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— Por favor. Depois eu descobrir bom lugar você esperar.

Os guardas na barreira observaram-nos desconfiados, fizeram uma reverência ligeira, aceitaram suas saudações. Hiraga estremeceu, vendo um cartaz muito parecido com ele afixado numa parede. Jamie não notou e Hiraga duvidava que ele — ou os outros — pudesse reconhecê-lo, com o bigode e o corte de cabelo europeu.

Hiraga parou na primeira estalagem. Usando um japonês precário e imitando a rispidez de outros mercadores, Hiraga foi se instalar a uma mesa no jardim, pediu chá, saquê e cerveja, alguns alimentos japoneses, dizendo à criada para providenciar que não o incomodassem, o que lhe valeria uma boa gorjeta. A criada manteve os olhos abaixados, mas Hiraga tinha certeza de que ela vira seus olhos, e sabia que se tratava de um japonês.

— Jami-sama, eu voltar poucos minutos — disse Hiraga.

— Não se demore muito, meu velho.

— Sim, Jami-sama.

Hiraga saiu para a estrada, encaminhou-se para o outro lado da barreira. Sentiu-se irritado com os maus modos e a hostilidade geral, uns poucos samurais beligerantes e alguns viajantes forçando-o a se desviar, o que ele fizera. Ao mesmo tempo, sentia-se satisfeito porque todos o tomavam por gai-jin e seu escrutínio de cada restaurante e bar como grosseira curiosidade gai-jin. A mensagem cifrada de Katsumata dizia: “Venha a Hodogaya, em qualquer manhã dos próximos três dias. Eu o encontrarei.”

Sentindo que atraía muita atenção, como de fato ocorria, ele passou por pessoas flanando, sentadas em bancos ou às mesas, inclinadas sobre braseiros, que sempre lhe lançavam olhares irados e insolentes. De repente, ouviu o assobio baixo, o sinal combinado. Era muito bem treinado para reconhecê-lo e experiente demais para não se virar. Parecia vir do lado esquerdo. Com cansaço simulado, ele escolheu um banco afastado da rua, no restaurante mais próximo, e pediu uma cerveja. A criada trouxe no mesmo instante. Nas proximidades, os camponeses que comiam tijelas matutinas de papa de arroz, junto com saquê quente, trataram de se afastar, como se ele fosse portador da praga.

— Não se vire ainda — murmurou Katsumata. — Não o reconheci. Seu disfarce é perfeito.

— O seu também deve ser, sensei — respondeu Hiraga, baixinho, mal mexendo os lábios. — Por duas vezes esquadrinhei este lugar com toda atenção.

A risada, bem conhecida e admirada.

— Largue alguma coisa no chão e, ao pegá-la, olhe ao redor por um instante. Hiraga obedeceu e por um instante viu o único homem ao alcance de sua voz, um ronin de aparência desvairada, barbudo, olhar venenoso, com uma cabeleira imunda, fitando-o com um olhar irado. Ele tornou a virar as costas e murmurou:

— Puxa, sensei!

— Não mais “sensei”. Há pouco tempo, Hodogaya pulula de vigilantes e espiões. Onde podemos nos encontrar em segurança?

— Na nossa Yoshiwara... casa das Três Carpas.

— Estarei lá em dois ou três dias... é vital criar um incidente com os gai-jin, depressa. Pense a respeito.

— Que tipo de incidente?

— Bem grave.

— Está bem. Fiquei aliviado ao receber sua mensagem... não sabíamos que viria para cá. Houve rumores incríveis sobre lutas em Quioto... Akimoto se encontra comigo, mas estamos sozinhos, e perdemos muitos shishi em nossos ataques em Iedo. Há muito que contar sobre Iedo e os gai-jin. Em poucas palavras, O que aconteceu em Quioto? Sumomo, como ela está?

— Quioto foi ruim. Antes de partir, entreguei Sumomo a Koiko, que voltava para cá, com Yoshi, a fim de espioná-lo, e descobrir quem nos traía... deve ser um dos nossos homens... uma oportunidade boa demais para perder e também para tirá-la de Quioto sã e salva. — Os olhos de Katsumata não cessavam de inspecionar os outros homens, embora não estivessem próximos, e evitassem olhar em sua direção. — Desfechamos dois ataques contra Yoshi, ambos fracassaram, nossa casa segura foi traída, Ogama e Yoshi, operando juntos, nos emboscaram. E nós...

— Puxa! — murmurou Hiraga, bastante preocupado. — Eles se tornaram aliados?

— Por enquanto. Perdemos muitos líderes e homens, darei os detalhes mais tarde, mas nós, Sumomo, Takeda, eu e alguns outros conseguimos escapar. Estou contente por vê-lo, Hiraga. Vou embora agora.

— Espere. Ordenei que Sumomo voltasse para Choshu.

— Ela me trouxe informações valiosas sobre a situação aqui e sobre Shorin e Ori. Sugeri que continuasse até Choshu, mas ela quis ficar, pensando que poderia ajudá-lo. Como está Ori?

— Morto. — Ele ouviu Katsumata praguejar, Ori fora o seu discípulo predileto. — Os gai-jin o fuzilaram quando tentava arrombar uma de suas casas.

Hiraga falava depressa, seu nervosismo aumentando.

— Há um rumor aqui de que houve um ataque shishi a Yoshi em Hamamatsu, que Koiko morreu na confusão e mais uma pessoa. Quem era?

— Sinto muito, mas foi Sumomo. — A cor se esvaiu do rosto de Hiraga, enquanto Katsumata acrescentava: — Koiko traiu-a, a prostituta denunciou-a a Yoshi e com isso traiu a sonno-joi e a nós. Mas ela morreu com o shuriken de Sumomo em seu peito.

— Como Sumomo morreu?

— Como uma shishi. Será lembrada para sempre. Lutou com Yoshi, usando o shuriken e a espada longa, quase o matou. Era essa a sua missão... se fosse traída.

Portanto, Sumomo tinha uma missão, pensou Hiraga, com súbita percepção, todo o seu ser um vulcão — você esperava que ela fosse traída e ainda assim a enviou para o perigo. Havia um aperto em sua garganta. Ele forçou-se a fazer a pergunta essenciaclass="underline"

— Como eles a sepultaram? Foi com honra?

Se Toranaga Yoshi não a tivesse honrado depois da luta e morte com bravura, então ele o caçaria, com a exclusão de todo o resto, até que um dos dois morresse. Hiraga era o líder dos shishi de Choshu, o contingente mais forte. Sumomo, embora de Satsuma, declarara sua fidelidade a ele e a Choshu.

— Por favor, tenho de saber, foi com honra?

Ainda não houve resposta. Hiraga olhou ao redor. Katsumata desaparecera O choque de Hiraga foi ostensivo. Os outros fregueses o fitavam em silêncio. Um grupo de samurais observava-o de um canto. Os cabelos de sua nuca se arrepiaram. Ele jogou algumas moedas na mesa, a mão na pistola escondida, e voltou pelo caminho por que viera.

Naquela tarde, havia um ar de premonição por todo o castelo de Iedo. Yoshi seguia apressado o doutor chinês por um corredor, acompanhado por Abeh e quatro guardas samurais. O doutor, alto e muito magro, usava uma túnica comprida, os belos grisalhos presos num rabicho. Subiram uma escada, avançaram por outro nedor, até que o doutor parou. Guardas hostis postavam-se à frente, as mãos em suas espadas, todos fitando Yoshi e seus homens.

— Sinto muito, lorde Yoshi — disse o oficial —, mas as ordens do tairo são para não deixar ninguém passar.