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Finalmente, veio a ordem para fazer a guerra contra os Adeptos do Livro que nos fossem hostis, guerra que só iria parar se eles se convertessem ao islão ou, em alternativa, aceitassem pagar a jizyab e se tornassem dbimmies.

"Portanto só sobraram duas categorias de kafirun..."

"Nem mais. Os que estavam em guerra com os crentes e os dbimmies. Essa foi a etapa final, que ainda se mantém porque não há nada no Santo Alcorão ou na sunnah do Profeta, que a paz esteja com ele, a removê-la." Inclinou-se na direcção de Ahmed. "E agora pergunto-te eu: por que razão é importante perceber estas fases?"

"Por causa da nasikb, a ab-rogação."

"Exactamente! A revelação da vontade de Alá decorreu por etapas e cada etapa anulou a anterior.

Agora diz-me: quando o teu antigo mullah, esse kafir sufi que te andou a ensinar, falava de jibad, quais eram as etapas que ele mencionava?"

"As primeiras."

"E porquê?"

A pergunta extraiu uma expressão inquisitiva de Ahmed. "Não sei."

"Porque eram as que lhe convinham!", exclamou Ayman com grande veemência. "Porque eram as que lhe permitiam apresentar um islão em paz com os kafirunl Porque eram as que não chocavam os kafirun cristãos! Esse mullah maldito optou por ignorar que a jibad é o principal tópico do Santo Alcorão! Esse mullah herege optou por ignorar que a expressão jibad fi sabilillah, ou a guerra no caminho de Alá, é usada vinte e seis vezes no Santo Alcorão! Esse mullah apóstata optou por ignorar que o Santo Alcorão

tem

suras

inteiras

dedicadas

exclusivamente à guerra e que algumas delas foram baptizadas com o nome de batalhas, como a sura Ahzaab, a sura Qital, a sura Fath e a sura Saff! O

que diz Alá na sura 8, versículo 65? «O Profeta!

Incita os crentes ao combate.» E o que diz Alá na sura 9, versículo 14? «Combatei-os! Deus atormentá-los-á pelas vossas mãos, humilhá-los-á e auydliar--vos-á contra eles.» Como ignorar estas ordens directas de Deus? Como se isso não bastasse, há milhares de abadith que ilustram a sunnah do Profeta, que a paz esteja com ele, em relação à guerra! Só o Sabib Bukhari compila mais de duzentos capítulos com o título de jihad e o Sabib Muslim conta cem capítulos com o mesmo título! Não te esqueças que o Profeta, que a paz esteja com ele, disse: «Eu desci por Alá com a espada na minha mão e a minha riqueza virá da sombra da minha espada. E

aquele que discordar de mim será humilhado e perseguido.»" Inclinou-se na direcção de Ahmed, os olhos em fogo, a voz alterada. "Sabes por que razão esse teu mullab optou por ignorar tudo isto, sabes?"

Sentindo o olhar intenso do mestre, o pupilo abanou a cabeça sem se atrever a dizer uma palavra.

"Porque ele faz parte da conspiração kafir que tenta impedir os crentes de compreenderem verdadeiramente o Santo Alcorão!", bradou. "Eis porquê!"

Ahmed engoliu em seco e, a custo, recuperou a voz.

"Mas, meu irmão, é um facto que Alá diz no Alcorão que não há compulsão na religião..."

"É um facto", concordou Ayman, baixando o tom de voz para readquirir a serenidade. "E essa a Sua vontade, ninguém pode ser obrigado a converter-se ao islão e a submeter-se a Alá. Claro, a recusa da conversão implica que a pessoa irá prestar contas no dia do juízo, mas esse problema é entre essa pessoa e

Alá, não é um problema dos crentes. Alá mandou-nos deixá-los em paz, Ele tratará do assunto no momento próprio. Porém, lembra-te de que as últimas revelações de Deus, que ab-rogam as anteriores, determinam que os kafirun que não se convertem são obrigados a pagar jizyah e a tornar-se dhimmies. Se não o fizerem, serão mortos. E ou não verdade?"

bim.

