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— Isso mesmo.

Mon Dieu, tem certeza?

— Tenho.

André levantou-se, foi até o aparador, serviu-se de um conhaque, bebeu.

— Babcott confirmou há um mês. Sem qualquer possibilidade de equívoco. Só pode ter sido ela. Quando a interroguei a respeito, ela...

Ele a viu de novo, na casinha dentro dos muros da casa das Três Carpas no pequeno franzido no rosto oval perfeito. Ela tinha apenas dezessete anos e pouco mais de um metro e meio de altura.

Hai, gomen nasai, Furansu-san, mancha, como a sua, mas ano passado minha sukoshi, pequena, hai, pequena, Furansu-san, sukoshi, não ruim, sumiu — dissera ela, gentilmente, com seu sorriso meigo, na habitual mistura de japonês e fragmentos de inglês. — Hana dizer mama-san. Mama-san dizer ver médico, ele dizer não ruim. Não ruim porque eu só começava, ainda pequena. Doutor diz orar santuário e tomar remédio horrível. Mas tudo sumiu poucas semanas.

Uma pausa, e ela acrescentara, feliz:

— Tudo sumiu um ano atrás.

— Não sumiu coisa nenhuma!

— Por que raiva? Não preocupe. Oro no santuário xintoísta como doutor diz, dou dinheiro sacerdote, como... — Seu rosto se contraíra numa risada. —... como remédio gosto horrível. Poucas semanas tudo sumiu.

— Não sumiu. Nem vai sumir. Não tem cura. Ela o fitara de uma maneira estranha.

— Tudo sumiu, você vê eu, meu corpo, tudo, muitas vezes, neh? Claro tudo sumiu.

— Pelo amor de Deus, não sumiu!

Ela franzira o rosto outra vez, dera de ombros.

— Karma, neh?

André explodira. Ela ficara tão chocada que baixara a cabeça para o tatame e começara a suplicar perdão, desesperada.

— Não ruim, Furansu-san, sumiu, doutor diz, sumiu. Vai mesmo doutor, tudo some logo...

Além das paredes de shoji, André ouvira passos e sussurros.

— Você tem de procurar o médico inglês!

Seu coração trovejava nos ouvidos e ele tentava falar de forma coerente, sabendo que procurar um médico, qualquer médico, era inútil, e que embora às vezes se conseguisse deter os estragos, nem sempre, também era certo, tão inevitável quanto o sol nascer no dia seguinte, que os estragos um dia se manifestariam com uma violência total.

— Será que você não compreende? — gritara ele. — Não há cura!

Ela se limitara a fazer uma reverência, tremendo como um cachorrinho maltratado, e repetira, em tom monótono:

— Não ruim, Furansu-san, tudo sumiu...

Com esforço, André recuperou o controle e fitou Seratard.

— Quando a interroguei a respeito, ela disse que ficara curada, há cerca de um ano. E é claro que acreditava nisso, acreditava que tivera uma cura completa. Dei alguns gritos, perguntei por que não contara a Raiko-san, e ela murmurou alguma coisa a respeito, que não havia o que dizer, o médico garantira que não era nada, e sua mama-san teria contado a Raiko-san, se fosse importante.

— Mas isso é terrível, André! Babcott a examinou?

— Não.

Outro gole de conhaque, que não lhe proporcionou o prazer habitual, e ele acrescentou, num fluxo rápido, ansioso em finalmente contar tudo a alguém:

— Babcott me disse que a sífilis... disse que uma mulher que contraiu sífilis antes pode ficar sem qualquer marca, que nem sempre vai transmiti-la, não todas as vezes que deita com um homem, só Deus sabe por que, mas é inevitável que ela acabe passando a doença, se o homem continuar a deitar com ela, e depois que uma ferida aparecer, ele está perdido, mesmo que depois de um mês ou por aí a ferida ou feridas desapareçam, e ele pense que está seguro, mas não está!

Agora, a veia no meio da testa de André se tornara saltada, escura, pulsando com intensidade.

— Semanas ou meses depois, surge uma erupção, que é o segundo estágio. Pode ser forte ou fraca, dependendo só Deus sabe do quê, e às vezes é acompanhada por hepatite ou meningite, e persiste ou desaparece, só Deus sabe por quê. O último estágio, o estágio do horror, aparece a qualquer momento, de uma hora para outra, até meses depois, talvez trinta anos depois.

Seratard tirou um lenço do bolso, enxugou a testa, rezando para ser poupado, e pensando nas frequentes ocasiões em que visitara a Yoshiwara, sobre sua própria musume, que agora era o único a desfrutar, embora nunca pudesse ter a certeza de que ela não tinha outro amante. Como provar ou refutar, se houver conluio com a mama-san, já que elas só estão interessadas em explorá-lo?

— Você tinha o direito de matá-la — murmurou ele, sombrio. — E matar também a mama-san.

— Raiko não foi responsável. Eu lhe dissera que não queria nenhuma das mulheres em sua casa, nenhuma em qualquer lugar da Yoshiwara. Queria uma jovem, especial, uma virgem ou quase isso. Supliquei que me encontrasse uma flor, expliquei exatamente o que queria, e ela me atendeu. Hana-chan era tudo o que eu desejava, a perfeição. Vinha de uma das melhores casas de Iedo. Não pode imaginar como ela é linda... era...

André recordou como seu coração disparara na primeira vez em que Raiko a mostrara, conversando com outras moças, na sala ao lado.

— Aquela ali, Raiko, a de quimono azul claro.

— Aconselho-o a ficar com Fujiko ou Akiko, ou uma de minhas outras damas — dissera Raiko, que falava um bom inglês, quando queria. — Com tempo, eu lhe encontrarei outra. Veja a pequena Saiko. Dentro de um ou dois anos...

— Aquela, Raiko. É perfeita. Quem é ela?

— Seu nome é Hana, a Flor. Sua mama-san diz que a coisinha bonita nasceu perto de Quioto, foi comprada por sua casa quando tinha três ou quatro anos, a fim de ser treinada para gueixa. — Raiko sorrira. — Por sorte, ela não é gueixa... Se fosse gueixa, não estaria em oferta. Uma pena.

— Porque eu sou gai-jin.

— Porque gueixa é para entreter, não para se levar para a cama. Não sendo japonês, desculpe dizer, Furansu-san teria muita dificuldade para apreciá-la. As mestras de Hana foram pacientes, mas ela não foi capaz de desenvolver a habilidades de gueixa, e por isso foi treinada para a cama.

— Eu a quero, Raiko.

— Há cerca de um ano, ela alcançou a idade mínima para começar. Sua mama-san arrumava os melhores preços, mas só depois que Hana aprovava o cliente, é claro. Três clientes apenas a desfrutaram, sua mama-san garante que ela é uma excelente discípula, e que só ia para a cama com um deles duas vezes por semana. A única marca contra ela é o fato de ter nascido no ano do cavalo do fogo.