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medida que as centrifugadoras rodam, os diferentes pesos dos isótopos levam-nos a separarem-se, com o mais pesado, o U-238, atirado para o exterior das centrifugadoras e o mais leve, o U-235, a fixar-se mais perto do eixo. O gás vai passando de centrifugadora em centrifugadora, extraindo a cada passo mais U-235. Este processo requer cerca de mil e quinhentas centrifugadoras a trabalharem em cascata durante um ano até se conseguir apurar U-235 suficiente para cruzar o ppnto arítico de detonação. Nessa altura o gás é convertido num pó metálico, chamado óxido de urânio, e finalmente num metal cinzento, de preferência com a forma de um ovo. Ao tocarmos nele verificamos que é frio e seco.

Bastam..."

"Ao tocarmos nele?", insistiu Tomás. "Mas esse urânio não é radioactivo?"

"Claro que é radioactivo", confirmou ela. "Mas tem baixa toxicidade. O urânio altamente enriquecido é tão tóxico como... sei lá, como o chumbo, por exemplo. Se uma pessoa respirar ou engolir traços deste elemento irá sentir-se mal disposta, claro, mas apenas isso. O urânio altamente enriquecido é moderadamente radioactivo, o que significa que pode ser manuseado sem luvas e até transportado numa simples mochila. Com um pouco de protecção nem sequer é assinalado pelos detectores de radiação, vejam só!"

"Good beavensV\ exclamou a professora Cosworth, horrorizada.

"É por isso que uma bomba atómica de urânio é tão interessante para os terroristas. Podemos até dormir com uma pequena quantidade deste material debaixo da almofada!" Ergueu o indicador. "Mas, atenção, há alguns cuidados que é preciso ter. O

urânio altamente enriquecido não pode ser amontoado a partir de determinadas quantidades, uma vez que ocasionalmente os átomos de U-235

dividem-se de forma espontânea, disparando neutrões que, a partir de uma massa com urna certa dimensão, poderiam dividir um número de átomos suficiente para provocar uma reacção em cadeia e uma consequente explosão nuclear. O quê eu quero dizer é que há um valor crítico de massa de urânio enriquecido que não pode ser cruzado. Se estivermos na posse deste material, temos de ter o cuidado de o manter separado em pequenas quantidades subcríticas, perceberam?"

"No caso do urânio altamente enriquecido, qual é o valor crítico?", quis saber Tomás, infinitamente curioso. "Como é que eu sei que a quantidade de material na minha posse é sub-crítica ou crítica?"

"A massa crítica de urânio é inversamente proporcional ao nível de enriquecimento. O nível mais baixo

de

enriquecimento

necessário

para

desencadear uma reacção nuclear é vinte por cento.

Nesse caso, teria de se acumular quase uma tonelada de urânio para provocar uma explosão nuclear espontânea. Na outra extremidade do espectro está o enriquecimento a noventa por cento ou mais. Neste caso bastam pequenas quantidades."

"Quanto?"

"Uns cinquenta quilos." Fez um gesto com as mãos, indicando o volume. "Fica assim com o tamanho de uma bola de futebol."

"Está a dizer-nos que, se eu juntar cinquenta quilos de urânio enriquecido a noventa por cento, posso gerar uma explosão nuclear espontânea?"

"Sim."

"Caramba!"

"É tão simples como isso!", exclamou Rebecca, balouçando a cabeça afirmativamente. "Daí que a construção de uma bomba destas seja tão fácil."

Pegou numa caneta e pôs-se a rabiscar um desenho numa folha A4. "Basta construir um tubo... pôr vinte e cinco quilos de urânio altamente enriquecido numa extremidade, a que chamaremos bala... pôr outros vinte e cin

co quilos na outra extremidade, a que chamaremos alvo... pôr um pouco de material propulsor atrás da bala... disparar a bala em direcção ao alvo... as duas quantidades subcríticas colidem, tornando-se críticas... e bang, dá-se a reacção nuclear!"

Exibiu o desenho diante dos rostos embasbacados à mesa.

"MA/O"

TIRp"

OMMIO ALTAMENTE

-V06O

"J stfy, só isso?", quis saber a professora Cosworth,

algures

entre

escandalizada

e

aterrorizada.

"Eu avisei que a construção de uma bomba nuclear era simples, não avisei?", observou Rebecca, mantendo o desenho virado para o seu auditório.

"Quando duas massas subcríticas de urânio altamente enriquecido se juntam e cruzam o limiar crítico dos cinquenta quilos, dá-se a detonação. A bomba de Hiroxima era assim." Guardou o desenho.

"E vocês ainda não sabem o pior!"

"Há pior?"

"Em última instância, os terroristas podem nem sequer construir este engenho. Basta-lhes pôr vinte e cinco quilos de urânio altamente enriquecido no chão, subir a um primeiro andar e lançar das alturas os outros vinte e cinco quilos de urânio altamente enriquecido sobre o material que deixaram no chão.

Quando as duas partes subcríticas colidirem, e apesar de não estarem dentro de um engenho, podem fazer cruzar o limiar crítico e desencadear a explosão nuclear." Encolheu os ombros. "Brincadeira de crianças."

O alemão sentado à mesa voltou a pôr as mãos na cabeça, estarrecido. "Mein Gott!"

A reunião terminou meia hora mais tarde, com a distribuição de documentos e literatura para consulta posterior. Tomás folheou o material e viu esquemas e equações a multiplicarem--se na documentação. Teria talvez dificuldade em seguir aqueles raciocínios, mas sabia que, para um engenheiro, tudo aquilo era cristalino.

"Tom!", chamou uma voz.

O português levantou a cabeça e viu Frank Bellamy ao lado da loira, ambos a olharem para ele. "Sim?"

"Venha cá. Deixe-me apresentar-lhe a Rebecca Scott."

Tomás ergueu-se e estendeu-lhe a mão.

"How do you do?", cumprimentou-a Tomás no seu melhor inglês britânico.

A loira tinha uma palma da mão macia e quente.

"Hi, Tom", devolveu Rebecca no seu sotaque americano. "Mister Bellamy falou-me muito de si."

"Espero que bem."

A mulher riu-se.

"Disse-me que aqui o Palazzo Ducale de Veneza era o sítio perfeito para nos conhecermos." "Ai sim?

Porquê?"

Rebecca encolheu os ombros e olhou para o homem da CIA, endereçando-lhe a pergunta.

"Então você não sabe quem esteve aqui preso, Tomás?", perguntou Bellamy.

"Aqui neste palácio? Não faço a mínima ideia."

"Foi o seu colega italiano." Indicou um ponto para além da grande pintura de Tintoretto que adornava a parede.

"Esteve ali nas prisões e tentou fugir por um buraco no tecto."

"Não sei de quem está a falar."

"Ora, do seu colega italiano, já lhe disse." Bellamy espreitou Rebecca pelo canto do olho. "Casanova."

A loira soltou uma gargalhada, divertida com a observação e sobretudo com a cara embasbacada de Tomás. .

"Oh, lá vem você com as suas piadinhas!", observou o historiador com acidez, acusando o toque.

Bellamy manteve a atenção fixa em Rebecca.

"Tenha cuidado com este português", avisou. "Tem ar de sonso mas é um predador de fêmeas."

"Não ligue", pediu Tomás, tentando recuperar do embaraço. "Está há muito tempo a trabalhar na NEST?"

A melhor táctica era mudar de assunto.

"Há já algum tempo", confirmou ela. "Fui colocada em Madrid e coordeno as operações na Península Ibérica."