"Como isto não lhes interessa, porém, os ditos crentes que querem agradar aos kafirun cristãos, como o teu mullah sufi, extraem dos primeiros versículos coránicos verdades finais, ignorando convenientemente que se trata de verdades provisórias e que só foram válidas numa etapa inicial da revelação da Lei Divina. Eles enunciam uma verdade, a de que não há compulsão na religião, para defender que as guerras só podem ser defensivas, o que é falso."

Ahmed ficou intrigado com esta última afirmação.

"O que quer o meu irmão dizer com isso? A jihad não é defensiva?"

O antigo professor de Religião fez uma careta de enfado.

"Defensiva? Então quando o Profeta, que a paz esteja com ele, atacou as tribos judias e mais tarde atacou Meca estava a fazer uma jihad defensiva?

Então quando Omar, bendito seja, conquistou aqui o Cairo, conquistou Damasco e conquistou ainda Al-Quds, estava a fazer uma jihad defensiva? Que jihad defensiva? Onde está ela mencionada no Santo Alcorão? Falam em jihad defensiva como se ela fosse uma guerra defensiva. A jihad não é uma mera guerra! Não tenhamos medo das palavras: a jihad é o recurso à força para espalhar a Lei Divina entre os homens!"

"Mas... justamente, meu irmão. Não é isso uma contradição? Como podemos nós espalhar a Lei Divina à força se não há compulsão na religião?"

Ayman suspirou, num esforço para dominar a impaciência.

"Por Alá, vejo que as influências do mullab sufi ainda te perturbam o raciocínio", exclamou. "Estás a confundir duas coisas distintas. E verdade que não há compulsão na religião. Mas é também verdade que, nas últimas revelações que ab--rogaram as anteriores, Alá ordenou que os kafirun que não se convertessem teriam de pagar jizyah ou ser, mortos.

A ordem de Alá na sura 9, versículo 29 do Santo Alcorão é muito clara: «Combatei os que não crêem em Deus nem no Último Dia nem proíbem o que Deus e o Seu Enviado proíbem, os que não praticam a religião da verdade entre aqueles a quem foi dado o Livro! Combatei-os até que paguem o tributo por sua própria mão e sejam humilhados»." Ergueu o dedo, peremptório. "«Combatei-os até que paguem o tributo»", repetiu. Fez um gesto a abarcar o pátio da cadeia, como se aquele espaço contivesse o mundo.

"Acaso os kafirun hoje em dia pagam o tributo?"

"Que eu saiba, não."

"Então se não pagam, e em obediência às ordens de Alá, o que lhes devemos fazer?"

Confrontado directamente com a questão, Ahmed hesitou, na dúvida sobre se deveria levar o raciocínio até ao fim.

"Devemos... combatê-los?"

"Seguindo o exemplo do Profeta, que a paz esteja com ele, temos primeiro de dar aos kafirun um prazo para se converterem ou pagarem a jizyah."

Inclinou-se sobre o seu pupilo, quase ameaçador.

"Mas, se não respeitarem esse prazo, terão de ser mortos, claro."

Ahmed mordeu o lábio inferior.

"Isso não será um pouco... um pouco brutal?"

O rosto de Ayman enrubesceu, as sobrancelhas carregaram-se e o corpo tornou-se tenso.

"Brutal?", quase gritou, escandalizado. "O que queres dizer com brutal?"

"Bem... matar uma pessoa, mesmo um kafir...

enfim... hoje em dia isso talvez não seja a..."

"Hoje em dia?", cortou Ayman, furioso. "Desde quando é que a sharia tem prazo de validade? A Lei Divina é eterna! As ordens de Alá são eternas! A lei da gravidade vale hoje como valia no tempo de Maomé, que a paz esteja com ele! A ordem de obrigar um kafir a pagar jizyab sob pena de ser morto vale hoje como valia no tempo de Maomé, que a paz esteja com ele! A sharia é eterna! Ainda não percebeste isso?"

Ahmed baixou a cabeça, constrangido.