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"As salaam alekum!", saudaram os dois mudjabedin que traziam o instruendo de Khaldan.

Vendo a troca de cumprimentos, Ibn Taymiyyah acalmou--se. Eram todos conhecidos, não parecia haver problema. "Quem são estes?" "É a guarda do Ninho da Águia."

Ibn Taymiyyah inspeccionou a carrinha que os havia interceptado. Seguira durante algumas centenas de metros ao lado do jipe, aparentemente para se certificar da identidade dos seus ocupantes, mas de momento acompanhava-os pela cauda.

Voltou a cabeça para a estrada diante deles. Havia já algum tempo que o jipe escalava as montanhas nevadas e tinha a impressão de que se encontravam já bem alto. Fazia frio e o ar ali parecia mais leve.

O passageiro inclinou-se para o mudjabedin que ia ao seu lado.

"Estamos a chegar?"

O mudjabedin apontou para o topo das montanhas em frente.

"Sim", confirmou. "O Ninho da Águia é já ali."

A excitação por conhecer o homem que a América responsabilizava pela jibad nas suas cidades era muito grande, mas Ibn Taymiyyah fazia por permanecer calmo. Passara toda a viagem a pensar naquele encontro e no que lhe quereria Osama Bin Laden, e agora que estavam a chegar a curiosidade era maior do que nunca. A expectativa tornara-se enorme e obrigou-o a um esforço para distrair a mente.

"Isto é alto, hem?", observou, espreitando o vale lá em baixo.

"Estamos a três mil metros de altitude." O

mudjabedin indicou um outro pico, mais distante. "Na jibad contra os Russos, os kafirun instalaram ali uma base que nos deu muitos problemas. Tivemos de a bombardear noite e dia para os expulsar de lá."

"Lutaste contra os Russos?", quis saber Ibn Taymiyyah, a admiração e o respeito estampados na cara.

"Alá, na Sua grandeza, concedeu-me essa oportunidade." "E que tal eram eles?"

"Corajosos. Não eram como os kafirun americanos, que fugiram mal lhes demos uma tareia em Mogadíscio. Os Russos eram duros e pacientes. Foi uma jihad muito difídl, fez muitos mártires entre os crentes."

O passageiro assentiu. Como gostaria de ter participado na jihad contra os Russos, essa guerra já mítica que trouxera grande glória ao islão! Esfregou as mãos para gerar calor e olhou em volta, os olhos atraídos pela deslumbrante paisagem que se abria diante deles. Contemplou os picos nevados e escarpados; eram de tirar o fôlego, sobretudo quando recortados sob o céu azul e laranja do crepúsculo, como acontecia nesse instante. A existência de um tal lugar na Terra parecia-lhe a prova consumada de que Alá era o supremo artista.

"Que montanha é esta?"

O mudjahedin lançou um novo olhar à montanha que escalavam antes de responder com um sentimento de protecção, como se ela lhe pertencesse.

"Tora Bora."

A encosta nevada da montanha era rasgada aqui e ali pela entrada de grutas. Apesar de a luz do dia estar a diminuir rapidamente, via-se actividade humana diante das cavernas, com mudjahedin armados para cá e para lá. O jipe prosseguiu a sua escalada mais algumas centenas de metros, mas virou junto a mais uma gruta e imobilizou-se com um guincho, a nuvem de poeira a planar atrás com lentidão.

"Chegámos!", anunciou o motorista, puxando o travão de mão e desligando o motor.

A calma instalou-se naquele lugar. Ibn Taymiyyah apeou--se devagar, incerto quanto ao que deveria fazer a seguir, mas logo deu de caras com um homem de meia-idade que saíra da gruta ao seu encontro.

Depois de cumprimentar o recém--chegado, o homem fez-lhe sinal de que o seguisse. Ibn Taymiyyah despediu-se dos mudjahedin que o haviam trazido de Khaldan e acompanhou o seu novo guia.

