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XLV

"Natalya!"

A loira oxigenada que assomou à porta apresentou-se roliça e vaporosa, com tantas curvas que a carne quase lhe transbordava pelo vestido, uma peça única em vermelho-vivo e muito justa no peito e no tronco, alargando-se em baixo numa saia rendilhada que lhe dava pelas coxas. Era o tipo de corpo que as mulheres odiavam ter, achavam-no gordo, mas gordura era a última coisa que os homens viam naquelas formas opulentas.

"Chamou, meu coronel?"

"Anda cá, devushkal"

"Mas o meu espectáculo está quase a começar..." "Ê

só um minutinho, vá lá."

Natalya aproximou-se, muito consciente do efeito animal que o seu corpo lúbrico produzia nos homens.

"O que é, meu coronel?", ronronou, passando a mão pelo peito do russo. "Porque precisa da sua Natalya?"

Alekseev apontou para Tomás.

"E para te mostrar aqui a este senhor", disse. "Vai lá dar--lhe um beijinho..."

A loira de vermelho sorriu com malícia e aproximou-se do português, que trocou um olhar alarmado com Rebecca. A americana fez-lhe sinal de que estava tudo bem, o que Tomás entendeu como uma indicação de que não deveria contrariar o russo.

Natalya inclinou-se sobre ele e aproximou a cara; o português começou a cheirar-lhe o perfume barato e sentiu-lhe os lábios quentes e carnais colarem-se aos seus. Quis resistir, embaraçado por a americana estar ali ao lado a ver tudo, mas aquela boca húmida e ardente era mesmo deliciosa. Atrás dos lábios de Natalya veio a língua, que penetrou molhada na boca entreaberta do historiador, explorando-a com gula.

O beijo durou quase um minuto e terminou abruptamente. No instante em que a mulher lhe largou os lábios, Tomás sentiu as mãos dela apalparem-no entre as pernas, a testá-lo.

"Então?", perguntou o coronel.

Natalya voltou a cabeça para trás e piscou o olho garço, como quem diz que a missão fora cumprida.

"Está duro."

O coronel soltou mais uma das suas gargalhadas ruidosas e deu uma palmada no traseiro farto de Natalya.

"Eu sabia!", exclamou. "Eu sabia! Ninguém resiste aqui à minha Natalya! Está para nascer o homem que fique indiferente a este pedaço de mulher!"

Natalya lançou um olhar para a porta.

"Posso ir, meu coronel? É que chegou a hora do meu espectáculo..."

"Vai lá, devushka. Arrasa com eles!"

A mulher lançou um olhar de despedida a Tomás, cheia de promessas, e voltou as costas, saracoteando o corpo para a porta e para além dela.

Quando saiu, o coronel voltou-se para o português.

"Então? O que achou?"

Tomás trocou um novo olhar com Rebecca, como se pedisse novas instruções. A americana encolheu os ombros; çjepois do que vira parecia já estar por tudo.

"E... é bonita", disse o português.

"Quer prová-la? Olhe que é caro, mas vale a pena!"

"Eu... fica para uma outra oportunidade."

"Ah, vai-se arrepender! Esta rapariga faz um tratamento que nos põe de molho. Aqui há tempos tive uma sessão com a Natalya que me ia deixando a soro. Sabe, com aquela boca ela é capaz de..."

Rebecca pigarreou, já um pouco cansada daquele jogo e daquela conversa.

"Coronel, se me dá licença, nós temos um assunto que precisamos de tratar com uma certa urgência."

Alekseev ergueu as sobrancelhas espessas e respirou fundo, resignando-se à inevitabilidade da conversa que precisavam de ter.

"Ah, sim! A fotografia, não é?"

"Isso mesmo."

"Então diga lá, o que querem saber?" "Nós enviámo-vos a fotografia. Explique-nos o que aquilo é."

O russo inclinou-se no sofá e pegou no copo de vodka que deixara sobre a mesa.

