Выбрать главу

"Com a graça de Alá, é isso mesmo que vai acontecer!", exclamou Uthman, num estilo empolgado que contrastava com o tom tranquilo das palavras de Bin Laden. "O mundo inteiro será constituído por crentes. Os que se recusarem a ver a verdade serão humilhados e transformados em dhimmies, como é vontade de Alá! Os que não aceitarem pagar o tributo serão mortos."

O xeque pousou a mão no ombro de Ibn Taymiyyah.

"E é para esta grande jihad pelo califado mundial que precisamos de ti, meu irmão", disse.

"Reservámos-te a maior de todas as missões, aquela que atingirá o ponto mais vulnerável da aliança cruzados-sionistas, provocando o seu colapso final.

Graças a essa missão, a umma irá de novo..."

"Dá licença?"

A cabeça do mudjahedin que quinze minutos antes trouxera o chá e a água espreitou pela entrada da gruta e interrompeu a conversa.

"O que é, Hassan?"

"O jantar está servido."

0

LI

"Este."

A fotografia foi salva num ficheiro separado e logo o jovem operador da NEST, um rapaz de face leitosa e cabelo preto liso, regressou à lista importada e foi mostrando mais imagens. Os rostos estudantis sucediam-se um a um no ecrã; cada um ficava durante uns dois ou três segundos e desaparecia, substituído pelo seguinte. Sempre que surgiam raparigas, que aliás eram a maioria, a imagem saltava imediatamente para o retrato que vinha a seguir.

"Este."

O operador americano guardou a nova fotografia e, de volta à lista importada, tentou prosseguir, mas a imagem anterior manteve-se fixa, como se estivesse congelada ou se se recusasse a mostrar a seguinte.

"Acho que já acabámos", concluiu o homem da NEST. "Não há mais fotografias."

"Quantas temos?", perguntou Tomás.

O americano clicou no ficheiro separado e consultou as estatísticas.

"Cinquenta e quatro."

"Cinquenta e quatro alunos masculinos em dez anos?", ponderou o professor português. "Sim, faz sentido. Aquela faculdade está cheia de mulheres.

Não devo ter tido mais de cinquenta rapazes durante este tempo todo nas minhas aulas."

Um dos dois vultos que aguardavam na sombra, por detrás de Tomás e do operador, quebrou o silêncio.

"Portanto, os seus alunos estão todos identificados."

O historiador voltou a cabeça e olhou para ele.

"Sim, mister Bellamy", assentiu. "E agora? Que vão vocês fazer?"

"Vamos proceder a uma identificação biométrica."

"O que quer isso dizer?"

"Trata-se de um processo de reconhecimento automático de pessoas através de traços anatómicos distintivos", explicou Frank Bellamy na sua voz rouca e tensa. "Como sabe, todas as pessoas que entram nos Estados Unidos são fotografadas por pequenas câmaras nos postos aduaneiros, quando apresentam o passaporte."

"Ah, sim", exclamou Tomás. "São aquelas câmaras redondas e amarelas, não é? Ainda hoje me fotografaram numa delas quando cheguei aqui ao aeroporto de Washington."

"É um procedimento que adoptámos depois do 11 de Setembro", explicou o responsável da NEST. "O que vai acontecer agora é que o Don irá ligar o ficheiro com o rosto dos seus alunos ao sistema onde estão registados os milhões e milhões de fotografias de todas essas pessoas que entraram aqui nos Estados Unidos nos últimos dois anos. O computador irá ver quais os rostos dos seus alunos que coincidem com rostos de pessoas que vieram visitar-nos. A investigação far-se-á a partir daí." "E é rápido?"

Bellamy balançou a cabeça.

"Pode levar algum tempo. O computador trabalha depressa, mas são muitas fotografias para comparar..."

Sentado diante do ecrã do computador, Don ia^licarldo ordens para fazer a ligação entre o ficheiro e o sistema aduaneiro. Quando terminou, o processo de identificação biométrica começou a funcionar, com a ampulheta do computador a aparecer sempre que processava uma comparação anatómica.

