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"O quê?"

"Foi-nos entregue há uns anos por um comando checheno, como pagamento pelas acções de treino para a jibad contra os kafirun russos no Cáucaso."

"Onde o arranjaram eles?"

"Roubaram-no de umas instalações russas, acho eu.

Não interessa. O facto é que, com a graça de Deus, temos o material."

"E que material é esse? Urânio? Plutónio?"

"Urânio."

A sua mente de engenheiro começou a funcionar a grande velocidade, contemplando as possibilidades que inesperadamente se lhe abriam.

"E qual o grau de enriquecimento?"

"Noventa por cento."

"Por Alá, isso serve!", exclamou com súbito entusiasmo. "Onde está esse urânio?" Bin Laden sorriu. "Em Khaldan."

Ibn Taymiyyah abriu a boca, perplexo. Havia urânio enriquecido em Khaldan? Mas onde? Trabalhara em explosivos com Abu Nasiri e não se lembrava de ver qualquer material radioactivo no campo de treinos.

Ele próprio fora muitas vezes buscar explosivos às grutas que serviam de arsenal e... e...

Bateu na testa quando a ideia lhe ocorreu.

"Por Alá!", exclamou. "A terceira gruta!"

O urânio estava na terceira gruta! Daí que Abu Nasiri o tivesse proibido de a visitar! Pudera! Havia urânio enriquecido na terceira gruta!

"Como dizes, meu irmão?"

A sua mente voltou à galeria onde decorria o jantar.

"Eu?", admirou-se por ter falado alto. "Nada, nada.

Estava apenas a... a falar comigo próprio."

Bin Laden manteve o olhar preso nele, como se o avaliasse.

"Achas-te capaz de cumprir esta missão?"

"Sem dúvida!", exclamou sem hesitar. "Pode contar comigo, xeque."

"A construção da bomba... não é impossível, espero."

"Não, não. Se eu tiver urânio enriquecido em quantidade suficiente, isso faz-se sem grandes problemas técnicos. Como o senhor disse há pouco, os princípios são simples."

"E a tal década de que estavas a falar ainda há instantes?"

"Isso era para enriquecer o urânio ou para produzir plutónio. Mas se já dispomos de urânio enriquecido esse problema não se põe."

Finalmente convencido de que o homem diante dele estava à altura da missão, o xeque esfregou as mãos.

"Excelente! Excelente!", exclamou. "Vou então dar instruções ao Abu Omar e ao Abu Nasiri para te ajudarem. Considerando que os kafirun vêm aí, o material radioactivo vai ter de ser imediatamente transportado para um sítio mais seguro."

Ibn Taymiyyah ergueu o sobrolho.

"Atenção que há problemas de segurança muito importantes. E preciso levar o material para um local discreto, montar a bomba e depois transportá-la para o alvo. Isso não é tão simples como à primeira vista possa parecer..."

"Deixa isso connosco. Quero que sigas a tua vida normal e não te faças notar. Quando chegar o momento certo, serás contactado. Nessa altura, só terás de montar a bomba e, com a graça de Deus, fazê-la detonar no local apropriado. O resto é um problema nosso"

"Como saberei eu que a pessoa que me vai contactar é genuína?"

"Ela dir-te-á uma senha com o nome de código da operação. A senha é o versículo 16 da sura 8 do Santo Alcorão."

O convidado fez um esforço de memória para localizar o versículo em questão.

"Versículo 16... versículo 16..."

"É aquele que avisa os crentes de que não devem fugir da jihad sob pena de irem para o grande fogo."

"Ah, já sei!", exclamou Ibn Taymiyyah, identificando enfim o versículo. "«Quem volte então as costas - a menos que seja para retornar ao combate ou para se unir a outro grupo de combatentes — incorrerá na fúria divina, e o seu refúgio será o Inferno»."

O xeque assentiu.

"E essa a senha."

"Muito bem. E o nome da operação?" "Já te disse: está inserido nesse versículo."

O visitante fez um ar desconcertado.

