Tudo aquilo já Ibn Taymiyyah conhecia. Haveria porventura algum mudjabedin que ignorasse que Alá lhe prometia o Paraíso em caso de se tornar sbabid?
Na verdade, em ponto algum do Alcorão ou da sunnah do Profeta dava Deus garantias de que o crente iria para os jardins eternos. Por mais que se esforçassem e tentassem respeitar com extremo rigor a sbaria, os crentes acabavam sempre por cometer pecados e não havia garantias nenhumas de que Alá lhes perdoasse. A única circunstância em que essas garantias existiam ocorria justamente nos casos de martírio. Quem morresse em martírio iria com toda a certeza para o Paraíso, mesmo que tivesse cometido muitos pecados em vida. Assim sendo, como era possível um verdadeiro crente não desejar o martírio? Ser sbahid era ver abrir-se uma entrada directa e segura no Paraíso, pelo que qualquer mudjabedin só podia ansiar ardentemente pela morte em jibad.
"Se Alá me convidar para os Seus jardins, aceitarei com grande alegria", garantiu Ibn Taymiyyah. "Diz-me o que tenho de fazer e será feito."
Bin Laden estendeu a mão e pousou-a no ombro do convidado, num gesto de apreço.
"És um verdadeiro crente, meu irmão", proclamou.
"São mudjabedin como tu que permitirão reencaminhar a umma e salvar a humanidade, com a graça de Deus."
"A tua generosidade embaraça-me, xeque.
Limito-me a cumprir o meu dever de crente que se submete à vontade de Alá. Quais são as tuas ordens?"
Bin Laden endireitou-se e assumiu a sua pose de emir dos mudjabedin.
"Lembras-te de eu te ter explicado o nosso plano para
provocar
os
kafirun
da
aliança
cruzados-sionistas a virem combater na nossa terra, de modo a despertar a umma e a provocar o colapso do inimigo?"
"Sim, o plano do califado. Tens um papel para mim nesse plano?"
O xeque assentiu com a cabeça.
"Tenho um papel muito, muito importante."
Ibn Taymiyyah levou a mão ao peito.
"Muito me honras, xeque. Se Alá me criou para desempenhar um papel assim tão importante na expansão da verdadeira fé, quero que saibas que estarei à altura de tão elevada missão. Nada me honra mais do que servir a Deus."
"O teu nome foi-nos sugerido pelos irmãos que te treinaram em Khaldan", revelou Bin Laden voltando-se para Al-Zawahiri, que acompanhava a conversa em silêncio. "Meu irmão, podes explicar tu a ideia?"
O egípcio afinou a voz.
"A situação é a seguinte", começou por dizer. "Os kafirun vão atacar-nos aqui no Afeganistão. Todas as condições de segurança de que gozamos actualmente irão desaparecer nos tempos mais próximos. E por isso que estamos a plantar células adormecidas um pouco por todo o mundo. Quando passarem as primeiras vagas de ataques teremos de ter prontas respostas muito poderosas. Com a graça de Deus, as respostas serão dadas por essas células adormecidas, uma vez que eu receio que a operacionalidade do nosso comando esteja por essa altura comprometida." Fitou o convidado. "Estás a acompanhar o meu raciocínio até agora?"
"Sim, muito bem."
Al-Zawahiri apontou para ele.
"O que nós queremos é que tu sejas uma dessas células."
"Farei o que me for ordenado."
"A ideia é simples. A operação que os nossos valentes irmãos lançaram no abençoado dia 11 de Setembro, que essa data gloriosa fique gravada a ouro na história da humanidade, mostrou que a aliança cruzados-sionistas, por mais poderosa que seja, pode ser atingida nos seus pontos fracos. A América é uma grande potência, mas assenta numa*fundaÇão frágil e oca. Se atingirmos a fundação, o edifício desmoronar--se-á, inch'Allah!
Precisamos, pois, de ti para lançar o mais mortífero dos ataques contra essa fundação."
