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Aqui ele seria considerado eurasiano, embora ninguém o afrontasse. Circulavam rumores de que era outro dos filhos clandestinos e ilegítimos de Dirk Struan enviado secretamente para a Escócia pelo pai, com um meio-irmão, Frederick MacStruan, ambos recebendo vultosos legados, pouco antes da morte de Dirk.

— Lamento muito revê-lo nestas circunstâncias terríveis, meu caro.

O sotaque de MacStruan era aristocrático, Eton e Universidade de Oxford, com um vestígio de escocês. Tinha vinte e seis anos, moreno, atarracado, pele dourada, malares salientes, olhos escuros. Jamie nunca o interrogara sobre o mito, nem MacStruan tomara a iniciativa de revelar qualquer coisa. Quando Jamie chegara a Hong Kong, quase vinte anos antes, fora advertido por Culum Struan, então o tai-pan, que ali não se faziam perguntas, em particular sobre os Struan.

— Temos muitos segredos, muitos atos tenebrosos que preferimos esconder. Ao receber o novo gerente da Struan em Iocoama, Jamie respondera:

— Está tudo em ordem, e não precisa se preocupar comigo, Sr. MacStruan. Sinto-me ansioso por uma mudança.

E embora não mais pertencesse formalmente à Casa Nobre, ainda o ajudava, pondo-o a par das operações e projetos, e apresentando-o, junto com Vargas, aos fornecedores japoneses. Os livros se encontravam em boa ordem, o negócio de carvão com Johnny Cornishman começara sem problemas, e deveria se tornar bastante lucrativo, carvão da melhor qualidade, com o acerto adicional de encher uma barcaça por semana, durante os três meses subseqüentes, como um período de experiência.

Generoso, MacStruan lhe concedera uma participação de vinte por cento dos lucros no primeiro ano e também aprovara o acordo que ele fizera com Cornishman.

— ...caso o patife ainda esteja vivo — comentara ele, com uma risada. Graças a Hiraga, as negociações secretas de Jamie com o shoya haviam desabrochado e fora formada, em princípio, a primeira companhia: I.S.K. Trading — Ichi Stoku Kompeni —, a esposa do shoya considerando que era mais prudente não usar seu próprio nome. A participação fora dividida em cem partes: o shoya tinha quarenta, McFay tinha quarenta, a esposa de Ryoshi quinze, e Nakama — Hiraga — cinco.

Na semana passada ele registrará sua própria companhia, amanhã abriria para negócios em escritório temporário no mesmo prédio que alojava o Guardian, de Nettlesmith. Há uma semana agora, o filho mais velho de Ryoshi, tímido, nervoso, com dezenove anos, apresentava-se para o trabalho às sete horas da manhã, todos os dias, e saía às nove horas da noite, ansioso em aprender tudo. O inglês em particular. E na última correspondência chegara um inesperado pagamento final de três meses, com um bilhete polido de Tess Struan, agradecendo nelos serviços prestados. Três meses não é tão ruim assim por dezenove anos, pensara ele, divertido.

Ainda não chegara notícias de Hong Kong, era cedo demais, embora o Prancing Cloud já devesse ter atracado ali há dez dias, ou mais, Hoag cerca de uma semana. Mais quatro ou cinco dias, no mínimo, para se ouvir qualquer coisa, talvez mais, e uma tremenda tempestade que se dizia estar acontecendo nos mares do sul da China podia atrasar ainda mais. Não adiantava tentar prever datas e tempo.

Um dia teremos telegrafia para Hong Kong e um dia, talvez, o fio se estenda até Londres. Por Deus, que vantagem para todo mundo poder enviar uma mensagem para Hong Kong e receber a resposta em poucos dias — e até Londres e de volta... em quanto tempo?... digamos doze a dezesseis dias —, em vez de quatro meses! Não será no meu tempo, mas aposto que a telegrafia chega a Hong Kong em mais dez ou quinze anos. Um hurra para Nakama e meu sócio Ryoshi, um hurra para minha nova companhia, a McFay Trading. E um hurra para Angelique.

