— Somos aparentados — gracejara ele, depois de explicar a coincidência a Seratard.
Seratard rira e depois explicara, interrompendo os outros, que não paravam de falar, como macacos em uniformes exóticos, que sua família também era antiga na terra dos furansu, mas não tão ilustre.
— Meu superior se sente honrado em ser amigo e da parte gai-jin de sua grande família, Sire — dissera Andreh, com uma reverência.
— Diga a ele que considero seu nome um bom sinal — declarara Yoshi, notando que aquele homem parecia muito mais do que um mero intérprete.
— Meu superior agradece e diz que tudo aquilo que os ing’erish oferecem os furansu oferecem melhor.
Misamoto informara, obsequioso:
— Lorde, ele está querendo dizer que farão um negócio melhor... mais dinheiro. Os furansu também fabricam canhões, como os ing’erish, mas não tantos.
— Diga a eles que considerarei uma proposta para lhes entregar a concessão de carvão. Devem me dizer quantos fuzis e canhões, com pólvora e balas, e quando posso receber, por quanto carvão. E quero um navio a vapor, com oficiais para treinarem meus oficiais e marujos. Na verdade — acrescentara ele, com um ar de inocente —, talvez eu pudesse conceder aos furansu o direito exclusivo de construir, vender e treinar uma marinha. Claro que eu pagaria. Se o preço fosse razoável.
Ele vira os olhos de Misamoto se arregalarem; antes que Misamoto tivesse tempo de começar a traduzir, o gai-jin Andreh, que estivera escutando com igual atenção, dissera:
— Meu superior certo que rei da terra de furansu terá maior honra em ajudar lorde Yoshi Toranaga em navios.
Fascinado, ele observara Andreh virar-se para líder Serata e começar a falar, os oficiais navais ouvindo e balançando a cabeça, logo ficando também excitados. Espantoso como era fácil manipular aqueles homens com comércio e promessa de dinheiro no futuro, pensara ele. Se os furansu reagiam tão depressa, era certo que o líder ing’erish faria a mesma coisa. Dois peixes brigando pelo mesmo anzol é melhor do que um só.
Haviam conversado também sobre outras coisas, não pelo tempo suficiente para cobrir tudo, mas ele aprendera o suficiente para querer aprender mais. Um detalhe mencionado por Andreh Furansu-san o deixara abalado. Falavam sobre os conhecimentos médicos modernos e como seria fácil treinar o pessoal e equipar um hospital.
— Chefe doutor medicina em Kanagawa bom, Sire. Ouvir tairo Anjo doente, Sire. Ouvir talvez tairo ver doutor-sama.
— Quando e onde esse encontro vai ocorrer?
— Meu superior diz: não certo se já acertado, Sire. Talvez chefe doutor medicina ajudar tairo.
— Se um encontro for acertado, quero saber. Diga a Serata que um hospital é também uma possibilidade interessante.
Ele decidira deixar o assunto por aí. Por enquanto. Mas era outra informação que seria melhor Misamoto esquecer. Como posso ter um intérprete pessoal em quem confie? É melhor arrumar um. Talvez deva treinar Misamoto, ele é meu seguidor submisso, dependente, sob o meu controle. Até agora se mostrou obediente. Não resta a menor dúvida de que cuidou direito dos garimpeiros. Uma pena que ele estivesse ausente, relatando os progressos a Hosaki, quando os dois ligaram... como bestas selvagens, informaram os samurais, nada mais apropriado! Se Misamoto estivesse na mina, talvez pudesse impedi-los. Não que isso tenha alguma importância, um está morto, é menos um problema com que me preocupar, e com certeza o sobrevivente não continuará por muito mais tempo neste mundo. Carvão! Portanto, temos uma abundância em carvão, diz Hosaki, e para esses gai-jin o carvão parece valer tanto quanto ouro. Deliberadamente, ele mudara de assunto.
— Pergunte a Serata-san por que os gai-jin disparam canhões e fuzis, e mandam os navios de guerra navegarem de um lado para outro, perturbando a n desta terra dos deuses. Eles se preparam para a guerra?
Houvera um momento de silêncio. E o clima na cabine mudara.
— Meu superior dizer não preparar guerra — dissera o gai-jin Andreh. Yoshi concluíra que era uma tradição meticulosa. — Preparar defesa apenas. Sinto muito, tairo dizer que todos gai-jin têm ir embora.
— Por que não se retirar por um ou dois meses e depois voltar?
Ele rira interiormente ao perceber a consternação que a sugestão gerara.
— Meu superior dizer tratado assinado lorde xógum e posto prática líder Bakufu tairo Li e nobre imperador permitir nós Iocoama, Kanagawa e Kobe em breve. Tratado ser bom para Nipão, gai-jin ser bom para Nipão. Tairo Anjo, sinto muito, errado ficar tão zangado.
— Muitos daimios não pensam assim. Tairo Anjo é o líder. Vocês devem fazer o que ele ordena. Esta é a nossa terra.
— Meu superior dizer Furansu querer ajudar Nipão ser grande nação no mundo... como aqui também.
— Diga a Serata-sama que o tairo é o líder, o que ele diz deve ser obedecido, embora às vezes até o tairo possa mudar de idéia, se receber o conselho correto.
Yoshi vira esse novo dado ser registrado e acrescentara:
— Sinto muito, já explicamos uma dúzia de vezes que as questões de Satsuma só podem ser resolvidas por Sanjiro, o daimio de Satsuma.
— Meu superior dizer esperar alguém possa dar conselho correto a tairo. Daimio Satsuma deve dizer desculpas, pagar indenização combinada reunião Iedo, punir assassino abertamente.
Ele balançara a cabeça, como se estivesse muito preocupado. Levantara-se abruptamente, provocando mais consternação... não havia sentido em continuar a conversar com aqueles subalternos, que podiam ser valiosos sob outros aspectos, mas era o líder ing’erish que ele tinha de procurar. E embora mantivesse uma atitude altiva e severa, ele demonstrara alguma cordialidade e concordara, com uma relutância simulada, em ter outro encontro.
— Misamoto, diga a eles que podemos nos reunir de novo daqui a dez dias, em Iedo. Eles podem ir a Iedo para uma reunião particular.
No momento em que ele deixava o navio de guerra, o gai-jin Andreh dissera:
— Meu superior deseja você bom ano-novo.