"Mas o versículo é longo, xeque", argumentou.

"Quais as palavras nele contidas que são o nome de código da operação?"

Antes de responder, Bin Laden ergueu-se da mesa e deu o jantar por terminado. Os outros três homens seguiram-lhe o exemplo e Ibn Taymiyyah ficou à espera da resposta.

O xeque olhou então para ele.

"Gbadhabum min'Allah", murmurou. "Fúria Divina."

LIII

As atenções do grupo estavam todas voltadas para a linha que Tomás rabiscara no bloco de notas a partir da mensagem interceptada à Al-Qaeda. Os homens da CIA olhavam para o gatafunho e abanavam a cabeça, sem entender o que viam.

SUKAtt S AYAH 16

"Shit!", praguejou Frank Bellamy na sua voz rouca e tensa. "É uma nova fucking charada!"

"Não, não é", corrigiu Tomás. "São palavras e números árabes. Mais do que isso, é uma referência corânica! Diz-se surah ou sura e significa capítulo.

Ayab quer dizer versículo. Ou seja, capítulo 8, versículo 16. A mensagem remete para um versículo do Alcorão!"

"J7/ be damned!", exclamou Bellamy, a atenção vidrada na linha decifrada. "Que versículo é esse?"

"Não sei." O historiador olhou em redor. "Tem aí algum exemplar do Alcorão?"

Rebecca dobrou-se e pegou na pasta que guardara aos pés de uma mesinha.

"Eu tenho!", anunciou, abrindo a pasta e começando a vasculhá-la. "Desde que ando a lidar com esta gente que não largo o Alcorão." A mão parou de remexer o interior, como se tivesse localizado o que procurava. "Aqui está!"

Entregou o livro a Tomás, que logo se pôs a folheá-lo.

"Sura 8... sura 8... sura 8...", murmurou, os dedos a passarem as páginas a grande velocidade. "Ah!

Encontrei!" O indicador deslizou pelos versículos do capítulo. "Vamos lá ver o... o... o versículo 16."

A unha do historiador cravou-se na linha onde começava o versículo e os três inclinaram a cabeça para ler o que lá se encontrava.

"«Quem volte então as costas — a menos que seja para retornar ao combate ou para se unir a outro grupo de combatentes — incorrerá na fúria divina, e o seu refúgio será o Inferno»", leu Rebecca.

"Fucking bell!", praguejou Frank Bellamy, os dentes cerrados. "Mais um mistério! Eu não digo? Esta merda não acaba! Cada charada encerra uma nova charada e não saímos disto."

"Não há aqui mistério nenhum", disse Tomás, esforçando--se por interpretar o que lera. "Esta é uma ordem de Alá para que os muçulmanos façam a guerra contra os infiéis, proibindo os crentes de fugirem a não ser para prepararem um novo ataque."

Bateu com o dedo na página do Alcorão. "O que temos aqui é uma ordem operacional."

"Uma ordem de Alá."

"Sim. Mas também uma ordem da Al-Qaeda. Ou seja, ao enviar a referência deste versículo, Bin Laden ordenou ao seu operacional em Lisboa que desencadeasse a operação terrorista." Ergueu a cabeça e mirou Rebecca. "Quando é que esta mensagem foi colocada no endereço da Al-Qaeda na Internet?" "Há dois meses."

Tomás voltou-se para o operador americano que vigiava o

processamento de dados da comparação biométrica em curso.

"Oiça... você chama-se Don, não é?"

^ •

O rapaz voltou a cabeça, surpreendido por ser interpelado. "Yes, sir. Don Snyder."

"Don, não é preciso fazer a comparação das fotografias dos meus alunos com a dos visitantes que entraram nos Estados Unidos nos últimos dois anos. Restrinja o universo de pesquisa aos visitantes que entraram no país nos últimos dois meses."

Don olhou para Frank Bellamy, como se pedisse autorização.

"Sí'rf"'

Bellamy assentiu. "Do ií."

O operador voltou-se para o ecrã e desatou a digitar no teclado as novas ordens.