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— Haverá dez caixas de rum para você pegar em nosso armazém, contramestre, com os meus agradecimentos. Fez um bom trabalho, assim como o foguista... quatro caixas para ele.

O contramestre agradecera, efusivo. O calor do rum no estômago de Jamie prevalecera sobre o frio. Fitara o rosto curtido, os astutos olhos azuis.

— Nunca fiquei tão apavorado em toda a minha vida. Pensei que ia morrer umas três ou quatro vezes.

— Não eu, senhor. — O contramestre sorrira. — Não com o senhor a bordo. Mas confesso que fiquei feliz quando o patife e seu caixão afundaram, nos amaldiçoando até o fundo...

Agora, apesar de são e salvo em terra, Jamie estremeceu, pensando nisso. Angelique disse:

— Você deve tirar essas roupas molhadas.

— Já estou indo — anunciou Hoag.

Angelique abraçou-o, beijou-o no rosto, fechando as narinas ao cheiro de vômito.

— Muito obrigada. Até amanhã.

Ela fez a mesma coisa com Skye. Os dois se afastaram, em passos trôpegos.

— Eles ficarão bem?

— Não têm nada que uns poucos uísques e uma noite de sono não possam curar — respondeu Jamie.

— Mas não estão em condições de discutir qualquer coisa, não é?

— Não. O que você quer discutir?

Angelique passou o braço pelo dele.

— Apenas decidir sobre amanhã.

— Podemos conversar enquanto andamos.

Despediram-se do contramestre e do foguista, ambos agradecendo de novo pelo rum. Foram andando de braços dados.

— Angelique... antes de você dizer qualquer coisa, quero que saiba que me sinto contente pelo que fizemos.

— Eu também, meu caro Jamie. Você é maravilhoso e me sinto contente e feliz por nada ter saído errado, ninguém ter se machucado. — Um tênue sorriso. — Apenas um pouco de enjoo.

— Não há com que se preocupar. E amanhã?

— Decidi não seguir no navio de correspondência... não, por favor, não diga nada, já decidi. Estou mais segura aqui. Até receber notícias de Tess formalmente.

É verdade, Jamie, estou mesmo mais segura aqui. E tenho certeza que Hoag e George concordariam que seria mais sensato, por motivos médicos. E acho que você também não deve ir.

— É meu dever contar tudo, Sra. Struan... à Sra. Tess Struan.

— Pode me chamar de Angelique. Afinal, sempre me tratou assim, e sou Sra. Struan há bem pouco tempo. — Ela suspirou, continuou a andar na direção do prédio da Struan. — É melhor eu ficar. Ela terá de declarar quais são as suas intenções e é melhor que seja por uma carta despachada para cá. Malcolm foi sepultado no mar e isso era tudo o que eu queria. Precisa mesmo ir?

— Com este vento — disse Jamie, pensando em voz alta — o Prancing Cloud pode desenvolver de quinze a dezessete nós e chegar a Hong Kong em cinco dias e ela ficará muito ocupada com uma notícia tão importante, a carga ainda mais importante.

Todos haviam concordado que em público — e agora também em particular — considerariam que o caixão continha o corpo do tai-pan.

— O navio de correspondência só conseguirá uma média de oito nós — continuou Jamie —, e assim só chegará no prazo habitual, dez dias e pouco. Quando atracar, o funeral já terá sido realizado, Tess saberá de tudo, de dezenas de pontos de vista diferentes... meu relatório está a bordo, assim como o de Sir William, e dezenas de outros, com toda certeza. Ela me dispensou ao final do mês, o novo homem chega dentro de poucos dias, e fui instruído a lhe mostrar tudo.

Havia ainda os motivos, que ele decidira não enunciar em voz alta. Deveria procurar outras hongs — como as grandes companhias eram às vezes chamadas —, em busca de um emprego. Mas o único emprego disponível, à altura de sua experiência, seria na Brock and Sons e certamente ele receberia uma oferta. Precisava também decidir sobre Maureen, e ainda tinha de pensar em Nemi. Jamie sorriu para Angelique, desolado.

— No final das contas, também não tenho nenhuma razão para ir, não é mesmo?

Ela aconchegou-se contra seu passo, indiferente aos que passavam.

— Fico contente por isso. Não vou me sentir tão sozinha se você ficar aqui.

— Jamie! — chamou Phillip Tyrer, da porta da legação britânica, pondo apressado a sobrecasaca e o chapéu, e se adiantando. — Boa noite, Angelique, Jamie. Sir William apresenta seus cumprimentos e pede que vocês dois... e os outros passageiros e tripulantes do cúter... façam a gentileza de procurá-lo amanha de manhã, antes da igreja, e antes de embarcarem no navio de correspondência. Deve zarpar às duas horas.

— Com que propósito, Phillip? — perguntou Jamie.

— Acho... acho que ele gostaria... merda! Desculpe, Angelique. É óbvio que ele deseja perguntar o que vocês estavam fazendo.

— Fazendo?

Tyrer suspirou.

— Desculpe, meu velho, mas a idéia não é minha. Estão metidos numa encrenca, apenas transmiti a mensagem, mais nada. Não se zanguem comigo. Sou apenas o mensageiro mais próximo.

Angelique e Jamie riram, a tensão se dissipando.

— Dez horas?

— Obrigado, Jamie. Deve ser tempo suficiente. — Tyrer olhou para o cúter. — Parece que vocês tiveram uma travessia difícil. O que aconteceu com a proa?

Jamie olhou para trás. Os danos eram claramente visíveis à luz do lampião no cais, e ele compreendeu que poderiam ser percebidos sem qualquer dificuldade das janelas da legação, por meio de um binóculo.

— Um caixote... ou o que parecia um caixote... foi jogado para bordo, e depois levado de volta pelas ondas. Não chegou a criar maiores problemas.

50

Domingo, 14 de dezembro:

Não concordo, Jamie. é evidente que temos um problema. — Sir William sentava atrás de sua mesa, fitando-os, com Phillip ao lado. O clima na sala insípida era inquisitorial. — Vamos começar de novo. Como parece ser o porta-voz, vou me dirigir a você. Eu disse expressamente que não haveria funeral aqui, o corpo seria enviado para Hong Kong, e...

— E já partiu, Sir William, no Prancing Cloud — repetiu Jamie, o queixo empinado.

Discutiam há meia hora, ele e Sir William, os outros respondendo cautelosos, todos instruídos por Jamie e Skye a só falarem quando interrogados diretamente, e mesmo assim não oferecerem qualquer informação voluntária, apenas responderem ao que fosse indagado, da maneira mais simples possíveclass="underline" Hoag, Skye, o contramestre, o foguista, Angelique. Hoag era sem dúvida o elo mais fraco na corrente e, por duas vezes, quase revelara o motivo. Angelique usava um véu, vestido preto, pronta para ir à igreja.