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Edward! Esta noite ou amanhã, Edward me contará tudo! E o Sr. Skye é esperto, ele saberá, oh, Deus, espero que saiba!

Angelique levantou os olhos e deparou com Hoag a observá-la.

— Oh, desculpe, eu tinha esquecido... — Atordoada, ela torceu o pano de uma manga, batendo com o pé no chão, inquieta. — Não queria um drinque? Posso chamar Ah Soh e... desculpe... parece que não consigo...

Era difícil organizar as palavras e Hoag percebeu a mudança, especulou se seria o princípio do colapso que previra. Os sinais existiam, as mãos se agitando sem serem notadas, o rosto pálido, os olhos arregalados, as pupilas alteradas.

— O que ela disse? — indagou Hoag, afável.

— Ahn... nada... exceto para esperar até...

As palavras definharam, o olhar de Angelique perdeu-se na distância.

— Até? — insistiu ele, a fim de trazê-la de volta, escondendo sua preocupação.

Mas ela se deixara arrebatar pelo que lera. Portanto, as linhas da batalha haviam sido traçadas. Angelique sabia o pior ou o melhor. Sua inimiga fizera o primeiro movimento, anunciara sua posição. Agora, ela podia ingressar na batalha. Em seus próprios termos. A náusea se desvaneceu. Em seu lugar, surgiu o fogo. O pensamento de que ELA expusera o torpe e o possível com tanta frieza a deixava ardendo de raiva... nada por ela, nenhuma preocupação, nenhuma concessão por todo o amor, agonia e dor pela morte de Malcolm. Absolutamente nada. E o pior de tudo, ilegítima, quando haviam casado dentro das leis britânicas... Tenho certeza!

Sem medo, pensou ela, isso está gravado em minha memória, em aço derretido. Angelique tornou a fitar Hoag, tremendo.

— Ela disse que quer esperar... esperar até que nós, você e eu, saibamos se estou ou não esperando uma criança de Malcolm. Quer ter certeza, é isso o que ela deseja.

— E depois?

— Ela não diz. Quer esperar e quer que eu espere também. Há uma vaga... acho que ela diz que talvez possa haver paz, uma solu...

O tremor parou quando uma decisão se definiu e a voz se tornou sibilante, impregnada de veneno:

— Espero que haja paz, porque... porque sou a viúva de Malcolm Struan e ninguém, nenhum tribunal, nem mesmo Tess Desgraçada Struan pode me tirar isso!

Hoag disfarçou seu nervosismo e disse, cauteloso:

— Todos achamos que é mesmo. Mas precisa manter a calma, não se preocupar. Se tiver um colapso, ela vence, você perde, qualquer que seja a verdade não há necessidade...

A porta foi aberta. Ah Soh entrou.

Miss tai-tai?

— Ah! — explodiu Angelique. — Por que não bateu?

Ah Soh firmou bem os pés no chão, secretamente satisfeita porque a demônia estrangeira perdera o controle.

— Mensagem, querer ouvir, hem? Mensagem, miss tai-tai?

— Que mensagem?

Ah Soh adiantou-se, arrastando os pés, entregou o envelope pequeno, fungou se retirou. A letra de Gornt. Angelique desceu da montanha de sua fúria.

Havia um cartão lá dentro, com E.G. gravado. A mensagem dizia: “Meus calorosos cumprimentos. A visita a Hong Kong foi bastante intrigante. Podemos nos encontrar amanhã de manhã? Seu mais obediente servidor, Edward Gornt.”

Abruptamente, Angelique sentiu-se íntegra de novo. Forte, transbordando de determinação, esperança e espírito de luta.

— Tem toda razão, doutor, mas não terei um colapso, juro que não terei, não por Malcolm, não por mim, não por você, Jamie e o Sr. Skye. É um amigo muito querido e já me sinto bem agora. Não há mais necessidade de falar sobre aquela mulher.

Ela sorriu, e Hoag compreendeu que o sorriso era ao mesmo tempo bom e mau... mais sinais de perigo.

— Vamos esperar e ver o que o futuro nos reserva. E não precisa se preocupar. Se eu não me sentir bem, pode ter certeza de que o chamarei imediatamente. — Angelique levantou-se, foi beijar o médico nas faces. — Obrigada mais uma vez, meu amigo querido. Vai ao jantar do conde Zergeyev?

— Talvez. Ainda não decidi. Estou um pouco cansado.

Hoag saiu, ocultando seu presságio. Ela tornou a ler o cartão. Edward se mostrava circunspecto, outro bom sinal, pensou. Se o cartão fosse interceptado ou lido, nada deixaria transparecer. “Intrigante” era uma boa palavra para se escolher, e “servidor obediente” também. Como as palavras daquela mulher, que apodreça no inferno.

O que fazer?

Vestir-se para jantar. Mobilizar seus aliados. Prendê-los a você. Pôr em prática os planos que concebeu. E transformar Iocoama no seu bastião inexpugnável contra aquela mulher.

Ignore os soldados gai-jin tentando encontrá-lo, Hiraga, e esqueça Akimoto disse Katsumata, contrariado com o inesperado contratempo em seu plano. — Três são suficientes. Atacaremos amanhã, incendiaremos a igreja e afundaremos o navio. Takeda, você cuida da igreja.

— Com o maior prazer, sensei, mas por que não aproveitar o plano de Ori e queimar toda Iocoama? Hiraga tem razão, vamos esquecer o navio. Sinto muito, mas ele está certo nesse ponto — disse Takeda, inclinando-se para o lado dele, pois Hiraga era o líder dos shishi de Choshu e sensato ao levar em consideração a retirada. — Seria muito difícil chegar perto de um navio sem sermos observados com este mar, com este vento. Por que não usar o plano de Ori, em vez disso, e incendiar todo o ninho de gai-jin?

— O plano de Ori exige tempo e um vento sul — acrescentou Hiraga. — Mas concordo que é um plano melhor. Devemos esperar.

— Não! — exclamou Katsumata, ríspido, agressivo. — Com coragem, podemos fazer as duas coisas, com coragem! Podemos fazer! As duas coisas! Com a coragem dos shishi!

Hiraga ainda se sentia abalado com os soldados imprevistos, a mente continuava lerda. O fato de acreditar que matara o homem na terra de ninguém não incomodava nem um pouco; avistara-o no chão, imóvel, quando se encaminhara mais tarde para o poço, por onde descera, avançando às cegas pelo túnel estreito, a área enregelante.

— Impossível com apenas três — disse ele —, e amanhã de noite é cedo demais, qualquer que seja a nossa decisão. Se o plano for incendiar a colônia precisamos de três dias para espalhar os inflamáveis e os pavios. Aconselho contra a precipitação.

Ele se envolvera com uma manta, nu por baixo, à exceção de uma tanga enquanto as criadas secavam suas roupas, encharcadas da passagem pelo túnel. Fazia frio no pequeno bangalô, o vento zunia em torno das shojis e ele tinha de recorrer a toda a sua força de vontade para não estremecer abertamente. A concentração era difícil. Ainda não podia entender por que os soldados o procuravam. No momento em que chegara, Katsumata, irado, pedira a Raiko que enviasse espiões à colônia, a fim de descobrir o que acontecera, e os três poderem fazer planos para escapar da casa das Três Carpas, caso os soldados entrassem na Yoshiwara.