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Ayman percorria o corredor com a sua longa jalabiyya branca a roçar o chão e o rapaz vinha em silêncio dois metros atrás. Muito atento a tudo em seu redor, no entanto, o professor depressa se apercebeu de que estava a ser seguido e parou de repente para encarar Ahmed.

"O que é?", perguntou com inesperada rispidez.

"Porque vens atrás de mim?"

O rapaz quase se sobressaltou com o tom agressivo da interpelação e arregalou os olhos.

"Eu... eu preciso de falar consigo, senhor professor."

Ayman olhou de imediato em redor, como se procurasse uma ameaça escondida.

"Porquê? Passa-se alguma coisa?"

"Não, senhor professor. Sou eu que estou com umas... umas dúvidas."

"Dúvidas? Que dúvidas?"

"Dúvidas sobre o que diz o Alcorão."

O professor fez um ar interrogativo.

"Ora essa!", exclamou com admiração. "As coisas que Alá diz no Santo Alcorão são muito claras. Basta ler o que lá está e obedecer às Suas ordens."

"Pois, senhor professor, mas o mullab da minha mesquita está a dizer-me coisas diferentes."

"Que coisas?"

"Sobre os kafirun."

O corpo de Ayman descontraiu-se visivelmente.

Fez um gesto rápido com a mão para que o aluno o seguisse.

"Anda daí", ordenou, recomeçando a avançar pelo corredor. "Vamos ali ao meu gabinete falar."

De novo a caminhar atrás do docente, Ahmed sentiu uma beatífica serenidade a envolvê-lo. O

professor Ayman sabia, tranquilizou-se enquanto o via deslizar na sua jalabiyya. Ele esclarecê-lo-ia quanto à verdade.

A verdade sobre os kafirun.

XI

Frank Bellamy indicou a loira que acabara de chegar.

"Apresento-vos Rebecca Scott, uma operacional da CIA que se encontra agora adstrita à NEST e que se junta à nossa pequena reunião."

Seguiu-se um coro de "hello" e "good afternoon"

com muitos acenos de cabeça e sorrisos; a recém-chegada era realmente vistosa e todos os olhares incidiram nela. A loira sentou-se ao lado de Bellamy e pousou a sua mala de executivo aos pés.

"A especialidade de miss Scott", continuou o orador, "está relacionada com a montagem e desmontagem de armas nucleares. Isto quer dizer que, se houver uma crise, ela é uma das pessoas que poderão ser chamadas de emergência para neutralizar uma bomba atómica. Além disso, miss Scott tem experiência de combate no Afeganistão." Fixou a atenção nela. "Olhando para este rosto bonito ficamos com a impressão de que estamos perante um anjo, não acham? Mas lembrem-se, meus caros: os dentes dela são feitos de aço!"

O grupo riu-se, embora ninguém tivesse a certeza de que se tratava de uma piada. Com modos muito profissionais, Rebecca endireitou-se na cadeira e enfrentou a mesa.

"Muito obrigado, mister Bellamy", começou ela por dizer. "É um prazer estar aqui convosco. Segundo me pareceu, do que escutei ao entrar aqui na sala, vocês já analisaram as possibilidades de os terroristas adquirirem uma bomba nuclear intacta."

"Exacto", confirmou Bellamy. "íamos agora ponderar os cenários ainda mais prováveis." Rebecca Scott assentiu.

"Bem, mais provável do que roubarem uma arma nuclear é os próprios terroristas construírem uma bomba dessas. É esse, aliás, o cenário mais preocupante. As probabilidades de se verificar são incrivelmente elevadas."

As pessoas à mesa carregaram as sobrancelhas, surpreendidas e intrigadas.

"Isso é possível?", quis saber Tomás, sem perder tempo a fazer-se notar pela beldade que iluminava a sala. "Repare que estamos a falar de uma bomba nuclear..."

"E depois?"

"Bem... suponho que não se construa uma bomba nuclear assim do pé para a mão." Rebecca ergueu dois dedos. "Bastam dois dias", disse. "Ou menos."