"Isto não pode ir mais depressa?", perguntou Tomás.

"E demasiada informação", retorquiu Don sem descolar os olhos do ecrã. "O sistema biométrico por reconhecimento de rosto funciona a baixa velocidade, devido às muitas semelhanças que as pessoas apresentam entre si. A taxa de sucesso é muito

elevada

em

condições

controladas,

designadamente quando o indivíduo está a olhar de frente para a câmara e com uma expressão neutra, mas se há diferenças na pose ou nos apêndices faciais, como óculos ou outras coisas, o processo complica-se." Indicou as imagens no ecrã.

"Felizmente as fotografias dos seus alunos e dos visitantes que chegam cá são todas frontais e relativamente neutras, o que viabiliza o reconhecimento biométrico. Mas mesmo assim o computador tem de tomar decisões com base em fotografias que não são exactamente iguais e precisa de reconstituir pequenas diferenças, como por exemplo o tamanho dos cabelos e das barbas.

Isso leva tempo."

"Estamos a falar de quanto tempo exactamente?"

"Podemos estar aqui dias. Ou até semanas."

"O quê?!", espantou-se o português, erguendo a voz alarmada. "Nós não temos dias! E semanas muito menos! O meu contacto em Lahore foi muito claro quanto a isso! O atentado está iminente! Não haverá maneira de apressarmos isto?"

O outro vulto lá atrás deu um passo em frente e pôs a mão no braço de Tomás. Era Rebecca.

"Tom, como deve calcular ainda estamos mais ansiosos do que você," disse ela. "Não se esqueça de que, no fim de contas, este é o nosso país. Mas infelizmente não podemos fazer mais nada. Temos de aguardar que o computador faça o seu trabalho e rezar para que ele o conclua a tempo."

"Isto é muito lento", protestou o historiador, inconformado. "Não existem mais pistas?"

"Infelizmente, não."

Tomás manteve os olhos fixos na ampulheta que girava no ecrã, exasperado pela lentidão do processo de reconhecimento biométrico, a mente em busca de alternativas.

"E a charada?"

"Qual charada?"

O português fitou Rebecca.

"Não se lembra de eu lhe ter dito, quando nos encontrámos em Lahore, que tinha quebrado a cifra da charada?"

A americana levou a mão direita à cabeça.

"Pois é!", exclamou. "A mensagem enviada para Lisboa do endereço da Al-Qaeda! Com toda a confusão em Lahore e depois em Ierevan, nunca mais me lembrei disso! Porque não me falou no assunto mais cedo?"

"Porque você não mostrou o menor entusiasmo quando lhe dei a notícia em Lahore. Ao ver a sua reacção, achei que já não dava grande importância à charada..."

"Claro que dou! Hell, no meio desta loucura esqueci-me completamente!" Assumiu uma expressão interrogadora. "O que contém a mensagem? Há lá alguma pista?"

Tomás meteu a mão ao bolso e extraiu o seu bloco de notas.

"Não sei", respondeu, abrindo o caderninho.

"Consegui identificar o sistema de cifra quando ia no táxi ao seu encontro, em Lahore, mas não completei a decifração."

Folheou o bloco de notas, com os dois americanos atrás

dele a espreitarem por cima do ombro. ^ *

"Goddam it!", praguejou Frank Bellamy. "Como puderam vocês negligenciar uma coisa dessas?"

"Mister Bellamy, a coisa em Lahore esteve muito difícil", desculpou-se Rebecca. "Com aquela confusão toda, a verdade é que tínhamos outras prioridades e esta questão... enfim, passou-nos um pouco ao lado."

Os dedos de Tomás imobilizaram-se numa folha do pequeno caderno com linhas azuis.

"Está aqui."

A atenção dos dois americanos convergiu para a folha, onde viram a charada que já lhes era familiar.