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— Tem de haver alguma.

— Não faço a menor idéia. Mas qualquer que seja, mon brave, será excepcional. É espantoso que ele tenha se colocado sob o nosso poder. Nunca pensei que viria com tão poucos homens. Será que não compreendeu que poderíamos tomá-lo como refém contra a atitude de Sanjiro?

— Concordo. Meu Deus, que grande passo à frente! É incrível que ele tenha ido direto ao ponto tão depressa, sem ficar peidando coisas irrelevantes. Nunca pensei que veria esse dia. Mas por quê? Alguma coisa cheira mal.

— Tem razão. Merde, é uma pena que ele não seja o tairo, não é?

Ah, foi o que pensei, meu velho, muito antes de você, disse Sir William a si mesmo. Um pequeno empurrão aqui, um puxão ali, e poderemos, como na índia, jogar uns contra os outros!

Ele se desabotoara e agora, olhando para o fluxo, os ouvidos fechados ao prognóstico adicional de Seratard, organizou seus pensamentos, considerando o que poderia negociar, até que ponto ir, e como levar Ketterer a concordar, sem a aprovação do almirantado ou do Ministério do Exterior. Ora, ele que se dane!

E que se dane Palmerston. Pedi aprovação urgente para impor a lei civilizada; por que ele não respondeu? Provavelmente já respondeu, refletiu Sir William. A mensagem cifrada de Londres seguiu pelo telégrafo até Basra e, agora, se encontra em algum lugar, num navio de correspondência, na mala diplomática. O fluxo cessou. Ele se sacudiu, como sempre, recordando a advertência que recebera como colegial, em Eton:

— Se sacudir mais de três vezes, estará se masturbando.

Apressado, deu um passo para o lado, abrindo espaço a Seratard, abotoando-se. Notou que Seratard era como um cavalo pequeno, em quantidade e potência. Interessante. Deve ser o vinho, pensou ele, voltando à sala de audiência.

O resto da reunião transcorreu na maior jovialidade. Com habilidade e cautela diplomática, contando com a competente ajuda de Seratard, Sir William estabeleceu, de forma indireta, que “se uma força por acaso encetasse alguma ação contra alguém, como Sanjiro, por exemplo, contra sua capital, por exemplo, seria uma ocorrência bastante lamentável, muito embora tal ação pudesse ser merecida, por causa de algum ato de assassinato inaceitável cometido contra cidadãos estrangeiros. Esse ato precipitaria um fluxo de protestos de Iedo, e mereceria um pedido de desculpas formal, se tal ação inconcebível fosse realizada...”

Absolutamente nada foi dito de forma direta, nada que insinuasse que a permissão fora concedida ou solicitada, Não haveria nada por escrito. Esse possível ato hostil, um “caso especial”, só poderia ser contido se o protocolo fosse seguido de modo rigoroso.

A esta altura, Tyrer e André sentiam uma dor de cabeça intensa e por dentro criticavam seus superiores pela quase impossibilidade de traduzir com a forma indireta necessária.

Yoshi mantinha um silêncio extasiado. Sanjiro podia se considerar um homem morto; a primeira barreira fora removida sem qualquer custo.

— Creio que nos compreendemos, e podemos passar para outros assuntos.

— Claro, claro...

Sir William recostou-se, preparando-se para a compensação. Yoshi respirou fundo, e iniciou a ofensiva seguinte:

— Traduzam o seguinte, frase por frase. Expliquem que será pela precisão. Digam também que, por enquanto, esta conversa deve ser considerada um segredo de Estado entre nós. — Vendo o olhar vazio de Tyrer, ele acrescentou: — Compreende segredo de Estado?

Depois de consultar André, Tyrer disse:

— Compreendo, senhor.

— Ótimo. Pois então traduza: estamos de acordo que será um segredo de Estado entre nós?

Sir William pensou: perdido por um, perdido por mil.

— Concordamos.

Seratard também concordou. Tyrer enxugou a testa.

— Pronto, Sire.

Com um controle cada vez mais firme, Yoshi declarou:

— É meu desejo modernizar o xogunato e o Bakufu. Para fazer isso, preciso de conhecimento. Traduzam. A terra dos ing’erish e a terra dos furansu são as acões mais poderosas do mundo exterior. Traduzam. Peço para prepararem diversos planos para ajudar o xogunato a formar uma moderna marinha, com um estaleiro e um moderno exército. Traduzam.

O almirante Ketterer empertigou-se, seu pescoço latejando, como se estivesse pegando fogo.

— Fique quieto — murmurou Sir William, pelo canto da boca. — E não diga nada!

— Também queremos um sistema bancário moderno e fábricas experimentais. Um país sozinho não pode fazer tudo. Vocês são ricos, o xogunato é pobre. Quando os planos forem aceitos, concordarei com um preço justo. Será pago em carvão, prata, ouro e arrendamentos anuais de portos seguros. Eu gostaria de uma resposta provisória em trinta dias, se for do interesse de vocês. No caso de um sim, um ano seria tempo suficiente para que planos detalhados fossem aprovados por seus soberanos?

Era difícil para Yoshi manter o controle externo, e ele especulou o que diriam se soubessem que não tinha autoridade para apresentar essa proposta, nem qualquer meio de implementá-la. A oferta era para persuadi-los a um ano de trégua de qualquer conflito exterior, um prazo de que ele precisava para suprimir a oposição interna ao xogunato, e lidar com seus principais inimigos, Ogama de Choshu e Yodo de Tosa, agora que Sanjiro seria removido.

Ao mesmo tempo, era um salto para o futuro, para o desconhecido, que o assustava e deixava exultante, de uma maneira que não podia compreender. Todas as idéias baseavam-se nas informações que o espião de Inejin obtivera do shoya Ryoshi, que de nada desconfiava, sobre os métodos dos gai-jin, e confirmadas pelo que vira e ouvira no navio de guerra, que era impressionante, mas nem de longe tão grande e mortífero quanto a nave capitânia dos ing’erish.

Odiando a realidade, mas aceitando-a, ele compreendera que a terra dos deuses, por autodefesa, tinha de se tornar moderna. Para isso, precisava negociar com os gai-jin. Abominava-os e desprezava-os, desconfiava deles, mas os gai-jin contavam com meios para destruir o Nipão, no mínimo para lançá-los de volta às guerras civis que haviam se prolongado por séculos, antes que o xógum Toranaga contivesse o bushido, o espírito guerreiro dos samurais.

Ele observou os dois líderes conversarem entre si. E depois viu o líder ing’erish falar para o jovem intérprete, Taira, que disse, em seu japonês exótico, mas compreensíveclass="underline"

— Meu superior agradece, Sire, pela... por confiança. Precisar cento e vinte dias enviar mensagem “Parlamento rainha” e “rei furansu”... e resposta voltar, Ambos líderes ter certeza resposta é sim.

Cento e vinte dias era melhor do que ele esperava.

— Está bem — disse Yoshi, com uma expressão solene, mas tonto de alívio por dentro.

Agora, a melhor parte do plano, pensou ele, vendo-os se prepararem para encerrar a reunião. Um olho por um olho, uma morte por uma morte.