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"Você hoje está imparável, acerta em todas", sorriu. Apresentou as duas novas fotografiias.

"Conhece estes senhores?"

Os olhos do português deslizaram para as legendas por baixo das imagens.

"A acreditar no que está aqui escrito, este é o Bashiruddin Mahmood e este o Abdul Majieed", indicou, apontando para cada uma das fotografias.

"M;as não faço a mínima ideia de quem sejam."

"São dois antigos elementos do programa paquistanês de armas nucleares", identificou ela.

Apontou para a fotografia do primeiro homem. "O

senhor Mahmood é um dos principais peritos do Paquistão em uirânio enriquecido. Trabalhou durante trinta anos na Comiissão de Energia Atómica do Paquistão e foi uma figura ceintral no complexo de Kahuta, onde os Paquistaneses produziram urânio enriquecido para a sua primeira bomba atómica.

Chefiou ainda o reactor de

Khosib, que produz plutónio para bombas atómicas, mas teve

de se demitir depois de ter afirmado em público que as armas

nucleares paquistanesas eram propriedade de toda a umma e

de defender o fornecimento de urânio enriquecido e plutónio

militar a outros países islâmicos. Isto era uma coisa que o

Paquistão já estava a fazer, claro, mas pelos vistos não se

podia confessar em público."

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"Um rapaz com pouco tento na língua, portanto", gracejou Tomás. "Mas porque me está a falar desses cavalheiros pouco recomendáveis?"

"Porque eles se deslocaram a Cabul para uma reunião com Bin Laden em Agosto de 2001, um mês antes dos atentados de Nova Iorque e Washington.

A notícia desse encontro chegou a Langley depois do 11 de Setembro e deixou a CIA à beira de um ataque de nervos. A coisa foi considerada tão grave que o director da CIA, George Tenet, foi direito a Islamabade para falar com o presidente Musharraf.

Mahmood e Majeed foram então detidos pelas autoridades paquistanesas e interrogados por equipas

conjuntas

paquistanesas-americanas.

Mahmood negou ter-se alguma vez encontrado com Bin Laden."

"E então, o que fizeram vocês? Mergulharam-lhe a cabeça na água, como fizeram aos fundamentalistas que meteram em Guantánamo?"

"Vontade não nos faltou", murmurou Rebecca, como quem faz um aparte. "Mas, tendo em conta as circunstâncias, não podíamos seguir de imediato para os métodos mais musculados. Em vez disso, o nosso pessoal da CIA decidiu submetê-lo ao teste do polígrafo. A máquina mostrou que o tipo estava a mentir."

"Surpreendente", ironizou Tomás.

"É, não é? Fomos então interrogar o filho. O rapaz revelou que Bin Laden tinha pedido ao pai informações sobre como fabricar uma arma nuclear.

Depois de o filho se descoser,

Mahmood lá confessou que realmente se deslocou a Cabul e se reuniu durante três dias com Bin Laden e o seu braço--direito, Ayman Al-Zawahiri. Mahmood admitiu por fim que a Al-Qaeda queria mesmo produzir armas nucleares. Os companheiros de Bin Laden ter-lhe-ão dito que o Movimento Islâmico do Usbequistão lhes tinha fornecido material nuclear e queriam saber como usá-lo. Mahmood ter-lhes-á explicado que o material que se encontrava na sua posse daria apenas para uma bomba suja, mas não poderia desencadear uma explosão nuclear.

Disse-nos ter ficado com a impressão de que a Al-Qaeda tinha falta de conhecimentos técnicos e que o seu projecto se encontrava ainda nas etapas iniciais."

"De qualquer modo, isso tira todas as dúvidas", concluiu Tomás. "A Al-Qaeda quer mesmo construir armas nucleares."

Rebecca lançou-lhe novo olhar sarcástico.

"Eu não digo que você é um génio? Claro que quer construir armas nucleares! E aliás por isso que achamos que este senhor Mahmood não nos contou toda a verdade. Se a Al-Qaeda tinha falta de conhecimentos técnicos, de certeza que ele e Majeed lhe forneceram instruções detalhadas sobre como fazer uma bomba atómica. Só que o Mahmood não nos podia confessar isso, pois não?"

