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— O que propõe?

— Não caberia a mim propor o que certamente já decidiu, Sire. Mas ocorreu-me que, quando e se o líder ing’erish enviar seu ultimato, o lorde sozinho seria a pessoa perfeita para mediar... sozinho, Sire.

— Hum... E depois?

— Entre outras coisas, poderia pedir para ver esse Hiraga. E assim poderia avaliá-lo, talvez persuadi-lo a vir para o seu lado. Virá-lo em seu proveito. O momento não poderia ser mais oportuno.

— É bem possível, Inejin. — Yoshi já descartara isso por uma idéia muito melhor, que se ajustava ao plano que discutira com Ogama em Quioto, e à sua própria necessidade de iniciar a execução de seu grandioso projeto.— Ou fazer desse Hiraga um exemplo. Capture Katsumata, ele é a cabeça da serpente shishi e se Meikin é o meio para capturá-lo vivo, tanto melhor para ela.

A alguns quilômetros de distância, na estrada Tokaidô, na estação de posta de Hodogaya, Katsumata esquadrinhava a multidão, de uma janela da casa de chá.

— Seja paciente, Takeda — disse ele. — Hiraga não deve chegar até a metade da manhã. Seja paciente.

— Detesto este lugar — murmurou Takeda.

A aldeia situava-se em campo aberto, com poucos lugares em que poderiam se esconder e a apenas cinco quilômetros da colônia de Iocoama. Estavam na casa de chá da Primeira Lua, a mesma em que Katsumata e o daimio Sanjiro haviam se hospedado, depois do ataque de Ori e Shorin aos gai-jin, na Tokaidô.

— E se ele não vier?

O jovem coçou a cabeça, irritado, não tendo raspado o queixo nem a cabeça desde a fuga de Quioto.

— Ele virá, se não hoje, amanhã. Preciso falar com ele.

Os dois escondiam-se ali há uma semana. A viagem desde Quioto fora difícil, com muitas fugas por um triz.

— Sensei, não gosto deste lugar, nem da mudança do plano. Deveríamos estar em Iedo, se queremos continuar a luta, ou talvez devêssemos fazer a volta e ir para casa.

— Se quer ir, pode ir. Se quer voltar para Choshu, pode voltar. E na próxima vez em que se queixar, receberá a ordem para partir!

Takeda desculpou-se no mesmo instante e acrescentou:

— Acontece apenas que perdemos homens demais em Quioto, e nem sequer sabemos como os shishi se saíram em Iedo. Sinto muito, mas não consigo deixar de pensar que deveríamos voltar para casa, como aqueles que sobreviveram, eu para Choshu, você para Satsuma, e nos reagruparmos mais tarde.

— Hodogaya é um lugar perfeito para nós e esta estalagem é segura. Avisado de que Yoshi oferecera um prêmio alto por sua cabeça, Katsumata decidira ser prudente e não continuar.

— Amanhã ou depois prosseguiremos a viagem — acrescentou ele, contente pelo valor do jovem como um escudo para suas costas. — Primeiro, Hiraga.

Fora difícil e perigoso entrar em contato com ele. Poucas pessoas podiam passar pelas barreiras de Iocoama ou ter acesso à Yoshiwara dos gai-jin. Novos passes eram emitidos a todo instante, novas senhas instituídas. As patrulhas de vigilantes vagueavam por toda parte. Bolsões discretos de samurais enxameavam em torno de Iocoama, quase isolando-a do resto da terra.

Três dias antes, Katsumata descobrira uma criada cuja irmã era parteira e de vez em quando visitava a Yoshiwara. Por um oban de ouro, a parteira concordara em levar uma mensagem à mama-san da casa das Três Carpas.

— Takeda, fique aqui e continue vigiando. Espere com paciência.

Katsumata foi para o jardim, passou pelos portões da frente, saindo para a Tokaidô, movimentada com os viajantes matutinos, palanquins, carregadores, divinhos, escribas, samurais e alguns pôneis, transportando mulheres ou cavalgados por samurais. Todos falando, gritando, ganindo. A manhã era fria, as pessoas usavam casacos acolchoados, esquentavam a cabeça com lenços ou chapéus. Uns poucos samurais fitaram Katsumata, mas não belicosamente. A maneira como ele andava, a penugem na cabeça e no rosto, a espada longa numa bainha as costas, a curta na cintura apregoavam cautela para os inquisitivos. Era evidente que se tratava de um ronin de algum tipo e que seria melhor evitá-lo.

Nos arredores da aldeia, na área da barreira bem guardada, de onde tinha bom campo de visão para o mar e Iocoama, ele sentou num banco, num estande de comida à beira da estrada.

— Chá, que seja fresco, e cuide para sair bem quente.

O assustado vendedor se apressou em obedecer.

Na colônia, um grupo de mercadores a cavalo passou ruidosamente pela ponte; todos ergueram os chapéus ou chicotes de montaria para os guardas no portão norte, que responderam com reverências superficiais. Outros mercadores, ajudantes, soldados, marujos e a gentalha da cidade dos bêbados estavam a pé, todos num passeio na manhã do feriado. Era o dia de ano-novo. Haveria uma corrida de cavalos naquela tarde e, depois, uma partida de futebol entre equipes da marinha e do exército. Fazia frio, mas não muito, o vento era mais uma brisa, mas o suficiente para soprar a maior parte do cheiro de inverno, algas em decomposição e refugos humanos para o interior.

Um dos homens a cavalo era Jamie McFay. Quase ao seu lado seguia Hiraga, um lenço cobrindo a maior parte do rosto, o gorro de montaria baixado sobre os olhos, os trajes de montaria bem cortados. Aquela excursão não era aprovada nem do conhecimento de Tyrer e Sir William, um presente em troca do serviço de intérprete entre Jamie e o shoya e, também, pela prestação de informações sobre os negócios.

Hiraga dissera no dia anterior:

— Eu responder mais perguntas durante viagem, Jami-sama. Precisar ir Hodogaya, encontrar primo. Por favor?

— Por que não, Nakama, meu velho?

McFay não visitava a aldeia há meses, embora estivesse dentro da área combinada na instalação da colônia, e sentira-se contente pela desculpa. Poucos merrcadores se aventuravam tão longe, agora, sem uma escolta militar, o assassinato de Canterbury e o destino de Malcolm Struan sempre presentes em seus pensamentos.

McFay sentia-se muito bem hoje. Na última correspondência, uma declaração de seus banqueiros em Edimburgo levara-o a descobrir que se encontrava em melhor situação do que imaginara, tinha mais do que suficiente para começar por conta própria, em pequena escala. A Casa Nobre estava em boas mãos e isso o agradava. O novo gerente da Struan, Albert MacStruan, chegara de Xangai. Ele o conhecera em Hong Kong, três anos antes, quando MacStruan ingressara na companhia. Depois de seis meses de treinamento em Hong Kong, sob o comando de Culum Struan, ele fora para Xangai, onde logo se tornara o vice-diretor.

— Seja bem-vindo a Iocoama — dissera Jamie, com sinceridade. Gostava dele, embora soubesse muito pouco a seu respeito, exceto que era competente no que fazia, e seu ramo do clã era Highlander, uma linhagem de sangue escocês e espanhol, de um dos milhares de espanhóis da Invencível Armada que haviam naufragado ao largo da Escócia e Irlanda, e sobreviveram, mas nunca retornaram a seu país.