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Outro golpe, mais outro e mais outro, agora usando a cabeça do machado, como se fosse um malho, para arrebentar o caixão em pedaços, sempre praguejando. A madeira rachou, mas resistiu, depois um golpe violento esmagou o lado e o topo, ele escorregou, estatelando-se no chão. O machado escapuliu de seu controle e o dilúvio seguinte jogou-o contra o caixão, depois tornou a puxá-lo. Passada a espuma, ele conseguiu respirar, forçou os olhos a se abrirem. Ainda a mesma coisa. Ainda firme. Mais uma vez, ele se adiantou, mas agora perdera as forças, as mãos mal davam para se segurar.

E foi então que ele viu um cabo quase rompido. O emaranhado de cabos rangia sob a tensão, contorceu-se, ficou um pouco desembaraçado, mais um pouco, depois o caixão deslizou, a extremidade bateu no oceano, começou a se arrebentar. Por um instante, ainda manteve a extremidade na superfície, depois atundou, deixando espuma e bolhas em sua esteira. Um pedaço de pano, que era a bandeira da Struan, aflorou à superfície. O vagalhão seguinte varreu o mar, subiu a bordo, puxou suas pernas, arrastou-o contra a base do gurupés, depois sugou-o de volta, ao longo do convés, o contramestre lutando para recuperar o controle do cúter

Atônito por estar vivo, Jamie se descobriu ofegando na popa. No limite de suas forças, cambaleou até a porta da cabine e caiu lá dentro.

Skye continuava em seu canto, vomitando, semi-inconsciente, Hoag estendido de barriga para baixo, inconsciente, Angelique enroscada no banco em que a deixara, gemendo e soluçando, os olhos fechados. Estremecendo, Jamie arriou ao seu lado, o peito arfando, sem pensar, sabendo apenas que ainda se encontrava vivo e que eles ainda estavam seguros.

Depois de algum tempo, seus olhos clarearam. Avistou terra a cerca de um quilômetro e meio de distância, notou que a chuva diminuíra, tornar se acalmara um pouco. Agora, apenas uma ou outra onda passava por cima da amurada. Num armário por baixo do banco, ele encontrou cobertores, envolveu-se com um, passou o outro em torno de Angelique.

— Estou com muito frio, Jamie... onde você esteve? — balbuciou ela, como uma criança assustada, apenas meio consciente. — Estou com muito frio, solitária, me sentindo horrível, mas contente pelo que fizemos, muito contente, oh, Jamie sinto muito frio...

Quando encostaram no cais da Struan, havia umas poucas estrelas enevoadas cintilando. Ainda era cedo, a noite mal começava a cair. O céu limpara e prometia um bom dia para amanhã. Os navios mercantes e a esquadra continuavam ancorados, sãos e salvos, tranqüilos, as luzes de ancoragem acesas. Havia uma atividade intensa apenas no navio de correspondência, com muitos lampiões a óleo acesos, como vaga-lumes.

Com a maior agilidade, o foguista pulou para o cais com um cabo, amarrou o cúter e depois ajudou os outros a desembarcarem. Angelique foi a primeira, depois Skye e Hoag. Jamie subiu os degraus sem dificuldade, ainda envolto pelo cobertor, sentindo frio, mas não muito. Skye e Hoag estavam brancos, estômago e cabeça ainda doloridos, as pernas fracas. Mas Angelique parecia muito melhor agora. Sua dor de cabeça desaparecera. Não sentira qualquer enjoo. Mais uma vez, chorara tudo o que tinha para chorar. Na última meia hora, deixara o ar abafado e fétido da cabine e fora se juntar a Jamie na popa. Ali, virara o rosto para o vento e deixara que desanuviasse seu cérebro.

Por trás dela, Hoag tossiu, cuspiu o catarro na água, se chocando com os pilares do cais.

— Desculpem — murmurou ele, precisando desesperadamente de um trago. Notou a confusão na proa, algumas tábuas quebradas, o gurupés desaparecido, as adriças também, a maior parte da amurada. — O que aconteceu?

— Alguns detritos foram lançados para bordo, como se fossem um caixote respondeu Jamie. — O que me deixou apavorado por um momento.

— Tive a impressão de ouvir um estrondo... acho... acho que vou dar um pulo até o clube... antes de me deitar.

— Vou com você — declarou Skye, precisando de mais do que um drinque para assentar o estômago. — Jamie? Sra. Angelique?

Ela sacudiu a cabeça, e Jamie disse:

— Podem ir. Não há mais nada a fazer esta noite... e não se esqueçam do plano.

Haviam combinado que nada seria dito, e que se alguém perguntasse se limitariam a informar que haviam realizado um sepultamento simbólico no mar, só isso.

Por sorte, nenhum dos outros vira o caixão voltar ao cúter, nem a luta de Jamie para soltá-lo... exceto o contramestre. Assim que pudera, ele subira à casa do leme e dissera:

— Contramestre, sobre o caixão, os outros lá embaixo nada viram. Assim na sua cabeça, você também não viu, e nada dirá a respeito. É um segredo nosso.

— Como quiser, senhor. — O contramestre lhe entregara o frasco. — Obrigado. Se não fosse por sua ação, teríamos afundado, todos nós... junto com ele.

Quase não restava mais nada no frasco, mas ajudara.

— Pensei que nunca conseguiria. Mas vamos esquecer. Um juramento seu. hem?

— Como quiser, senhor. Mas antes de esquecermos, quando o caixão afundou e se rompeu, ele apareceu. Pensei que estava tentando voltar para bordo.

— Deus do céu! — balbuciara Jamie. — Você está imaginando coisas, não vi nada... é apenas sua imaginação.

— Não é, não, senhor. Eu estava mais alto e podia ver melhor, certo? E vi o patife, pedindo seu perdão, vi quando ele voltou à superfície, se debatendo, antes de afundar.

— Está imaginando coisas, pelo amor de Deus! Que coisa horrível para dizer!

— É a verdade de Deus, senhor! Claro que foi apenas por um instante, e o mar espumante o envolvia, mas vi muito bem!

O contramestre cuspira na direção do vento, batera na madeira, e fizera o sinal contra o mau-olhado e o diabo, puxara o lóbulo da orelha para reforçar, antes de acrescentar:

— A verdade de Deus, senhor, e que um raio caia na minha cabeça se estiver mentindo. Fez meus colhões pularem até o reino e voltarem. Juro que ele aflorou à superfície, antes de Davy Jones, o espírito do mar, puxá-lo para o fundo, completamente nu.

— Não diga bobagem! E pare de inventar coisas! — Jamie estremecera, batera também na madeira, por precaução. — Imaginou tudo isso, embora eu seja capaz de jurar por Deus que o maldito caixão parecia ter vontade própria... e maligna ainda por cima!

— O que estou querendo dizer, senhor, é que estava possuído pelo próprio diabo. — O contramestre tornara a cuspir a favor do vento, suando. — Ele se debateu para chegar à superfície, parecia diferente, os olhos abertos e tudo o mais e pensei que vinha nos buscar.

— Pelo amor de Deus, pare com isso! Malcolm jamais haveria de querer que alguma coisa ruim nos acontecesse — garantira Jamie, contrafeito. — Foi apenas sua imaginação.

— Eu estava vendo tudo de cima, senhor...

— Esqueça o que pensa que viu! Tem mais algum rum?

O contramestre tossira, inclinara-se, abrira um armário escondido, tirara outro frasco. Estava pela metade. Jamie tomara um gole grande, engasgara, tomara outro.