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"E conseguiram?"

"Estamos convencidos que não. Mas em 1998

soube-se que eles pagaram dois milhões de dólares a um cazaque que prometeu entregar-lhes um engenho nuclear soviético do tamanho de uma mala."

"Que mala? Uma daquelas de que falou o general Lebed, o assessor do antigo presidente Ieltsin?"

"Essas mesmo."

"Se bem me lembro da gravação que mister Bellamy nos mostrou em Veneza, o general Lebed disse numa entrevista à televisão americana que tinham desaparecido várias malas dessas. Está a dizer-me que a Al-Qaeda deitou awnão 9. uma delas?"

"E uma possibilidade. Aliás, nesse mesmo ano a revista árabe Al Watan Al Arabi noticiou que a Al-Qaeda tinha comprado vinte ogivas nucleares a mafiosos chechenos por trinta milhões de dólares e duas toneladas de ópio. Não conseguimos confirmar esta informação, mas o biógrafo de Bin Laden, Hamid Mir, revelou que Ayman Al-Zawahiri, o nú-

mero dois da Al-Qaeda, lhe disse em 2001 que a Al-Qaeda

possuía

engenhos

nucleares.

Al-Zawahiri ter-lhe-á contado que bastavam trinta milhões de dólares e uma viagem ao mercado negro da Ásia Central para adquirir material atómico de fabrico soviético. Segundo Al-Zawahiri, a Al-Qaeda já teria adquirido assim algumas armas nucleares em formato de pastas. Estamos a lidar com fontes diversas, mas a informação bate toda certa e parece até complementar-se. Como deve calcular, sentimo-nos mortalmente preocupados."

"Acha que a fotografia do Zacarias constitui a prova final de que isso é tudo verdade?"

Rebecca lançou um olhar pela janela do avião.

"É o que vamos saber em Ierevan."

O aparelho já havia iniciado a descida, abanando ligeiramente em função das variações do vento. A hospedeira ruiva passou ao lado de Tomás e lançou-lhe mais um sorriso encantador, mas o historiador estava de tal modo embrenhado nos seus pensamentos que nem notou.

"Quem é o tipo com quem vamos falar?", quis saber.

"Prepare-se para encontrar uma figura um pouco bizarra. Chama-se Oleg Alekseev." "Sim, mas quem é ele?"

"E um antigo coronel do Komitet Gosudarstveno Bezopasnosti." "Hã?"

Rebecca arrumou a pasta de cartolina no saco e verificou o cinto de segurança, preparando-se para a fase final da aterragem.

"KGB."

XL

As aulas de Línguas Antigas seduziram Ahmed, sobretudo porque os temas estavam relacionados com o Médio Oriente. O professor Noronha começou por ensinar os rudimentos das línguas da Mesopotâmia, a antiga Terra dos Dois Rios, o Iraque, e depois falou longamente sobre o Egipto e a descoberta de que a língua dos faraós era o copta.

A matéria era do natural interesse do estudante árabe, uma vez que abordava a história do seu próprio país. Embora fosse muçulmano, o aluno tinha-se também por bom egípcio e sentia um orgulho secreto nos seus antepassados, mesmo os do período pré-islâmico. Apesar de viverem em jabiliyya, tinham sido capazes de erguer as espantosas grandes pirâmides sobre as quais tantas vezes pousara o olhar durante a infância no Cairo.

Não eram aqueles gigantes assentes no planalto de Giza dignos de admiração?

Foi quando se preparava para ir a uma destas aulas que, ao folhear o jornal no emprego, se deparou com uma notícia

que lhe prendeu a atenção. O título era Massacre em Luxor e revelava a matança de mais de sessenta turistas kafirun pelo que o jornal apelidava de

"radicais islâmicos" e que Ahmed sabia serem verdadeiros muçulmanos.

"Allah u akbar!", exclamou, esforçando-se por conter a excitação que se apoderou dele.

