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— Sire?

— Entre — disse ele, reconhecendo Abeh.

Abeh entrou, deixando os outros lá fora. Os guardas relaxaram. Abeh era acompanhado por uma das criadas, uma mulher jovial, de meia-idade, carregando uma bandeja, com chá fresco. Ambos se ajoelharam, fizeram uma reverência.

— Ponha a bandeja na mesa — ordenou Yoshi.

A criada obedeceu, sorrindo. Abeh continuou ajoelhado, perto da porta. Eram as novas ordens: ninguém podia se aproximar a menos de dois metros sem permissão.

— Do que estava rindo?

Para surpresa de Yoshi, ela disse, efusiva:

— Do gigante gai-jin, Sire. Eu o vi no pátio, pensei que era um kami — dois na verdade, Sire, o outro de cabelos amarelos e olhos azuis de um gato siamês. E tive de rir, Sire. Imagine só, olhos azuis! O chá é desta estação, como ordenou. Gostaria de alguma coisa para comer, por favor?

— Mais tarde. — Yoshi dispensou-a, sentindo-se mais calmo agora, a natuza jovial da mulher contagiosa. — Abeh, eles se encontram no pátio? O que aconteceu?

— Por favor, Sire, perdoe-me, mas não sei — respondeu Abeh, ainda furioso porque Anjo ordenara a retirada de todos no dia anterior. — O capitão da guarda do tairo me procurou há um momento e ordenou... ordenou a mim... que os conduzisse de volta a Kanagawa. O que devo fazer, Sire? Vai querer falar com eles antes, tenho certeza.

— Onde está o tairo Anjo agora?

— Só sei que os dois gai-jin devem ser levados de volta a Kanagawa, Sire. Perguntei ao capitão como fora o exame e ele retrucou, insolente, “que exame?”, afastando-se em seguida.

— Traga os gai-jin aqui.

Pouco depois, soaram passos pesados no corredor, passos estranhos. Uma batida na porta.

— Os gai-jin, Sire.

Abeh deu um passo para o lado, gesticulou para que Babcott e Tyrer se adiantassem, ajoelhassem, e fizessem uma reverência. Só que eles fizeram a reverência de pé, ambos com a barba por fazer, visivelmente exaustos. No mesmo instante, um dos guardas, enfurecido, deu um empurrão em Tyrer, que se estatelou no chão. O outro guarda tentou fazer a mesma coisa com Babcott, mas o doutor, com uma rapidez surpreendente para alguém tão grande, agarrou-o pela roupa, perto da garganta, só com uma das mãos, e suspendeu-o, empurrando-o de costas para a parede de pedra. Por um segundo, ele manteve o homem inconsciente ali, depois arriou-o até o chão, com todo cuidado. No silêncio chocado, Babcott disse, descontraído:

Gomen nasai, Yoshi-sama, mas esses idiotas não deveriam empurrar os visitantes. Phillip, traduza isso, por favor, e diga que não o matei, mas o patife mal-educado ficará com uma tremenda dor de cabeça por uma semana.

Os outros samurais saíram de seu transe, estenderam as mãos para as espadas.

— Parem! — ordenou Yoshi, furioso com os gai-jin e furioso com os guardas. Todos ficaram imóveis. Atordoado, Phillip levantou-se, ignorou o guarda inerte, e disse, em seu japonês exótico e hesitante:

— Por favor, desculpar, Yoshi-sama, mas doutor-sama e eu fazer reverência, O costume estrangeiro. Polido, sim? Não má intenção. Doutor-sama diz por favor, desculpe, homem não morto, apenas... — Ele procurou a palavra correta, não a encontrou, apontou para sua cabeça. — Dor, uma semana, duas. Yoshi riu. A tensão se dissipou.

— Levem-no. Quando ele acordar, tragam-no de volta.

Ele acenou para que os outros voltassem a seus lugares, gesticulou para que os ingleses sentassem à sua frente. Depois que eles se acomodaram, meio desajeitados, Yoshi perguntou:

— Como está o tairo? Como foi o exame?

Babcott e Phillip responderam com gestos e palavras simples, que haviam combinado de antemão, explicando que o exame correra bem, o tairo tinha uma hérnia — uma ruptura —, que Babcott poderia ajudar a aliviar a dor com um funda e um medicamento, que teria de ser feito e trazido da colônia, e que o tairo concordara em que ele voltasse uma semana depois, para ajustar a funda, e trazer os resultados dos testes. Enquanto isso, o tairo recebera um medicamento que acabaria com quase toda a dor e o ajudaria a dormir. Yoshi franziu o rosto.

— Essa “hérnia” é permanente?

— Doutor-sama diz que...

— Sei que o doutor fala por seu intermédio, Taira — disse Yoshi, ríspido insatisfeito com o que acabara de ouvir. — Apenas traduza suas palavras, sem títulos cerimoniais!

— Sim, Sire. Ele dizer dano ser permanente. Tairo Anjo precisar... precisar sempre medicamento para dor, sinto muito, todo dia, e também usar todo dia essa “funda”. — Tyrer usou a palavra inglesa e com as mãos explicou a cinta e o ponto de pressão. — Doutor acha tairo-san ter se cuidar. Não poder... não pode lutar espada.

Yoshi amarrou a cara, pois os resultados não eram muito animadores.

— Quanto tempo... — Ele parou, acenou para que os guardas saíssem. — Esperem lá fora.

Abeh ficou.

— Você também.

Relutante, o capitão saiu, fechou a porta. Yoshi disse:

— A verdade. Quanto tempo ele viverá?

— Só Deus sabe.

— Ah, deuses! Quanto tempo doutor acha que tairo viverá?

Babcott hesitou. Esperava que o tairo lhe ordenasse que nada dissesse a Yoshi, mas depois que falara da hérnia e medicamento, dera um pouco de sua tintura de láudano, que aliviara a dor quase que no mesmo instante, o tairo rira e o encorajara a relatar a “boa notícia”. Mas a hérnia era apenas parte do problema.

Seu diagnóstico completo, que não revelara a Anjo, nem a Phillip Tyrer, querendo reservar o julgamento até efetuar uma análise das amostras de urina e fezes, consultar Sir William e fazer um segundo exame, era o de que receava que podia haver uma perigosa deterioração dos intestinos, de causas desconhecidas.

O exame físico só levara cerca de uma hora, a sondagem verbal se prolongara por várias horas. Aos quarenta e seis anos, Anjo se encontrava em péssimas condições. Dentes podres, que com certeza provocariam uma septicemia, mais cedo ou mais tarde. Reações negativas à pressão no estômago e outros órgãos, óbvias constrições interiores, próstata muito inchada.

O maior problema do diagnóstico era decorrente da falta de fluência sua e de Phillip, pois o homem se mostrara impaciente, ainda não confiava nele e não queria falar sobre os sintomas. Fora preciso um interrogatório diligente para que ele pudesse determinar as prováveis dificuldades experimentadas pelo paciente nos movimentos intestinais, passagem da urina e incapacidade de manter ereções — o que parecia preocupá-lo acima de qualquer outra coisa — embora Anjo tivesse dado de ombros e não admitisse expressamente nenhum desses sintomas.