"O xeque aguarda-te", anunciou-lhe o homem.

A gruta estava quase às escuras, apesar de um ocasional candeeiro de luz amarelada pregado às paredes. Ibn Taymiyyah percorreu os corredores com o coração aos saltos; pensava inicialmente que era de excitação, mas ficou tão ofegante que teve de parar para recuperar o fôlego.

"O que se passa?", perguntou o homem que o conduzia. "Sentes-te bem, meu irmão?"

O recém-chegado arfava e encostou-se à parede para descansar.

"Não sei", disse. "Sinto-me... fatigado." O homem observou-o com atenção e sorriu ao identificar o problema.

"Isso é normal, fica descansado", tranquilizou-o.

"Estás a sofrer do mal da altitude. Passar de repente para os três mil metros de altitude deixa qualquer pessoa sem fôlego."

Logo que o visitante recuperou, o guia conduziu-o pelo resto do corredor até uma abertura a meio da parede. Dela vinha um clarão. Os dois homens franquearam-na e Ibn Taymiyyah deu consigo numa galeria bem iluminada e ocupada por três mudjahedin sentados de pernas cruzadas em tapetes, as Kalasbnikov pousadas no regaço.

Ao aperceberem-se da chegada do convidado, os três assentaram as armas no chão, levantaram-se e um deles, o mais alto, aproximou-se com um sorriso e os braços abertos.

"As salaam alekum, meu irmão", disse ele, dando-lhe as mãos. "Bem-vindo ao Ninho da Águia!"

Ibn Taymiyyah reconheceu-o das fotografias. Já se havia

cruzado com aquele rosto antes dos atentados de Nova Iorque,

mas só se familiarizara com ele nas duas últimas semanas, ao

ler os jornais que chegavam a Khaldan com pormenores do

sucedido na América.

*

Era Osama Bin Laden.

XLIX

Rebecca desligou o telefone e olhou para Tomás.

"Vou marcar voo para Washington", disse ela.

"Também quer vir?"

O português estava de costas e contemplava a cidade iluminada e o céu estrelado sobre Ierevan.

Encontravam-se ambos no terraço do hotel, junto à piscina escura e silenciosa, e já passava da uma da manhã. Logo que saíram do CCCP, a americana insistira em ir ali para falar com Frank Bellamy pelo seu telefone-satélite, o único meio de comunicação que lhe dava garantias de não estar sujeito a escutas.

Ao ouvir a pergunta, Tomás voltou-se, coçou o queixo e estreitou os olhos, pensativo.

"Que lhe disse mister Bellamy?"

"Que o presidente decretou DEFCON 4."

"O que raio é isso?"

"Defense Readiness Condition", disse ela, traduzindo o acrónimo. "É um estado de alerta das forças armadas dos

Estados Unidos. O estado normal é o grau 5. O

alerta de grau 4 refere-se a uma ameaça ainda não muito clara e estende-se a todo o globo. Neste momento está montada a caça. Os serviços secretos de todo o mundo andam a apertar todas as suas fontes para tentar localizar a unidade da Al-Qaeda que anda a passear por aí com urânio enriquecido."

"Mas como diabo se faz uma busca dessas?" •

"Falando com muita gente e fazendo muitas perguntas. Além do mais, não se esqueça de que temos uma pista." "Qual?"

"Não foi o seu antigo aluno que disse que o terrorista da Al-Qaeda se chama Ibn Taymiyyah?

Agora toda a gente anda a ver se localiza esse tipo."

"E já apareceu alguma indicação sobre o seu paradeiro?"

A americana abanou a cabeça, um pouco apreensiva.

"Ainda não."

"Nem vai aparecer."

Rebecca levantou os olhos e fitou-o, admirada.

"Porquê? Porque diz isso?"

"Oiça, Rebecca. Sabe quem foi Ibn Taymiyyah?"

A expressão de admiração acentuou-se ainda mais.