"Pois, enterrava-se todo."

A americana guardou as duas fotografias na pasta e retirou uma resma de folhas agrafadas.

"Agora gostava que visse isto", disse, mostrando-lhe o documento. "Traduza-me o título."

Tomás pegou na resma e folheou-a. Tinha vinte e cinco páginas escritas em árabe, com diagramas e desenhos por toda a parte. Voltou à primeira página e fixou os olhos nos caracteres árabes que se encontravam no título.

"Superbomba.'"

Rebecca voltou a pegar no documento.

"Quando invadimos o Afeganistão, depois dos atentados do 11 de Setembro, entrámos em edifícios, abrigos, grutas e campos de treino da Al-Qaeda e descobrimos milhares de documentos e imagens com pormenores sobre as actividades e os projectos da organização de Bin Laden. A análise'desse material revelou que a Al-Qaeda andava activamente a tentar deitar a mão a armas de destruição em massa." Indicou a resma de folhas.

"Este documento, Superbomba, foi descoberto na casa de Abu Khabab em Cabul. O senhor Khabab era um destacado elemento da Al-Qaeda." Folheou o documento sem se deter em nenhuma página em particular. "Está aqui informação detalhada sobre os diversos tipos de armas nucleares existentes. Além do mais, pode encontrar nestas páginas todos os pormenores sobre a engenharia necessária para provocar uma reacção em cadeia, incluindo as propriedades dos materiais nucleares. Ou seja, isto é um verdadeiro manual para construir uma bomba atómica."

Guardou o manual em árabe na pasta e localizou mais uma fotografia, que voltou a mostrar a Tomás.

"Este senhor chama-se José Padilla e é de Chicago", disse. "Prendêmo-lo no Verão de 2002

depois de ele se ter encontrado no Paquistão com o chefe operacional da Al-Qaeda, Abu Zubaydah. O

nosso amigo Padilla propôs-se fabricar uma bomba atómica, mas o Zubaydah pediu-lhe antes que regressasse aos Estados Unidos e começasse a adquirir material radioactivo para usar com explosivos vulgares e fazer assim uma bomba suja que permitisse contaminar uma área vasta. E

interessante que a Al-Qaeda tenha recusado a proposta de Padilla, não acha? Só poderia ter feito isso se nessa altura já tivesse em marcha o seu próprio projecto de uma bomba atómica."

"A bomba do Zacarias."

"Exacto. De outro modo, o Zubaydah jamais recusaria a proposta de Padilla. Com toda a certeza, a Al-Qaeda já..."

"Senhores passageiros, vamos iniciar a nossa descida", anunciou uma voz adocicada, devia ser a hospedeira ruiva. "Por favor apertem os cintos e endireitem os assentos das vossas cadeiras.

Deveremos aterrar no aeroporto de Ierevan às 13h35 locais, ou seja, dentro de aproximadamente meia hora. Obrigado por voarem com..."

"Ainda não percebi porque raio me arrastou para a Arménia", resmungou Tomás.

"Já lhe expliquei que temos de tirar tudo isto a limpo", disse Rebecca. "O meu contacto russo opera em Ierevan e nós, se queremos falar com ele, temos de ir ao seu encontro. Afinal somos nós os interessados, não é verdade? Tenha paciência."

"Este desvio por Ierevan é por causa das inscrições em caracteres cirílicos na fotografia do Zacarias?"

"Sim, mas não só." Voltou a indicar a pasta de cartolina. "Antes de partirmos de Lahore falei com Langley e eles disseram-me que a fotografia é muito credível porque bate certo com toda a informação de que dispomos. Sabemos que, na década de 1990, houve elementos da Al-Qaeda que se deslocaram a três estados centro-asiáticos que antigamente faziam parte da União Soviética e, aproveitando o caos que se seguiu ao desmoronamento do sistema comunista, tentaram comprar uma ogiva nuclear ou material que permitisse construir uma bomba atómica."