça. "Vão."
Os dois homens empunharam as pistolas com silenciadores, cruzaram a esquina e avançaram em surdina pelo corredor. No lado direito abria-se uma porta e lá dentro havia luz. Mergulharam ambos nessa sala e, de imediato, houve uma breve agitação, que culminou em quatro plocs surdos das armas a serem disparadas.
Sem esperar pelos companheiros, Ruslan e os outros dois homens avançaram pelo corredor com as duas arcas que tinham trazido do camião e só pararam quando se lhes depararam as escadas.
Escalaram-nas com cautela e deram com a antecâmara; era uma sala protegida por grades, parecia uma jaula.
"Quem vem aí?", perguntou uma voz. Um quarentão barrigudo ergueu-se de uma secretária e aproximou-se das grades para encarar os desconhecidos. "Quem são vocês?"
"Sou o tenente Ruslan Markov", identificou-se o desconhecido do outro lado das grades, fazendo continência. Apontou para as duas arcas que os seus companheiros traziam. "Viemos da fábrica química de Novossibirsk com material para armazenar."
"A esta hora?", estranhou o barrigudo. "Isto não é regulamentar. Qual é o protocolo que vocês estão a seguir?"
Depois de passar os olhos pela placa com o nome que o barrigudo ostentava ao peito, Ruslan extraiu o telemóvel e digitou um número. Ao segundo toque, uma voz atendeu do outro lado e Ruslan estendeu o telemóvel por entre as grades.
"É para si."
O barrigudo olhou o telemóvel com surpresa e, as sobrancelhas cerrando-se num ar intrigado, pegou no aparelho e encostou-o ao ouvido.
"A//of"
"Vitaly Abrosimov?", perguntou uma voz do outro lado da linha.
"Sim, sou eu. Quem fala?" "Vou-lhe passar a sua filha Irina."
Ouviu-se um som embrulhado no outro lado e um fio trémulo e medroso de voz percorreu a linha.
"Está? Pai?" "Irisha?"
"Paizinho." A filha soluçou, a voz molhada pelas lágrimas. "Eles dizem que me matam. Matam-me a mim e à mãezinha." "O quê?"
"Têm armas, paizinho." Mais um soluço. "Dizem que nos
matam. Por favor, vem..."
^ m
A frase foi interrompida por um clic e seguiu-se o som contínuo característico de linha desligada.
"Irisha!"
Os olhares de Vitaly e de Ruslan cruzaram-se entre as grades, um de receio e interrogação, o outro de autoridade e afirmação.
"Abre a porta!", ordenou Ruslan.
Vitaly recuou um passo, sem saber o que fazer, o medo estampado no rosto.
"Quem são vocês? O que desejam?"
"Queres ver a tua família viva?", perguntou o intruso, retirando do bolso uma máquina fotográfica digital. Ligou a câmara e exibiu o pequeno ecrã na direcção de Vitaly. "Olha esta fotografia. Foi tirada há uma hora em Ozersk."
O barrigudo viu no ecrã a imagem da filha e da mulher, ambas a chorar, cada uma com os cabelos agarrados por uma mão masculina e a lâmina serrada de uma faca militar colada ao pescoço.
"Meu Deus!"
"Abre a porta imediatamente!", ladrou Ruslan, guardando a máquina.
Com as mãos a tremer, Vitaly tirou a chave do bolso das calças e apressou-se a destrancar a porta.
Os três homens entraram de rompante na antecâmara, as Kalashnikov apontadas para o guardião do cofre.
"Por favor, deixem-nas em paz", implorou Vitaly, recuando e com as mãos coladas numa prece. "Elas não fizeram nada, deixem-nas em paz."
Ruslan fixou os olhos negros na grande porta de aço ao fundo da antecâmara, o símbolo nuclear colado ao centro.
"Abre o cofre!"
"Não lhes façam mal."
O intruso pegou em Vitaly pelos colarinhos e puxou-o para si.
"Ouve-me bem, pedaço de esterco", rosnou. "Se abrires este cofre e os alarmes soarem, garanto-te que as tuas meninas serão cortadas aos bocadinhos, percebeste?"
"Mas não sou só eu quem tem o código..."
"Eu sei", assentiu Ruslan. "Chama o teu amiguinho.
Mas sem levantar suspeitas, hã?"
Sempre a tremer e com gotas de transpiração a escorrerem--lhe da testa, Vitaly sentou-se na secretária, respirou fundo, pegou no telefone e digitou o número.
"Misha, vem cá." Pausa. "Sim, agora. Preciso de ti."
Mais uma pausa. "Eu sei que é tarde, mas preciso de ti imediatamente." Ainda outra pausa. "Blin, vem cá, já te disse! Despacha-te, anda."
Desligou o telefone.
"Onde está ele?", quis saber Ruslan.
Vitaly olhou de esguelha para uma porta lateral.
"No quarto, a dormir. Não se esqueçam de que são duas da manhã."
Ruslan olhou para os dois homens que o acompanhavam e fez um gesto na direcção da porta.
Sem uma palavra, os elementos do seu comando foram imediatamente pôr-se em posição, ambos encostados à parede, um de cada lado da passagem.
A porta abriu-se e o rapaz que entrou foi imediatamente agarrado por trás.
"O que é isto?", protestou.
Ruslan ergueu a pistola, colou aos lábios o cano com o silenciador e arregalou os olhos. "Caluda!"
Sentindo-se imobilizado por dois homens e vendo um militar armado diante dele na antecâmara, o rapaz achou melhor obedecer.
"Tu e o Vitaly vão abrir o cofre."
O rapaz olhou para a porta de aço, incrédulo.
"O quê?"
Ruslan deu um passo em frente e fitou-o com intensidade.
"Presta atenção a isto que te vou dizer", murmurou, as palavras impregnadas de um tom de agressão latente. "Eu sei que existe um código secreto que abre o cofre e que ao mesmo tempo activa o alarme. Não é esse código que vais accionar.
Eu quero o verdadeiro código, percebeste?"
"Sim."
Ruslan sorriu sem humor e retirou a máquina fotográfica do bolso.
"Eu sei no que estás a pensar", disse, enquanto voltava a ligar a câmara. "Dizes-me que não activas alarme nenhum, metes o código de alarme e, cinco minutos depois, catra-pumba!, isto está cheio de homens do 3445." Colou o dedo às têmporas do rapaz. "Péssima ideia, Mikhail Andreev. Péssima ideia." Voltou o pequeno ecrã da máquina digital na direcção do seu prisioneiro. "Esta fotografia foi tirada há uma hora. Reconheces alguém?"