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Ori e Shorin se animaram.

— Pode conseguir isso para nós?

— Claro.

Os ninjas constituíam uma associação secreta de assassinos treinados, que operavam quase que exclusivamente à noite, as roupas pretas especiais ajudando a alimentar o mito de sua invisibilidade.

— Houve um momento em que planejamos incendiar o prédio da legação. — Hiraga riu, esvaziou outro frasco de Saquê, o vinho quente, deixando sua língua mais solta do que o normal.— Mas decidimos em contrário, chegando à conclusão de que era mais valioso mantê-lo sob observação. Entrei lá várias vezes, disfarçado de jardineiro, ou à noite, como um ninja... é surpreendente o que se pode descobrir, mesmo sabendo só um pouco de inglês.

— Puxa, Hiraga-san, nunca imaginamos que sabia falar inglês — disse Ori, espantado com a revelação. — Onde aprendeu?

— Onde mais se pode aprender as qualidades dos gai-jin, se não com os próprios gai-jin? Ele era um holandês de Deshima, um lingüista que falava japonês, holandês e inglês. Meu avô escreveu uma petição ao nosso daimio, sugerindo que se devia permitir que um homem assim fosse a Shimonoseki, a fim de ensinar holandês e inglês por um ano, em caráter experimental, e o comércio viria depois. Obrigado — disse Hiraga, quando Ori tornou a encher seu frasco, polidamente. — Todos os gai-jin são muito crédulos... mas idolatram o dinheiro. Este é o sexto ano da “experiência”, e até agora só temos comércio para o que queremos, e quando podemos comprar... armas de fogo, canhões, munição, balas, e determinados livros.

— Como vai seu venerável pai?

— Com excelente saúde. Obrigado por perguntar.

Hiraga fez uma reverência em agradecimento. Eles responderam com reverências ainda mais baixas.

Como era maravilhoso ter um avô assim, pensou Ori, contar com essa proteção por todas as suas gerações... não como nós, que temos de lutar para sobreviver a cada dia, sempre estamos com fome, e temos a maior dificuldade para pagar nossos impostos. O que o pai e o avô pensarão de mim agora, ronin, confiscado o meu koku tão necessário?

— Eu me sentiria honrado em conhecê-lo — disse Ori. — Nosso shoya não é como ele.

Por muitos anos, o avô de Hiraga, um importante camponês e fazendeiro, além de partidário secreto de Sonno-joi, fora um shoya. Um shoya era o líder designado ou hereditário de uma aldeia ou grupo de aldeias, com grande influência, poder de magistrado, responsável pelas avaliações e coletas de impostos, e ao mesmo tempo o único defensor e protetor de camponeses e fazendeiros contra quaisquer práticas injustas do suserano samurai em cujo feudo a aldeia se encontrava.

Os fazendeiros e alguns camponeses possuíam e trabalhavam a terra, mas por lei não podiam deixá-la. Os samurais detinham a produção e o direito exclusivo de carregar armas, mas por lei não podiam ser proprietários de terra. Assim, cada parte dependia da outra, numa inevitável e interminável espiral de suspeita e desconfiança... o equilíbrio de quanto arroz ou outros produtos deveria ser entregue como imposto, ano a ano, e o quanto podia ser conservado exigia sempre um acordo dos mais delicados.

O shoya precisava manter o equilíbrio. O conselho dos melhores era às vezes procurado em questões fora de sua aldeia, pelo suserano imediato ou acima, até mesmo pelo próprio daimio. O avô de Hiraga era um homem assim.

Alguns anos antes, ele recebera permissão para comprar a posição de samurai goshi, para si mesmo e seus descendentes, um dos oferecimentos do daimio — um recurso costumeiro de todos os daimios, normalmente cheios de dívidas, para levantar uma receita extra, de suplicantes aceitáveis. O daimio de Choshu não era exceção.

Hiraga soltou uma risada, o vinho já lhe subira à cabeça.

— Fui escolhido para essa escola de holandês, e muitas vezes lamentei a honra, pois o inglês é difícil, tem um som horrível.

— Eram muitos na escola? — perguntou Ori.

Através do nevoeiro do Saquê, uma campainha de alarme soou, e Hiraga compreendeu que fornecia muitas informações confidenciais. Quantos estudantes de Choshu cursaram a escola era um segredo, da conta apenas de Choshu; embora gostasse e admirasse Shorin e Ori, eles ainda eram satsumas, forasteiros, que nem sempre haviam sido aliados, muitas vezes inimigos, e invariavelmente inimigos em potencial.

Só três de nós aprendem inglês — murmurou ele, como se estivesse revelando um segredo, em vez de trinta, o número verdadeiro. Interiormente alerta, ele acrescentou: — Agora que vocês são ronin, como eu e a maioria dos meus camaradas, devemos trabalhar mais unidos. Estou planejando uma ação daqui a três dias, na qual vocês podem nos ajudar.

— Obrigado, mas devemos esperar pela palavra de Katsumata.

— Claro, ele é o seu líder satsuma. — Uma pausa, e Hiraga acrescentou pensativo: — Mas, por outro lado, Ori, não esqueça que você é ronin, e será ronin até vencermos. Não esqueça que somos a vanguarda de Sonno-joi, os homens que fazem, enquanto Katsumata não arrisca nada. Devemos esquecer... para valer., que eu sou choshu, e vocês dois são satsumas. Temos de ajudar uns aos outros. É uma boa idéia dar seqüência ao ataque que desfecharam na Tokaidô e roubar armas esta noite. Matem um ou dois guardas dentro da legação, se puderem, o que seria uma grande provocação. E se puderem fazer tudo em silêncio, sem deixarem vestígios, ainda melhor. Qualquer coisa para provocá-los.

Com as informações de Hiraga, fora fácil penetrar no templo, contar os dragões e outros soldados e encontrar o esconderijo perfeito. Depois, a moça aparecera, inesperadamente, em seguida o gigante, os dois logo tornaram a entrar no prédio. Desde então, ambos os shishi não conseguiam desviar os olhos da porta que dava para o jardim.

— Ori, o que vamos fazer agora?— perguntou Shorin, nervoso.

— Vamos nos ater ao plano.

Os minutos foram passando, aumentando a ansiedade dos dois. Quando a janela do segundo andar foi aberta, e viram a moça, eles compreenderam que um novo elemento surgira no futuro de ambos. Ela escovava os cabelos com uma escova de cabo de prata. Apática. Shorin disse, a voz meio rouca: