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Entre os dois lados, os intérpretes instalavam-se em almofadas. O japonês estava ajoelhado, e o outro, um suíço, Johann Favrod, sentava de pernas cruzadas. A língua comum era o holandês.

A reunião já durava duas horas — inglês traduzido para o holandês, e depois o japonês, e japonês para o holandês e inglês. Todas as perguntas de Sir William eram compreendidas da maneira errada, ou precisavam de várias repetições, os “adiamentos” eram solicitados de uma dúzia de maneiras diferentes, para “consultar autoridades superiores”, que “promoveriam os exames e investigações necessários”, e “no Japão exames são muito diferentes de investigações, excelência, o governador de Kanagawa deve explicar tudo em detalhes”... e “o governador de Kanagawa deseja explicar, excelência, que não tem jurisdição sobre Satsuma, que é um reino separado...” e “o governador de Kanagawa foi informado, excelência, que os acusados sacaram pistolas de forma ameaçadora, e são culpados de não obedecerem aos antigos costumes japoneses...” e “quantos estrangeiros formavam o grupo, e todos deveriam ter se ajoelhado... mas nossos costumes...”

Uma reunião tediosa, consumindo tempo demais, com complexas preleções em japonês pelo governador, traduzidas para um holandês que nada tinha de fluente, e depois para o inglês.

— Seja incisivo, Johann, exatamente como eu falei.

— É o que fiz todas as vezes, Sir William, mas tenho certeza que esse cretino não está traduzindo direito, nem o que nós falamos; nem o que os japoneses dizem.

— Sabemos disso. Alguma vez foi diferente? Por favor, vamos acabar logo de uma vez.

Johann fez uma tradução exata. O intérprete japonês corou, pediu uma explicação da palavra “imediatas”, e depois apresentou uma tradução aproximada, polida e apropriada, que considerava que seria aceitável. Até mesmo o governador respirou fundo pela afronta. O silêncio era opressivo. Os dedos tamborilando no cabo da espada, num gesto contínuo e irritante, ele deu uma resposta curta, três ou quatro palavras. Atradução foi longa, e depois Johann disse, joviaclass="underline"

— Sem toda a merda, o governador diz que vai encaminhar o seu “pedido”, no momento apropriado, às autoridades apropriadas.

Sir William ficou vermelho, de forma perceptível, os dois almirantes e o general ainda mais.

— “Pedido”, hem? Diga a esse sujeito exatamente o seguinte: Não é um pedido, é uma exigência! E diga mais: exigimos uma audiência IMEDIATA com o xógum em Iedo, dentro de três dias! Três dias, por Deus! E irei até lá num vaso de guerra!

— Bravo! — murmurou o conde Zergeyev.

Johann também se cansara do jogo, e imprimiu um tom brusco às palavras. O intérprete japonês soltou uma exclamação de espanto, e no mesmo instante lançou um fluxo de holandês em voz cáustica, a que Johann respondeu docemente com apenas duas palavras, que precipitaram um silêncio súbito e consternado.

— Nanja?

— O que é isso, o que foi dito? — indagou o governador, furioso, sem se equivocar quanto à hostilidade, nem disfarçando a sua.

No mesmo instante, o nervoso intérprete ofereceu uma versão abrandada, mas mesmo assim o governador explodiu num paroxismo de ameaças e súplicas, recusas e mais ameaças, que o intérprete traduziu em palavras que considerava que os estrangeiros gostariam de ouvir. Depois, ainda abalado, escutou de novo, tornou a traduzir.

— O que ele disse, Johann?

Sir William teve de elevar a voz acima do barulho, pois o intérprete ainda falava ao governador e aos representantes do Bakufu, que conversavam entre si.

Johann sentia-se feliz agora, pois sabia que a reunião terminaria logo e poderia voltar ao Long Bar, para o almoço, acompanhado por schnapps.

— Não sei, exceto que o governador repete que o melhor que pode fazer é transmitir seu pedido etecétera, às autoridades etecétera, mas não há a menor possibilidade do xógum conceder essa honra etecétera, porque é contra seus costumes etecétera...

Sir William bateu com a palma da mão na mesa. No silêncio chocado, ele apontou para o governador, depois para si mesmo.

Watashi... eu...— Ele apontou pela janela, na direção de Iedo. — Watashi ir a Iedo!

Depois, ele levantou três dedos, e arrematou:

— TRÊS DIAS, num navio de guerra!

Sir William levantou-se, saiu da sala. Os outros o seguiram. Ele seguiu pelo corredor até sua sala, foi à mesa com garrafas de cristal lapidadas, serviu-se de uísque.

— Alguém gostaria de me acompanhar? — indagou ele, enquanto os outros o cercavam.

Automaticamente, Sir William serviu scotch para os almirantes, o general e o prussiano, clarete para Seratard e uma significativa vodca para o conde Zergeyev.

— Pensei que tudo transcorreria de acordo com o que planejamos. Lamento ter escapado ao controle.

— E eu pensei que ia arrebentar uma artéria — comentou Zergeyev, esvaziando seu copo e servindo-se de mais vodca.

— Longe disso. Apenas queria encerrar a reunião com um pouco de drama

— Então partiremos para Iedo dentro de três dias?

— Exatamente, meu caro conde. Almirante, prepare a nave capitânia para zarpar ao amanhecer, passe os próximos dias arrumando tudo, organizando o convés para combate de forma ostensiva, todos os canhões em posição, mande toda a esquadra ficar de prontidão e se juntar a nós em batalha, se for necessário General, quinhentos soldados devem ser suficientes para uma guarda de honra Monsieur, a nave capitânia francesa gostaria de nos acompanhar?

— Claro — respondeu Seratard. — Pode estar certo de que o acompanharei, e sugiro a legação francesa como quartel-general, e uniformes de gala.

— Não aos uniformes, pois será uma missão punitiva, não para apresentar credenciais... isso só ocorrerá depois. E não ao quartel-general. Um cidadão britânico é que foi assassinado e... Como posso dizer? Nossa esquadra é que será o fator decisivo.

Von Heimrich soltou uma risada.

— Sem dúvida, é mesmo decisiva nestas águas, no momento. — Ele olhou para Seratard. — Uma pena que eu não tenha uma dúzia de regimentos da cavalaria prussiana, pois neste caso poderíamos dominar os japoneses sem a menor dificuldade e acabar com toda a sua estupidez insidiosa e os maus modos.

— Só uma dúzia? — indagou Seratard, sarcástico.

— Seria o suficiente, Herr Seratard, para todo o Japão... nossos soldados são os melhores do mundo... depois das tropas de sua majestade britânica, é claro — acrescentou ele, insinuante. — Ainda bem que a Prússia pode dispensar vinte ou até trinta regimentos só para este pequeno setor e ainda contar com o necessário para lidar com qualquer problema que possamos enfrentar, em qualquer lugar, particularmente na Europa.

— Bom... — interveio Sir William, enquanto Seratard ficava vermelho. Ele terminou de tomar seu drinque. — Irei a Kanagawa para tomar algumas providências. Almirante, general, talvez devêssemos ter uma rápida conferência quando eu voltar... irei à nave capitânia. Ah, monsieur Seratard, o que vamos fazer com mademoiselle Angelique? Quer que eu a escolte de volta?