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Gornt fez uma pausa.

— Ela se levantou de um pulo e gritou, a voz estridente: “Casou meu filho com aquela mulher?” Strongbow quase morreu e contou toda a história, tão depressa quanto podia, sobre a Pearl, o duelo, eu salvando a vida de Jamie, matando Norbert, como encontrou Malcolm, como você ficou em estado de choque, tudo o que ele sabia. O suor escorria por todo o seu corpo, Angelique. Devo admitir que eu também suava... Depois do primeiro grito, Tess se manteve impassível, só com os olhos em fogo, como uma Medusa. E depois Strongbow lhe entregou algumas cartas, vi que uma era de Sir William, balbuciou que lamentava muito, mas era seu dever contar a ela, e se retirou, trôpego.

Tirando um lenço do bolso, Gornt enxugou a testa. Angelique sentia-se fraca, tonta com a força de sua inimiga... se Tess podia fazer Gornt suar assim, o que não seria capaz de fazer com ela?

— Ela simplesmente ficou imóvel por um momento, depois seus olhos se viraram para mim. É incrível como uma mulher pode parecer tão... tão alta. E dura. Dura num momento, suave no seguinte, mas nunca baixando a guarda. Tive de forçar meus pés a não recuarem e olhei ao redor, fingindo ter medo de que alguém pudesse ouvir, e me apressei em dizer que também lamentava muito, Malcolm era de fato meu amigo, que você também era minha amiga, e era por sua causa que eu levava as informações que destruiriam Tyler e Morgan Brock. No instante em que falei em destruir Tyler, a loucura a deixou, ou pelo menos o fogo assustado em seus olhos se extinguiu. Ela sentou, ainda sem desviar os olhos de mim, também sentei. Só depois de um longo momento é que Tess indagou: “Quê informações?” Eu disse que voltaria no dia seguinte, mas ela insistiu, com uma voz que parecia uma faca afiada: Que informações? Relatei apenas o essencial... Desculpe, Angelique, mas posso tomar um drinque? Não champanhe, mas uísque ou bourbon, se tiver.

Ela foi até o aparador, serviu uísque para Gornt, água para si mesma, enquanto ele continuava:

— No dia seguinte, levei todos os documentos e deixei com Tess. Ela...

— Espere. Ela se mostrava igual ao dia anterior?

— Sim e não. Obrigado, saúde, e uma vida longa e feliz. — Gornt tomou um gole grande, engasgou, quando o uísque prendeu na garganta. — Obrigado. Quando acabei de falar tudo, ela me fitou, e pensei que havia fracassado. É uma mulher terrível, eu não gostaria de ser seu inimigo.

— Mas eu sou? Mon Dieu, Edward, diga-me a verdade!

— É, sim, mas isso não importa, no momento. Deixe-me continuar. Eu...

— Entregou minha carta a ela?

— Ah, sim, esqueci de mencionar isso. Entreguei a carta no primeiro dia, antes de sair, como havíamos combinado, ressaltando de novo que era tudo idéia sua, que o meu acordo era com Malcolm, o tai-pan, e ele estava morto, eu considerara o negócio encerrado, pretendia voltar a Xangai, a fim de esperar por um novo tai-pan. Mas você me procurara, suplicara para que eu a procurasse, alegando que devia isso a meu amigo Malcolm, que ele mencionara minha proposta a você em segredo... sem dar os detalhes... e você tinha certeza de que seria o desejo dele que as informações fossem transmitidas à sua mãe, o mais depressa possível, e que isso deveria ser feito com urgência. A princípio, eu não queria, mas você insistira, e acabara me persuadindo. Por isso, ali estava eu, por sua causa, e você também me pedira para trazer uma carta. E entreguei-a.

— Ela leu na sua frente?

— Não. Isso foi no primeiro dia. No dia seguinte, em nosso encontro ao amanhecer, depois que lhe passei parte das informações, ela fez muitas perguntas, inteligentes, e me disse para voltar depois do pôr-do-sol, outra vez pela porta lateral. Assim fiz. Ela foi logo me dizendo que o dossiê era incompleto. Eu lhe disse que sim, sem dúvida, não havia sentido em mostrar tudo, enquanto eu não soubesse até que ponto ela estava empenhada... se tinha mesmo interesse, como Malcolm, em arruinar os Brocks? Ela respondeu que sim, e perguntou por que eu estava atrás deles, qual era o meu interesse.

Gornt fez outra pausa.

— E eu contei, sem rodeios. Toda a história de Morgan, a verdade. Era Morgan quem eu queria arruinar, se o pai caísse também, tudo bem por mim. Não mencionei que isso a tornava minha tia, nem uma única vez, em qualquer dos encontros, e ela também não disse nada a respeito. Nunca. Também não mencionou a carta que você mandou. Nem uma única vez. Ela se limitou a fazer perguntas. Depois das revelações sobre Morgan, esperava que ela dissesse alguma coisa, como lamentava a situação, ou que era típico de Morgan... afinal, ele é seu irmão. Mas nada. Ela não disse nenhuma palavra, pediu detalhes sobre o meu acordo com Malcolm, e lhe entreguei o contrato. — Ele terminou o drinque. — Seu contrato.

— Seu contrato — disse Angelique, nervosa. — Deve odiá-la muito, Edward.

— Está enganada, não a odeio. Acho que compreendia que ela vivia com os nervos à flor da pele. A morte de Malcolm a abalou, por mais que tentasse esconder e se colocasse acima. Tenho certeza. Malcolm era o futuro da Casa Nobre, agora ela enfrenta o caos... seu único raio de esperança era eu e meu plano, que mal chega a ser legal, diga-se de passagem, até mesmo em Hong Kong, onde as leis são flexíveis como em nenhum outro lugar. Posso?

Gornt levantou seu copo.

— Claro — murmurou Angelique, especulando sobre ele.

— Ela leu o contrato com todo cuidado, depois se levantou, contemplou a enseada de Hong Kong lá embaixo, parecendo frágil por um lado, mas feita de aço por outro. “Quando terei o resto dos documentos?”, perguntou ela. Eu disse que agora, se concordasse com o acordo. “Negócio fechado”, declarou ela. Tornou a sentar, assinou o contrato, aplicou o sinete, na presença da secretária, como testemunha, e depois mandou que o guardasse no cofre, e se retirasse. Ela...

— Ela nunca mencionou minha assinatura como testemunha.

— Não, embora eu tenha certeza de que foi a primeira coisa que notou, como você previu. Continuando... fiquei com ela por umas quatro horas, orientando-a pelo labirinto de documentos e cópias de documentos, não que Tess precisasse de muita orientação. Depois, ela juntou tudo numa pilha impecável, e me interrogou sobre o atentado na Tokaidô, Malcolm, você, McFay, Tyrer, Sir William, Norbert, o que Morgan e Tyler haviam me dito em Xangai, minhas opiniões a seu respeito, sobre Malcolm, ele se empenhou em conquistá-la, ou foi o contrário, não fazendo qualquer comentário, perguntas e mais perguntas... esquivando-se às minhas... sua mente tão aguçada quanto a espada de um samurai. Mas juro por Deus, Angelique, que cada vez que aflorava o nome de Morgan ou do Velho Brock, cada vez que eu mencionava outra manobra que os documentos permitiam, ou sugeria outra farpa para abalar o império deles, Tess quase salivava.