"Esse pequeno grupo somos nós", esclareceu Al-Zawahiri, quebrando o mutismo. "Com a ajuda de Deus, seremos a luz que iluminará a umma e a conduzirá até ao resto da humanidade, como nos é ordenado por Alá no Santo Alcorão ou através da sunnah do Profeta, que a paz esteja com ele. Chegará o dia em que só haverá crentes ou dhimmies que pagam a jizyah, incb'Allabr
"Vamos pôr fim à humilhação de ver os kafirun ter mais poder do que nós", afirmou Bin Laden. "Olhem o que eles fazem na Palestina! Olhem a forma como eles manipulam os nossos governos como se fossem fantoches! Olhem para as leis humanas contrárias à sharia que eles nos impõem com a sua cultura corrupta! Olhem para as bases militares que a aliança cruzados-sionistas instalou na Terra das Duas Mesquitas Sagradas, violando a vontade do Profeta no seu derradeiro sermão! Como é possível termos chegado a este ponto? Como é possível que os crentes se tivessem deixado humilhar desta maneira? Isto, meus irmãos, só foi possível porque nos desviámos da Lei Divina! Alá puniu-nos assim por ignorarmos a Sua sharia e por termos cedido às tentações e aos desejos humanos! Se Alá criou e rege o universo, quem sabe mais sobre as leis verdadeiras? Alá ou os seres humanos? O criador ou a criatura? Temos, pois, de retomar a Lei Divina, tal como fez o Profeta, que a paz esteja com ele, e como fizeram os primeiros califas, que Alá os abençoe. Se a umma cumprir todos os preceitos da Lei Divina, como é sua obrigação, o islão voltará a ser a força dominante da humanidade. Mas enquanto a sharia não for respeitada, permaneceremos humilhados
e
os
kafirun
da
aliança
cruzados-sionistas mandarão em nós.
"Isso não podemos mais tolerar!", vociferou Uthman. "A nossa jihad é justa! Os kafirun combatem por dinheiro e pelo desejo de submeter os outros homens à sua vontade, os mudjahedin combatem pelo dever de servir Alá e Alá apenas.
Qual o combate que Deus favorecerá? O dos gananciosos ou o dos justos? A jihad dos mudjahedin está destinada a ter a graça de Alá! E por isso que, embora o caminho da jihad seja difícil, com a graça e a ajuda de Deus iremos vencer!"
"Atingimos o ponto de ignição", disse Bin Laden, repetindo a ideia que expressara momentos antes.
"Para além de ser uma retribuição pelas humilhações a que os kafirun da aliança cruzados-sionistas sujeitaram a umma ao longo dos anos, a jihad que lançámos agora no coração da América destina-se sobretudo a provocá-los, a forçá-los a invadir a terra dos crentes. Mas esta é apenas a primeira fase de um longo caminho. A segunda fase será usar esse ataque dos kafirun para acordar o grande gigante adormecido, a maior força existente ao cimo da Terra: a umma. Com os kafirun a combaterem em terra islâmica, deixando cair as máscaras e mostrando-se como os cruzados que realmente são, os crentes irão despertar para a realidade e muitos juntar-se-ão a nós."
Ibn Taymiyyah, que até ali havia seguido a exposição calado, remexeu-se no seu lugar, inquieto.
"O xeque acha mesmo que os kafirun nos vão atacar aqui no Afeganistão?"
"Não têm alternativa, meu irmão. Provocámo-los e eu até ficaria decepcionado se não o fizessem. Tens de perceber que, nas actuais circunstâncias, não os poderemos vencer num combate convencional.
Precisamos, pois, de os atrair para a terra dos crentes, onde, aqui sim, lhes iremos ministrar uma lição que jamais vão esquecer. Rezo, por isso, para que ataquem o Afeganistão e conto mesmo que não se fiquem por aqui e invadam outras terras islâmicas, como o Paquistão e a Terra dos Dois Rios, o Iraque, e mais ainda se for possível. Ao atacar-nos, os kafirun farão assim pela nossa causa mais do que mil fativas. De uma assentada, cairão numa gigantesca emboscada e, mais importante ainda, vão fazer milhares de crentes juntar-se às nossas fileiras para participarem na jihad. Ou seja, esses ataques da aliança cruzados-sionistas irão atear a umma e impulsioná-la à acção. Seguir-se-á assim a terceira fase, que é a expansão do conflito a todo o mundo islâmico. Com a graça de Deus iremos atrair os kafirun para uma guerra de atrito, para a qual eles não estão manifestamente vocacionados. Os kafirun gostam de guerras de Hollywood, com um princípio, um meio e um fim muito bem definidos, mas o que nós lhes vamos dar é uma guerra interminável. A quarta fase será tornar global a nossa jibad. Qualquer crente poderá juntar-se a nós através da Internet e lançar acções em qualquer parte do mundo. Já dispomos de algumas células adormecidas no Ocidente e estamos a constituir outras para que actuem no momento certo, inch'Allah." "Que será quando?"
Bin Laden exibiu os cinco dedos da mão.
"Será o momento que conduzirá à quinta fase", disse. "Tencionamos atrair os kafirun da aliança cruzados-sionistas a uma emboscada global e pressionar as suas capacidades militares até aos limites. Eles vão estar preocupados com o Afeganistão, com a Terra dos Dois Rios, com o Irão, com o Paquistão, com o Líbano, com a Somália, com os campos petrolíferos, com a protecção dos ocupantes sionistas da Palestina... com uma multiplicidade de coisas que acontecerão ao mesmo tempo. Quando derem por ela, já não terão capacidade militar ou financeira para sustentar a situação por mais tempo. Será nesse momento que a América entrará em colapso."
"E... e depois?"
"Com a implosão da América, os governos corruptos do islão ficam sem a sua base de apoio e, com a graça de Deus, serão derrubados pela umma.
Chegaremos então ao objectivo final."
O xeque calou-se, como se tivesse concluído a sua exposição, e o visitante remexeu-se na cadeira, a curiosidade espicaçada por aquela visão de glória.
"Desculpe, xeque", disse com timidez. "Qual é esse objectivo final?"
"O novo califado."
Fez-se silêncio na gruta, apenas pontuado pelo estralejar acolhedor da lenha ao lume no fogareiro.
A grandiosidade do que acabara de ser dito estava ainda a ser digerida pelo convidado.
"E isso que vai acontecer?", perguntou por fim Ibn Taymiyyah, os olhos a cintilarem de fascínio. "O
çalifad* vai mesmo ser reinstituído?"
Bin Laden assentiu com a cabeça.
"E esse o plano, Deus seja louvado", disse. "Com a jihad lançada há duas semanas no coração da América, cruzámos o ponto de ignição. Vamos agora esperar que os acontecimentos que desencadeámos sigam o seu curso natural. Os kafirun irão levar tal lição que se verão forçados a deixar os crentes em paz. Sem os kafirun a fortalecer os nossos governos corruptos, os verdadeiros crentes contarão com a ajuda de Deus e assumirão o controlo dos seus países. Como um dominó, um país será libertado logo a seguir ao outro até a sharia entrar em vigor em todos. Deixará assim de haver muitos países muçulmanos e passará a haver um único. A umma estará então unida e o grande califado será proclamado, inch'Allah. Quando o califado voltar, o califa terá de seguir a vontade de Alá expressa no Santo Alcorão e na sunnah do Profeta, que a paz esteja com ele, e ordenar uma ou duas jihads por ano contra os kafirun, até que o mundo inteiro esteja convertido e os que não estiverem paguem jizyah aos crentes, conforme o desejo de Deus."