Verificando que ninguém o estava a observar, murmurou uma prece. "Que a grande jibad se declare enfim e que Deus, o Todo-Poderoso, nos ajude a vencer!"

Convencido de que aquele evento iria desencadear um movimento que culminaria com o colapso do regime jahili e a tomada do poder pelos verdadeiros crentes, teve ganas de partir de imediato para o Egipto e juntar-se à jibad. Logo que chegou a casa ligou para Salim, o seu contacto da Al-Jama'a Al-Islamiyya em Londres. Salim deu-lhe a entender, nas entrelinhas, que o movimento era de facto o responsável por aquela acção gloriosa.

Ahmed quase rebentava de orgulho e de excitação.

"E uma grande jornada para a umma", declarou com entusiasmo transbordante. "Será que posso apanhar o primeiro avião para me juntar à jibad}"

"Não é o momento certo", soprou-lhe a voz do outro lado da linha. "Os acontecimentos em Tebas levaram o faraó a lançar uma grande repressão contra os crentes. A situação é muito perigosa e instável. Dá graças a Alá por te encontrares aí. E aí que deves ficar."

Ahmed sabia que, por uma questão de segurança, o seu interlocutor falava por enigmas. Tebas era o antigo nome de Luxor e o faraó era o presidente Mubarak. Claramente o regime perseguia os verdadeiros crentes, tal como fizera após a matança de Sadat.

"Mas o povo está connosco?"

Salim hesitou, procurando as melhores palavras para descrever como aquela acção havia sido acolhida pelos Egípcios.

"A informação de que disponho, meu irmão, é a de que o nosso povo está mergulhado em jabiliyya.

Temos por isso de ser mais prudentes nas nossas acções. O Profeta, que a paz esteja com ele, escolheu fazer a revelação por etapas, de modo a assegurar o triunfo da verdadeira fé. Precisajnos <àe ser pacientes e aprender com o seu belo exemplo."

Estas

palavras

judiciosamente

escolhidas

indiciavam que a jornada de glória e martírio não havia sido bem acolhida pelo cidadão comum. Era uma informação desconcertante.

Ahmed, porém, não se deixou desencorajar.

"Quando permitirão que me junte à jibad?

Quando?"

"Sê paciente e aguarda."

"Não tenho feito outra coisa, meu irmão. Mas sinto que chegou a minha hora. Quando me chamarão?"

O seu interlocutor fez uma curta pausa, talvez para ponderar o que poderia dizer ao telefone.

Respirou fundo e por fim respondeu.

"O dia aproxima-se."

O massacre de Luxor renovou o interesse de Ahmed pelo Antigo Egipto, matéria das primeiras aulas na faculdade. O problema é que, depois de abordar a civilização egípcia e os hieróglifos, o professor Noronha passou para o Antigo Testamento e o hebraico e depois para o Novo Testamento e o aramaico e o latim. A cadeira, todavia, era semestral e as aulas estavam prestes a terminar sem que o docente abordasse o maior e mais importante período da história da humanidade. O islão.

Ahmed sempre fez questão de se sentar num canto discreto da sala, de modo a manter-se longe dos olhares, mas a constatação de que o semestre se esgotava impeliu-o a procurar o professor numa das últimas aulas. Interceptou-o à saída da sala, identificou-se e lançou-lhe a pergunta.

"Senhor professor, não vai falar do islão?"

"Infelizmente, não."

"Porquê?"

"Primeiro, porque não há tempo", explicou Tomás.

"Repare que esta cadeira é semestral. Depois, porque o árabe não é exactamente uma língua antiga, como deve saber. Ora esta cadeira chama-se justamente Línguas Antigas e..."

"O árabe do Alcorão é uma língua antiga", interrompeu Ahmed. "Há muitos falantes de árabe actual que não o entendem. Além do mais, o árabe é a língua de Deus. Foi em árabe que Alá falou aos crentes."