"O que querem exactamente que eu faça?"
"Falei com Abu Nasiri para lhe dizer que estava à procura de um mudjahedin com um perfil muito específico para uma missão... digamos, especial. Abu Nasiri ouviu as minhas especificações e disse que, por acaso, tinha justamente em Khaldan um mudjahedin que encaixava na perfeição." Sorriu.
"Eras tu, claro."
"Folgo em saber que Alá, na Sua imensa sabedoria, encontrou um papel para mim nos Seus altos desígnios."
"Queríamos
alguém
que
estivesse
muito
familiarizado com explosivos e que não tivesse sido ainda identificado pelos serviços secretos dos kafirun. Quando o Abu Nasiri falou de ti, fomos investigar a forma como chegaste a Khaldan e constatámos que foste enviado pela Al-Jama'a. Ora acontece que eu próprio, sendo egípcio, tenho muitos conhecimentos dentro da Al-Jama'a, pelo que me fui informar. O que me foi dito revelou-se realmente muito encorajador. Não só és um verdadeiro crente, daqueles capazes de dar a vida por Alá, como tens um curso de Engenharia, o que é muito útil na área dos explosivos. Além disso, nunca estiveste inscrito na Al-Jama'a e vives em Al-Lishbuna, uma cidade que se encontra totalmente fora dos circuitos dos verdadeiros crentes! Isso significa que nenhuma polícia tem o teu nome referenciado! E a cereja em cima do bolo, meu irmão, é que tens agora treino de mudjahedin. E... perfeito! Eu nem queria acreditar que tu existias! E, no entanto, aí estás tu, Deus seja louvado! Es uma verdadeira dádiva de Alá para a grande jihad!"
Ibn Taymiyyah quase corou de orgulho.
"Farei o que precisarem."
"Precisamos que voltes para Al-Lishbuna e aí permaneças como uma célula adormecida, vivendo a tua vida normal até alguém te contactar e te entregar uma ordem codificada. Essa pessoa levará um plano para executar. Quando isso acontecer, obedecerás às instruções operacionais que te forem dadas."
"Mas o que precisam de mim exactamente? Que leve a cabo um assassinato?"
"Precisamos que montes uma bomba e a faças explodir no sítio que te for ordenado."
"TNT? Semtexr
Bin Laden fez um gesto a Al-Zawahiri, indicando querer ele próprio retomar a condução da conversa.
Virou a cabeça e fitou Ibn Taymiyyah com gravidade.
"Nuclear."
O convidado abriu e fechou a boca, primeiro chocado, depois na dúvida sobre se teria escutado bem. "O quê?"
"Uma bomba nuclear."
Ibn Taymiyyah olhou em redor, para se certificar de que aquilo era a sério.
"Mas... mas...", gaguejou. Abanou a cabeça, tentando reordenar os pensamentos. "Desculpem, querem que eu construa e faça explodir uma bomba nuclear?"
"Isso mesmo."
"Mas... não pode ser. Não se constrói uma bomba nuclear assim às três pancadas! Uma bomba dessas é muito complexa, requer muitos meios e material sofisticado. Além disso..."
"Ao que nos dizem", cortou Bin Laden com a sua voz calma e suave, "o princípio é até elementar."
O mudjahedin afagou a barba, pensativo enquanto reconsiderava a questão.
*
"Bem... sim, é verdade", admitiu ao fim de alguns instantes. "Embora o fabrico de uma bomba dessas requeira primeiro a produção de materiais muito raros... plutónio ou urânio enriquecido. Eu não quero desanimar ninguém, mas só para obter esse combustível nuclear é preciso reunir uma equipa multidisciplinar
e
equipamento
de
ponta,
comQ„centrifugadoras e coisas do estilo. Depois o trabalho levará, à vontade, uma década. Acima de tudo, é preciso considerar que não será fácil encontrar onde..."
"Nós temos o material nuclear."