Выбрать главу

Ori deixou escapar um suspiro profundo. Preocupado, Hoag verificou sua pulsação. Era imperceptível, assim como a respiração.

— Não importa — murmurou Hoag. — Pelo menos ele ainda tem uma pulsação.

Gomen nasai, Hoh Geh-san — disse a voz suave da moça —, anata kangaemasu, hai, iyé?

— Ela diz: “Desculpe, Honorável Sábio Iluminado, acha sim ou não?” Cheng-sin tossiu. Passara todo o tempo longe da varanda, de costas para eles.

Hoag deu de ombros, observando-a, especulando a seu respeito, de onde vinha tanta força, onde ela morava, o que aconteceria agora. Uki estava muito pálida, o rosto abalado, mas ainda dominada por uma vontade de ferro. Os olhos do médico contraíram-se num sorriso.

— Não sei. Depende de Deus. Uki, seu número um. Samurai.

— Domo... domo arigato gozaimashita. Obrigada.

Ela se inclinou para o tatame. Seu verdadeiro nome era Sumomo Anato, a prometida de Hiraga e irmã de Shorin, não de Ori.

— Ela pergunta o que deve fazer agora.

— Por seu irmão, nada no momento. Diga à criada para pôr toalhas frias na testa dele e manter as bandagens encharcadas com água limpa, até a febre baixar. Se a... depois que a febre baixar, e espero que isso aconteça antes do amanhecer, o rapaz viverá. Talvez.

E quais são as chances, essa era a pergunta seguinte habitual. Só que não aconteceu desta vez.

— Tenho de ir agora. Diga a ela para mandar alguém me buscar amanhã de manhã...

Se ele ainda estiver vivo, pensou Hoag, mas preferiu não dizê-lo. Enquanto Cheng-sin traduzia, Hoag começou a lavar seus instrumentos. A moça chamou o criado, murmurou-lhe algumas palavras.

Hai — disse o homem e se afastou apressado.

— Doutor em Medicina Sábio Iluminado, antes de partir, dama diz que vai querer um banho. Sim?

O Dr. Hoag já ia dizer que não, mas descobriu-se a acenar com a cabeça em aceitação. E sentiu-se contente por isso.

Ao crepúsculo, Babcott sentava-se na varanda da legação, saboreando um uísque. exausto, mas satisfeito com seu trabalho naquele dia. Havia um agradável cheiro de maresia na brisa que soprava pelo jardim. No momento em que seus olhos desviaram-se, involuntariamente, para os arbustos em que o assassino vestido de preto fora surpreendido e morto, três semanas antes, o sino do templo começou a repicar, e o canto distante dos monges ressoou por toda parte:

— Ommm mahnee padmee hummmmm...

Babcott virou a cabeça, de uma forma abrupta, quando Hoag se aproximou.

— Pelo bom Deus!

Hoag vestia um yukata estampado, com faixa na cintura, sapatos-meias nos pés e tamancos japoneses. Tinha os cabelos e a barba lavados e escovados. Carregava debaixo do braço um barril de saquê envolto por palha e exibia um sorriso radiante.

— Boa noite, George!

— Parece muito satisfeito consigo mesmo. Onde esteve?

— A melhor parte foi o banho.

Hoag pôs o barril num aparador e serviu-se de uma dose de uísque puro. — Por Deus, o melhor banho que já tive! Nem posso acreditar o quanto me sinto bem até agora!

— Como era ela? — perguntou Babcott, secamente.

— Não houve sexo, meu caro, apenas fui bastante esfregado, mergulhado em água quase fervendo, apertado e massageado, e depois me deram este traje para vestir. Enquanto isso, todas as minhas roupas foram lavadas e passadas, limparam as botas, trocaram as meias. Maravilhoso! Ela me deu o saquê, e isto...

Hoag tirou da manga, e mostrou a Babcott, duas moedas de formato oval e um pergaminho coberto de caracteres.

— Por Deus, foi muito bem pago! Essas moedas são oban de ouro... e dão para mantê-lo com champanhe pelo menos por uma semana! O sargento me disse que você foi chamado para uma visita domiciliar.

Ambos riram e depois Babcott indagou:

— Era um daimio?

— Acho que não. Era um jovem, um samurai. Não creio que o tenha ajudado muito. Pode ler o pergaminho?

— Não, mas Lim pode. Lim!

— Pois não, amo?

— O que diz o papel?

Lim pegou o pergaminho. Seus olhos se arregalaram, ele releu com cuidado, antes de dizer a Hoag, em cantonês:

— Diz aqui: “Doutor em Medicina Sábio Iluminado prestou um grande serviço. Em nome dos shishi de Satsuma, dêem-lhe toda ajuda que ele precisar.” Lim apontou para a assinatura, com um dedo trêmulo. — Desculpe, lorde, mas nâo consigo ler o nome.

— Por que está tão assustado? — perguntou Hoag, também em cantonês.

Lim respondeu com evidente apreensão:

— Os shishi são rebeldes, bandidos caçados pelo Bakufu. São maus, lorde, apesar de samurais.

Impaciente, Babcott interveio:

O que diz o documento, Ronald?

Hoag relatou o que o chinês lhe dissera.

— Um bandido? O que aconteceu?

Sedento, Hoag serviu-se de mais uísque e começou a descrever em detalhes a mulher, o rapaz e o ferimento, como cortara o tecido morto.

— ...parece que o pobre coitado foi baleado há duas ou três semanas...

— Deus Todo-Poderoso!

Babcott levantou-se de um pulo, ao constatar que tudo se ajustava, surpreendendo Hoag, que derramou o uísque.

— Ficou maluco? — resmungou Hoag.

— Pode encontrar o caminho de volta à casa?

— Ahn... acho que sim, mas...

— Vamos até lá, depressa! Babcott saiu da sala, gritando:

— Sargento da guarda!

Desceram por uma viela, Hoag na frente, ainda de yukata, mas agora calçando as botas, Babcott logo atrás, o sargento e dez soldados em seguida, todos armados. Os poucos pedestres, alguns carregando lanternas, tratavam de sair da frente. Havia uma lua cheia lá em cima.

Ainda mais depressa agora. Uma curva errada. Hoag praguejou, voltou, orientou-se, encontrou a entrada meio oculta da viela correta. E seguiram em frente. Outra viela. Ele parou, apontou. O portão, vinte metros adiante.

No mesmo instante, o sargento e os soldados passaram por ele. Dois ficaram de costas contra o muro, montando guarda, quatro arremeteram de ombro contra o portão, arrancando-o das dobradiças, e passaram pela abertura, Hoag e Babcott em seu encalço... ambos empunhando rifles emprestados com a maior facilidade, peritos em seu uso, uma habilidade comum e uma necessidade para todos os civis europeus na Ásia.