"Blin, aquilo é a Rússia no seu pior!", exclamou, bebendo um trago. "Oiça, tem de perceber que, quando a União Soviética se desintegrou, em 1991, a Rússia herdou a maior indústria nuclear do planeta, incluindo o maior arsenal de armas atómicas e as maiores quantidades de urânio enriquecido e plutónio militar do mundo. Tudo isto se encontrava em dezenas de complexos tão escondidos que nem constavam em mapas. Tínhamos dez cidades secretas que albergavam quase um milhão de pessoas e onde se concentrava toda a indústria nuclear soviética. Com o colapso da economia e com a quebra da disciplina, toda esta indústria ficou ao deus-dará.

A inflação disparou para os dois mil por cento, as pessoas começaram a ser mal pagas e a ficar com os salários atrasados vários meses, os edifícios deterioraram-se, o material nuclear passou a ser negligenciado, até as vedações eléctricas foram desactivadas porque não havia dinheiro para pagar a electricidade. Para que tenha uma ideia, havia armazéns com toneladas de urânio enriquecido cujas portas estavam apenas protegidas por cadeados! E

os guardas que vigiavam esses armazéns, sabe o que eles faziam? Ausentavam-se para ir buscar comida ou bebidas... ou ir ver uma devusbkaV

"Isso estava mesmo mau..."

"Imagine!"

"No meio de toda essa anarquia, qual foi o material que, na sua opinião, ficou mais vulnerável ao tráfico?"

"Olhe, o país tem dezenas de milhares de ogivas nucleares guardadas em mais de cem locais. O maior risco, a meu ver, diz respeito às armas nucleares tácticas portáteis, as RA-155 do Exército e as RA-115-01 da Marinha. São pequenas, pesam uns meros trinta quilos, podem ser detonadas por um único soldado em apenas dez minutos e estão guardadas em posições avançadas, onde a segurança é relativamente fraca. Muitos oficiais encarregados da sua protecção já se reformaram, mas continuam a viver nos complexos onde essas armas

tácticas nucleares se encontram armazenadas. Esses homens sabem onde esse material está, têm acesso fácil a ele e recebem reformas baixas. É uma mistura explosiva. Quem me garante a mim que, se alguém lhes oferecer uma quantia generosa de rublos que os tire da miséria, eles recusarão?

"E evidente", concordou Rebecca. "Mas já houve algum

roubo confirmado?"

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"De armas nucleares tácticas? Não lhe posso dizer."

"O general Lebed, assessor do antigo presidente Ieltsin, revelou em público que algumas dessas armas desapareceram..."

"Não posso falar sobre isso."

Rebecca retirou da sua pasta a fotografia de Zacarias.

"Bem, para todos os efeitos o que está aqui em causa não são as armas nucleares tácticas, pois não?", disse ela, exibindo a imagem da caixa com caracteres cirílicos e o símbolo nuclear. "É o urânio enriquecido. De onde veio este material? O que nos pode dizer sobre isto?"

O coronel tirou uns óculos do bolso, encavalitou-os sobre o nariz e inclinou-se para a imagem, examinando-a com cuidado.

"Então esta é que é a famosa fotografia?"

"Não a tinha visto ainda?"

"Minha cara, vocês enviaram-na para Moscovo."

Afastou os olhos da imagem e cravou-os em Rebecca.

"Eu estou em Ierevan, não estou?"

A americana fitou-o interrogadoramente, uma expressão de alarme a cintilar-lhe nos olhos.

"O que quer dizer com isso? Não me diga que não tem respostas para me dar..."

Alekseev guardou os óculos, sorriu e rodou o corpo no sofá, voltando-se de novo para a porta.

"Sasha!"

A porta reabriu-se e o segurança voltou a espreitar.

"Sim, meu coronel?"

"O Vladimir já chegou?"

"Vem a caminho, meu coronel."

"Logo que ele chegue traga-o para aqui."

"Sim, meu coronel."

Assim que a porta se fechou, Alekseev pôs-se de novo confortável e voltou a encarar os dois visitantes.

"O homem do FSB que está a investigar este caso é da minha inteira confiança", disse. "Mandei-o vir cá de propósito para nos contar o que descobriu."