"O quê?"

"Construir uma bomba nuclear é facílimo. Sublinhe a palavra facílimo, por favor. A única dificuldade é mesmo arranjar material físsil. Se um grupo terrorista tiver esse material na sua posse e contar com um engenheiro minimamente competente, o resto é uma brincadeira de crianças."

"Está a falar a sério?"

"Não tenha dúvidas! A maior parte das pessoas pensa que

para construir uma bomba nuclear é necessário um mega-projecto com instalações e recursos gigantescos, como o

Projecto Manhattan, por exemplo. Nada mais errado.

As

instruções sobre como se monta uma bomba destas estão

divulgadas na Internet e em vários livros técnicos disponíveis

em qualquer boa biblioteca. É só ler." *

"Desculpe, mas não pode ser assim tão simples..."

"Há algumas dificuldades, claro", reconheceu ela.

"Mas, no essencial, a construção de uma bomba nuclear é realmente simples. Para que tenham uma noção, deixem-me explicar--vos o seguinte: existem dois tipos de bombas nucleares. Uma é a de plutónio, preferida pelas forças armadas por ser altamente físsil, o que permite provocar uma explosão com pequeníssimas quantidades, tornando-se portanto miniaturizável."

"Como as pastas de executivo russas."

"Isso mesmo. A bomba de Nagasáqui, por exemplo, era uma bomba de plutónio. Mas um engenho destes levanta alguns problemas delicados. O primeiro é a sua construção. A bomba de plutónio detona por implosão, o que requer uma engenharia complexa e muito minuciosa de simetria explosiva. Além do mais, o plutónio é de difícil manuseamento por ser altamente

radioactivo.

Basta

respirarmos

quantidades

ínfimas

deste

elemento

para

morrermos."

"Eu julgava que tinha dito que a construção de uma arma nuclear era uma brincadeira de crianças...", observou Tomás.

"E é", assegurou Rebecca. "Mas nenhum grupo terrorista irá para a bomba de plutónio, devido aos problemas que acabei de enumerar. A opção será sempre a bomba de urânio, do género da utilizada em Hiroxima. Trata-se de um engenho que usa urânio altamente enriquecido, contendo mais de noventa por cento do isótopo físsil U-235. Se estivermos na posse de urânio altamente enriquecido com esse isótopo, podemos montar uma bomba atómica em qualquer lado - até numa garagem."

"Está a brincar...", disse a professora Cosworth.

"Infelizmente não. Tendo urânio altamente enriquecido, a construção do engenho é de uma simplicidade infantil."

"Sim, mas o manuseamento do urânio altamente enriquecido há-de requerer cuidados especiais", argumentou Tomás. "Não nos podemos esquecer de que estamos a lidar com material radioactivo. Que eu saiba isso não se faz numa... numa garagem!"

"Basta uma garagem", repetiu Rebecca, categórica.

"Reparem, o que é exactamente o urânio altamente enriquecido? Em forma natural, o urânio é constituído por três isótopos: U-234, que é residual, U-235 e U-238. Para efeitos militares, apenas interessa o U-235. O problema é que, quando se extrai o urânio da terra, a presença deste isótopo é inferior a um por cento. A esmagadora maioria do urânio em estado natural é constituída pelo isótopo U-238. E preciso, pois, processar o urânio em centrifugadoras de modo a eliminar o U-238 e enriquecer a proporção do isótopo U-235. Estão a perceber?"

"E isso o enriquecimento?"

"Exacto. Procura-se enriquecer o urânio com o isótopo U-235. E essa é a única parte complexa da produção de uma bomba atómica. O urânio extraído da terra é esmagado e molhado em ácido sulfúrico, de modo que só sobreviva o urânio puro. Esse urânio puro é secado e filtrado, transformando-se num pó chamado yellowcake. Este pó é então submetido a um gás a temperaturas elevadas e convertido assim num composto gasoso que depois é enviado para máquinas de rotação supersônica chamadas centrifugadoras. À