Atravessaram o jardim. Subiram os degraus. O sargento abriu aporta de shoji. O aposento estava vazio. Sem a menor hesitação, o sargento passou para o cômodo seguinte, e o outro. Nenhum sinal de qualquer pessoa nos cinco cômodos interligados, na cozinha ou na privada externa de madeira. Todos saíram para o jardim.
— Espalhem-se! — ordenou o sargento. — Jones e Berk, sigam por aquele lado, vocês dois por ali, vocês dois pelo outro lado, e vocês dois ficam de guarda aqui; e pelo amor de Deus, mantenham os olhos bem abertos!
Os soldados aprofundaram-se pelo jardim, em duplas, um protegendo o outro. a lição do primeiro assassino devidamente aprendida. Procuraram por todos os cantos. Nada. O sargento suava quando voltou.
— Não vimos nada, senhor. Nem mesmo um sussurro, absolutamente nada. Tem certeza de que foi aqui mesmo, senhor?
Hoag indicou uma mancha escura na varanda.
— Foi ali que operei.
Babcott praguejou, olhou ao redor. Aquela casa era cercada por outras, e apenas os telhados apareciam por cima dos muros e nenhuma janela dava para aquele lado. Não havia nenhum lugar para se esconder.
— Eles devem ter partido no momento em que você foi embora.
Hoag removeu o suor da testa, secretamente contente pelo fato de a moça ter escapado. Depois de sair para o banho, não tornara a vê-la, um fato que lamentara. A criada lhe entregara o dinheiro e o pergaminho, ambos embrulhados de maneira meticulosa, além do barril de saquê, e lhe dissera que sua ama enviaria um guia para buscá-lo na manhã seguinte e transmitia seus agradecimentos.
Sobre o irmão, Hoag se sentia agora ambivalente. O rapaz era apenas um paciente, ele era médico, e queria ter êxito em seu trabalho.
— Nunca me ocorreu que o rapaz pudesse ser um dos assassinos. É verdade que não faria qualquer diferença, não para a operação. E pelo menos agora sabemos seu nome.
— Mil oban contra um botão quebrado como era falso. Nem sequer sabemos se o rapaz era mesmo irmão dela. Se ele era um shishi, como diz o pergaminho, só pode ser falso. Além do mais, a impostura é um antigo costume japonês. — Babcott suspirou. — Também não tenho certeza se era o demônio da Tokaidô. Apenas um pressentimento. Quais são as chances dele?
— A saída daqui não ajudou em nada.
Hoag pensou por um momento, um homem atarracado, parecendo um sapo, em contraste com a enorme altura de Babcott, embora nenhum dos dois se desse conta da diferença.
— Tornei a examiná-lo pouco antes de ir embora. A pulsação era fraca, mas firme. Creio que removi a maior parte do tecido gangrenado, mas... — Ele deu de ombros. — Sabe como são essas coisas... “Você entra com seu dinheiro e corre os riscos.” Eu não apostaria muito na sua possibilidade de sobreviver. Mas, por outro lado, quem pode saber, não é mesmo? E agora me conte sobre o ataque. Quero saber todos os detalhes.
Durante a volta, Babcott relatou tudo o que acontecera. E falou sobre Malcolm Struan.
— Ele me preocupa, mas Angelique é a melhor enfermeira que poderia ter.
— Jamie disse a mesma coisa. Concordo que não há nada como uma linda jovem à cabeceira de um doente. Malcolm perdeu muito peso... e ânimo... mas é jovem e sempre foi o mais forte da família, depois da mãe. Deve ficar bom, desde que os pontos resistam. Tenho absoluta confiança em seu trabalho, George, embora seja uma lenta recuperação para o pobre coitado. Ele está mesmo apaixonado pela moça, não é?
— É, sim, e a recíproca é verdadeira. Um sujeito de sorte. Caminharam em silêncio por algum tempo, rompido por Hoag, com evidente hesitação:
— Presumo que você já sabe que a mãe se opõe terminantemente a qualquer forma de ligação com a moça.
— Já tinha ouvido falar. Isso cria um problema.
— Acha então que as intenções de Malcolm são sérias?
— Mais do que sérias. Ela é uma moça extraordinária.
— Você a conhece?
— Angelique? Não muito bem, não como paciente, embora já a tenha observado sob uma terrível pressão. E você?
Hoag sacudiu a cabeça.
— Só a encontrei em festas, nas corridas, socialmente. Desde que ela chegou há três ou quatro meses, foi o centro das atenções nos bailes, com toda razão Nunca como paciente, pois existe agora um médico francês em Hong Kong imagine só! Mas concordo que ela é deslumbrante. Não necessariamente a esposa ideal para Malcolm, se é essa a sua intenção.
— Porque ela não é inglesa? Nem rica?
— As duas coisas, e mais ainda. Sinto muito, mas não consigo confiar nos franceses, uma raça ruim... é da natureza deles. O pai de Angelique é um perfeito exemplo, encantador, galante na superfície, mas um canalha logo abaixo, e até o fundo. Lamento, mas eu não escolheria a filha de um homem assim para casar com meu filho.
Babcott se perguntou se Hoag sabia que ele estava a par do escândalo: enquanto trabalhava na Companhia das índias Orientais, em Bengala, há mais de vinte e cinco anos, o jovem Dr. Hoag casara com uma indiana, contra todas as convenções e os conselhos de seus superiores, e por isso fora dispensado, enviado de volta à Inglaterra em desgraça. Tiveram uma filha e um filho, e depois ela morrera, o frio, a umidade e o nevoeiro de Londres quase uma sentença de morte para alguém de herança indiana.
As pessoas são muito estranhas, refletiu Babcott. Aqui está um bravo e íntegro inglês, um excelente médico, com filhos que são meio indianos — e, por isso, não aceitáveis socialmente na Inglaterra —, queixando-se da herança de Angelique. Quanta estupidez... e é uma estupidez ainda maior se esconder da verdade.
É verdade, mas você também não se esconde da verdade? Tem vinte e oito anos, ainda lhe sobra bastante tempo para casar, mas conseguirá algum dia encontrar uma mulher mais excitante do que Angelique, em qualquer lugar, ainda mais na Ásia, onde passará o resto de sua vida profissional?
Não, não encontrarei, tenho certeza. Sorte de Struan, que provavelmente casará com ela. E eu o apoiarei, sem a menor hesitação.
— Talvez a Sra. Struan esteja apenas sendo protetora, como qualquer mãe — comentou ele, sabendo como era importante a influência de Hoag sobre os Struans —, e apenas se opõe a Malcolm se amarrar muito cedo. O que é compreensível. Afinal, ele é o tai-pan agora e isso vai consumir todas as suas energias. Mas não me entenda errado, Ronald. Acho que Angelique é uma moça extraordinária, corajosa, a melhor companheira que um homem poderia desejar... e para fazer um bom trabalho, Malcolm vai precisar de todo apoio que puder obter.
Hoag percebeu a paixão por trás, registrou a informação e deixou o assunto por aí, sua mente subitamente de volta a Londres, onde a irmã e o marido criavam sua filha e seu filho, como sempre odiando a si mesmo por ter deixado a índia, submetendo-se às convenções e assim matando-a, Arjumand, a adorável.