— Phillip, diga a lorde Yoshi que acho que o tairo viverá mais ou menos a média para um homem em sua condição, com a mesma idade.
A dor de cabeça de Tyrer voltara, agravada por sua ansiedade em realizar um bom trabalho.
— Ele viver mais ou menos mesma coisa um homem mesma idade. Yoshi pensou a respeito, compreendendo as dificuldades de sondar questões delicadas numa língua estrangeira, com uma interpretação inadequada. Por isso, devia manter as perguntas bem simples.
— Pergunte: dois anos, três anos, um ano? Ele observava Babcott atentamente, não Tyrer.
— Difícil dizer, lorde. Em uma semana talvez saber melhor.
— Mas agora? A verdade. Um, dois ou três, o que acha?
Babcott compreendera, antes de deixar Kanagawa, que sua função ali não era apenas como médico. Sir William dissera:
— Falando francamente, meu caro, se o paciente for mesmo Anjo, você também é um importante representante do governo de sua majestade, meu, da colônia, e ainda um espião... portanto, George, por favor, não desperdice essa oportunidade de ouro...
Por si mesmo, ele era primeiro e acima de tudo um médico. Com o sigilo médico-paciente. Não restava a menor dúvida de que Yoshi era inimigo do paciente, um poderoso inimigo, mas também, em potencial, um poderoso amigo do governo de sua majestade. Pondo os dois na balança, Yoshi era mais importante, a longo prazo. Anjo emitira o ultimato para evacuar Iocoama, era o chefe do Bakufu, e com toda certeza morreria antes de Yoshi, a menos que o segundo tivesse um fim violento. Se forçado, o que você responderia?, ele perguntou a si mesmo. Dentro de um ano. Em vez disso, porém, respondeu:
— Um, dois ou três, Yoshi-sama? Verdade, sinto muito, não saber agora.
— Poderia ser mais?
— Sinto muito, não possível dizer agora.
— Poderá dizer na próxima semana?
— Talvez poder dizer próxima semana não mais três anos.
— Talvez saiba mais do que diz, agora ou na próxima semana.
Babcott sorriu com a boca apenas.
— Phillip, diga a ele, polidamente, que estou aqui a seu convite, um hóspede. Como médico, não mágico, e não preciso voltar na próxima semana, nem em qualquer outra.
— Mas que droga, George! — murmurou Tyrer. — Não queremos encrenca.
Não sei como traduzir esse “mágico” e não tenho como explicar tais nuanças Pelo amor de Deus, encontre uma resposta mais simples.
— O que você disse, Taira? — indagou Yoshi, ríspido.
— Oh, Sire... difícil traduzir palavras altos líderes quando... quando ter muitos significados, e não saber menor palavra... melhor palavra, por favor, desculpar
— Deveria estudar mais — disse Yoshi, irritado por não estar com seu próprio intérprete. — Faz um bom trabalho, mas não o suficiente, deve estar mais É importante que saiba mais. Agora, o que ele disse, exatamente?
Tyrer respirou fundo, suando.
— Ele dizer ser doutor, não como deus, Yoshi-sama, não saber exato sobre tairo. Ele... ele aqui convite Yoshi. Sinto muito, se não quiser vir Iedo, doutor-sama não vir Iedo.
Ele morreu um pouco, ao ver Yoshi sorrir da mesma maneira insincera de Babcott. Não havia como se enganar quanto ao significado daquele sorriso; Tyrer amaldiçoou o dia em que decidira se tornar um intérprete.
— Sinto muito.
— So ka!
Sombrio, Yoshi avaliou seu movimento seguinte. O doutor provara ser útil, embora estivesse lhe escondendo fatos. Se assim fosse, podia deduzir que os fatos concretos eram ruins, não bons. E esse pensamento agradou-o. Um segundo pensamento também o agradou. Baseava-se numa idéia sugerida por Misamoto, sem saber, meses atrás. Yoshi no mesmo instante iniciara a prática, através do seu chefe de espionagem, Inejin, para uso futuro: um meio de controlar os bárbaros era através de suas prostitutas.
Inejin fora diligente, como sempre. Assim, Yoshi sabia agora muita coisa sobre a Yoshiwara dos gai-jin, quais eram as estalagens mais populares, sobre Raiko e a prostituta daquele jovem esquisito e tão feio, Taira, a velha de muitos nomes agora chamada Fujiko. E sobre a estranha prostituta de Furansu-san. O líder gai-jin, Sur Wrum, não tinha nenhuma prostituta especial. Serata usava duas, esporadicamente. Nemi era chamada de a consorte do chefe mercador gai-jin e uma boa fonte de informações. O doutor não visitava a Yoshiwara. Por quê? Meikin vai descobrir...
Ah, sim, Meikin, a traidora, você não está esquecida!
— Diga ao doutor que aguardo ansioso a sua visita na próxima semana — disse ele, incisivo. — E agradeça a ele. Abeh!
Abeh entrou na sala, ajoelhou-se.
— Escolte-os até Kanagawa. Não, leve-os pessoalmente até o líder gai-jin, em Iocoama, e traga de volta o renegado Hiraga.
— Olá, Jamie! Está na hora do almoço! Ontem à noite você disse para vir chamá-lo a uma hora! — Maureen sorriu da porta, de touca, vestida com elegância, as faces coradas pela caminhada apressada desde o prédio da Struan. — Uma hora, você disse, para o almoço no seu clube.
— Já estou indo, menina — disse ele, distraído, concluindo a carta para seu banqueiro em Edimburgo, sobre o empreendimento conjunto com o shoya, e anexando a ordem de pagamento de Tess Struan para depósito. Tenho de falar de alguma forma com Nakama-Hiraga, assim que ele for encontrado. Onde será que se meteu? Espero que não tenha fugido, como todos pensam. — Sente-se. Albert vai com a gente.
Ele estava tão absorvido que não percebeu o desapontamento de Maureen. O novo escritório ficava no prédio do Guardian, perto da cidade dos bêbados, na High Street. Era muito menor do que o escritório anterior, no prédio da Struan, mas tinha uma vista agradável da baía, o que era importante, permitindo que o mercador observasse as chegadas e partidas dos navios. Não mobiliado, exceto por uma escrivaninha e três cadeiras, meia dúzia de arquivos. Pilhas de livros e caixas, maços de papel em branco, penas e cadernos de contabilidade, que tomara emprestado até que chegasse sua encomenda de Hong Kong, espalhavam-se por toda parte. Na mesa, havia mais papéis, cartas, pedidos e uma circular, anunciando o lançamento de sua nova companhia e pedindo negócios. Tudo tinha de ficar pronto para a partida do Prancing Cloud.
— Dormiu bem, Jamie?
Ele fechou a carta, mal ouvindo-a.
— Dormi, sim, obrigado. E você?
Jamie pegou outra pilha de correspondência. As cartas haviam sido copiadas por dois escriturários portugueses que ocupavam uma sala no final do corredor, ao lado da oficina gráfica. Os escriturários foram emprestados por MacStruan, até que ele pudesse ter empregados permanentes.