Apesar do luto profundo, no dia de Natal ela concordara em participar do jantar que ele oferecera a Albert MacStruan, e que contara também com a presença de Sir William, Seratard, André e quase todos os outros ministros. Fora um discreto sucesso. Embora ela não exibisse sua jovialidade anterior, e pouco da sua personalidade antiga, ainda assim fora graciosa e doce, e todos comentaram que se tornara ainda mais bela em sua nova maturidade. Naquela noite haveria uma grand soirée na legação francesa, a que todos haviam sido convidados. André tocaria. Era duvidoso que Angelique dançasse; as apostas eram de dez contra um. Se ela estava grávida ou não, as apostas eram de igual para igual. Ninguém mencionava Hong Kong. Desde a aventura no mar, e da habilidade com que ela cuidara de Sir William, haviam se tornado amigos firmes, e jantavam juntos, em particular, quase todas as noites.

Um hurra para o ano-novo, que será maravilhoso!

Apesar de seu bom humor, ele sentiu uma pontada de aflição. Os negócios andavam difíceis, a guerra civil grassando outra vez em torno de Xangai, a peste em Macau, a guerra civil americana cada vez pior, fome na Irlanda, rumores de fome aqui no Japão, distúrbios nas Ilhas Britânicas por causa do desemprego e dos diários nas fábricas. E há também Tess Struan...

Droga! Prometi a mim mesmo que não me preocuparia com ela a partir de 1o de janeiro de 1863! Nem com Maureen...

Para escapar à ansiedade, ele usou as esporas. No mesmo instante, Hiraga fez a mesma coisa, os dois bons cavaleiros. Era a primeira vez que Hiraga cavalga em muito tempo, a primeira oportunidade de se movimentar em relativa liberdade pela colônia. Ele seguiu por algum tempo emparelhado com Jamie e depois se adiantou. Muito em breve os dois galopavam na maior felicidade. E logo se descobriram sozinhos, os outros tendo se desviado para a pista de corrida. Diminuíram o ritmo, desfrutando o dia.

Podiam divisar à frente a sinuosa Tokaidô, interrompida aqui e ali por rios na cheia, os carregadores nos dois lados esperando pelas barcas que transportariam as mercadorias e pessoas sobre as águas. Hodogaya ficava para o sul. Suas barreiras estavam abertas. Nos bons tempos antigos, antes dos assassinatos durante a primavera e outono, os mercadores visitavam a aldeia em busca de saquê e cerveja, levando cestos de piquenique, rindo e flertando com as levas de criadas que procuravam atraí-los para seus bares e restaurantes. Não eram bem-vindos nos muitos bordéis.

— Ei, Nakama, onde vai se encontrar com seu primo? — perguntou Jamie. Ele parou o cavalo nos arredores da aldeia, não muito longe da barreira, mais do que consciente da hostilidade dos viajantes. Mas não se sentia preocupado. Estava armado, ostensivamente, com um revólver num coldre no ombro... e Hiraga não levava nenhuma arma ou, pelo menos, ele assim pensava.

— Eu procurar ele. Melhor ir sozinho outro lado barreira, Jami-sama. Hiraga experimentara intensa alegria ao receber a mensagem de Katsumata, ao mesmo tempo em que sentia profundas apreensões, pois era perigoso deixar a proteção de Sir William e Tyrer. Mas precisava descobrir notícias sobre Sumomo e os outros, saber o que acontecera de fato em Quioto e qual era o novo plano dos shishi. Todos os dias, o shoya sacudia a cabeça:

— Sinto muito, Otami-sama, ainda não tenho notícias sobre Katsumata ou Takeda... nem sobre a moça Sumomo ou Koiko. Lorde Yoshi permanece no castelo de Iedo. No momento em que eu souber de alguma coisa...

Ainda com o rosto encoberto, Hiraga gesticulou para que Jamie seguisse na frente.