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— Bom dia, Jamie, Sr. Skye. Phillip, não precisa ficar.

A porta foi fechada. Hoag era como uma lebre diante de uma naja.

— E agora, doutor, diga-me a verdade. Como ela está?

— Está muito bem, na superfície, Sir William — respondeu Hoag, no mesmo instante. — É uma cura superficial. O que há por baixo, ninguém sabe. Pode durar dias, semanas, um ano, ou mais... e depois o pesadelo voltará. O que acontecerá então...

Ele deu de ombros.

— Vai conversar com Tess Struan?

— Assim que eu chegar.

Hoag esperou, trêmulo, receando o interrogatório, sabendo que cederia. Pensativo, Sir William levantou-se, serviu um uísque, entregou a Hoag. A bebida logo desapareceu.

— Não voltará a Iocoama por algum tempo, talvez nunca mais. Preciso saber, em termos confidenciais, de uma coisa: quais são as possibilidades médicas de que ela esteja esperando uma criança de Malcolm?

Hoag piscou, o uísque e a inesperada gentileza acalmando-o, mas também deixando-o atordoado, pois não previra aquela linha de interrogatório. Respondeu com a maior sinceridade:

— Claro que isso depende de Deus, senhor. Mas Malcolm era saudável, e ela também, duas excelentes pessoas, infelizmente marcadas pelo destino... muito triste. Eu diria que as possibilidades são grandes, pois não houve uma fantasia ociosa, o ato de amor entre os dois deve ter sido muito ardente, quase uma paixão arrebatada.

Sir William franziu o rosto.

— Ótimo. Quando se encontrar com Tess Struan... acho que a nossa Sra. Struan vai precisar de toda ajuda que puder obter. Não concorda?

— Pode ter certeza de que intercederei por ela.

Sir William balançou a cabeça, estendeu a mão para a gaveta. O envelope estava lacrado, com a indicação de Pessoal, Confidencial e Particular, a ser entregue em mãos, endereçado a Sir Stanshope, governador de Hong Kong, de Sir Wlliam Aylesbury, ministro para o Japão.

— Tenho uma missão oficial para você, secreta. Quero que entregue isto ao governador, pessoalmente, assim que chegar.

Ele escreveu no rodapé “Entregue pessoalmente pelo Dr. Hoag”. Decidira usá-lo no momento em que soubera que Jamie não viajaria no navio de correspondência e porque não havia ninguém a bordo do Prancing Cloud em quem pudesse confiar.

— Deve ser entregue pessoalmente, a mais ninguém, assim como ninguém deve saber que é um mensageiro da rainha. Entendido?

— Claro, Sir William — respondeu Hoag, orgulhoso.

Ele sabia que Hoag se tornara dócil e poderia lhe arrancar qualquer coisa que quisesse. Quem começara a maquinação, o que haviam pensado no mar, por que fizeram aquilo, o que acontecera de fato em Kanagawa. Sir William sorriu para si mesmo, desfrutando sua posição, mas motivos pessoais levaram-no a não insistir no assunto.

— Tenha boa viagem. Aguardo ansioso a oportunidade de revê-lo em Hong Kong.

— Obrigado, senhor.

Hoag se retirou, exultante por ter escapado com sua honra intacta. Jamie e Skye o aguardavam na High Street, ansiosos.

— Não houve nada, sinceramente — disse Hoag, excitado. — Ele só queria fazer perguntas médicas, particulares.

— Foi isso mesmo?

— Juro por meu coração e que um raio me caia na cabeça se estiver mentindo. Vamos depressa, pois dá tempo de tomar um trago antes da igreja. Ainda me sinto todo encharcado.

Eles se afastaram, felizes, sem notarem que Sir William os observava de sua janela. Eu me pergunto se esses canalhas continuariam tão felizes se pudessem ler minha carta para o governador, pensou ele, de cara amarrada. Ainda não se livraram da encrenca, nenhum de nós se livrou. Como se um caixão pudesse ter alguma importância com o mundo inteiro desmoronando, a Rússia à beira da guerra outra vez, a Prússia lambendo os beiços com as entranhas da Europa Central, os franceses com seu orgulho militante e exagerado, nosso império indiano e colônias asiáticas em perigo por causa de idiotas desnorteados no Parlamento; nós aguardando o iminente extermínio pelos japoneses.

Na superfície, a carta era inócua. Decifrada, dizia: Solicito urgente todos os reforços possíveis de esquadra e exército, pois espero que a colônia seja atacada a qualquer momento por legiões de samurais do Bakufu, talvez tenhamos de abandonar nossa base aqui.

A igreja católica estava iluminada por velas, o altar faiscando, a congregação escassa, e o padre Leo conduzia a litania da missa ao final, sua voz profunda de barítono melodiosa, em meio ao perfume familiar de incenso que envolvia a todos... o serviço mais curto do que o habitual, já que algumas pessoas embarcariam no navio de correspondência.

Angelique ajoelhava-se no primeiro banco, absorvida em oração, Seratard ao seu lado, André alguns bancos atrás, Vervene no fundo, com o resto do pessoal da legação, uns poucos mercadores, eurasianos portugueses, e alguns oficiais e marujos dos navios franceses de licença em terra. A maior parte dos marujos franceses assistia a outras missas, antes ou depois. Não havia padres nos navios, pois considerava-se que trazia má sorte tê-los a bordo, em qualquer navio, de qualquer bandeira.

O padre Leo inclinou-se para o altar, rezou e depois concedeu a bênção à congregação. Angelique respirou fundo, concluiu sua oração sem pressa e esperou que Seratard se levantasse.

Já fizera a confissão. Dissera no confessionário:

— Perdoe-me, padre, pois eu pequei.

— Que pecados cometeu esta semana, minha criança?

Ela percebera a impaciência maldisfarçada de saber de cada pensamento e ato que havia ocorrido, sendo aquela a primeira vez que se confessava desde o início de seus problemas.

— Esqueci de pedir perdão à Santa Mãe, certa noite, em minhas orações — dissera ela, com absoluta calma, persistindo em seu pacto, no plano e palavras que projetara. — Tive muitos pensamentos e sonhos ruins, senti medo, e esqueci que me encontrava nas mãos de Deus, e assim nada precisava temer.

— E que mais?

Um pequeno sorriso se insinuara no rosto de Angelique, ao constatar que a impaciência aumentara.

— Pequei no meu casamento, embora tenha sido legal aos olhos da gente de meu marido, de sua lei e sua Igreja. Mas não houve tempo para nós celebrarmos o casamento na verdadeira Igreja.

— Mas... mas isso, senhora, não é por si só um pecado, já que não foi responsável pelo que aconteceu, ele nos foi tirado abruptamente. Que outros pecados cometeu?

Ela mantivera as narinas fechadas ao máximo que podia, contra o cheiro de alho, vinho ordinário e roupas sujas, usando um lenço perfumado.

— Pequei por não conseguir persuadir Sir William a permitir que sepultasse meu marido conforme ele desejava e, portanto, eu desejava também.

— Isso... isso por si só não é um pecado, minha criança. O que mais?