— Como a gente pode se tornar uma esposa esperta, mamãe?
— Eu bem que gostaria de saber, menina, juro que gostaria. Mas algumas regras são certas: escolha o seu homem com esperteza, pôr um freio na língua sempre ajuda, um bom cabo de vassoura e um acesso de raiva no momento certo também ajudam, muita compreensão e perdão durante todo o tempo, e um peito quente para o pobre coitado chorar...
— Conversinha? — repetiu Jamie, a voz sufocada.
Maureen quase riu. Manteve o sorriso e a atitude de quem perdoava, mas o cabo de vassoura e o temperamento de prontidão.
— Soube da Yoshiwara no barco.
Ela deixou a informação em suspenso e Jamie se apressou em abocanhar a isca.
— Gornt lhe contou? Ou Hoag? Foi ele? Mas que idiota!
— Não, foi o seu bom capitão Strongbow... e o Dr. Hoag não é nenhum idiota, rapaz. Perguntei a Strongbow como vocês todos faziam para não enlouquecer sem amigas, se a mesma coisa acontecia na índia e na China. — Maureen riu, recordando como fora difícil persuadi-lo a falar com franqueza. O uísque é maravilhoso, pensou ela, abençoando o pai por ensiná-la a beber, quando necessário. — Acho que a Yoshiwara de vocês é uma coisa muito sensata.
Ele já iadizer “é mesmo?”, mas desta vez, no entanto, ficou calado. O silêncio de Maureen o torturava. Quando concluiu que chegara o momento, ela disse:
— Amanhã é domingo.
Jamie fitou atordoado, despreparado para aquele non sequitur.
— É, sim... acho que amanhã é domingo. Por quê?
— Pensei que poderíamos procurar o reverendo Tweet esta tarde. Espero que não seja um homem tão tolo quanto seu nome. Devemos lhe pedir para publicar os proclamas.
Jamie piscou, mais aturdido do que nunca.
— O quê?
— Os proclamas, Jamie. — Ela riu. — Não esqueceu que os proclamas devem ser lidos por três domingos consecutivos, não é?
— Não, mas já lhe disse que escrevi para...
— Isso foi quando eu estava lá. Acontece que não estou mais lá e, sim, aqui, e amo você.
Maureen parou, fitou-o, viu que ele era maravilhoso, tudo o que desejava na vida, e de repente todo o seu controle se foi com o vento.
— Jamie, querido, estamos noivos e creio que devemos casar, porque serei a melhor esposa que um homem já teve, prometo, prometo e prometo, não apenas porque estou aqui, amei você desde o primeiro momento e agora é o melhor momento para casar, tenho certeza, mas voltarei, voltarei para a Escócia, e nunca... se quiser que eu volte, voltarei, pelo próximo barco, mas eu amo você, Jamie. Juro que partirei, se você quiser.
As lágrimas afloraram a seus olhos e ela removeu-as.
— Desculpe, é apenas o vento, rapaz. — Mas não era o vento, toda a astúcia se desvanecera, seu espírito aberto, para que ele visse. — Acontece apenas que eu amo você, Jamie...
Os braços de Jamie a enlaçaram, ela comprimiu a cabeça contra seu ombro, sentindo-se mais angustiada do que em qualquer outro momento de sua vida, desesperada pelo amor daquele homem, as lágrimas escorrendo.
Depois que o terror amainou, contido pelo carinho de Jamie, ela ouviu-o dizer palavras bonitas, misturadas com o barulho do vento e das ondas, que a amava, e a queria muito feliz, que não se preocupasse, não ficasse triste, mas aquela tarde seria cedo demais, e tinha muito trabalho a fazer pela companhia, seria bastante difícil começá-la e mantê-la viva.
— Não se preocupe com a nova companhia, Jamie, pois a Sra. Struan disse que...
Ela parou, horrorizada. Não tencionava lhe contar, mas era tarde demais agora, os braços de Jamie apertando e depois afastando-a
— Ela disse o quê?
— Não importa. Vamos...
— O que ela disse a você? O quê? — O rosto de Jamie era severo, os olhos penetrantes. — Disse que estava me mandando dinheiro?
— Não, não disse. Apenas falou que você era um bom mercador e seria bem-sucedido. Vamos logo comer. Estou famin...
— O que ela disse? Exatamente.
— Já expliquei. Vamos al...
— Conte-me o que ela falou. E diga a verdade, exatamente! Ela lhe falou sobre o dinheiro, não é?
— Não, não exatamente.
Maureen desviou os olhos, furiosa consigo mesma.
— A verdade! — Jamie segurou-a pelos ombros. — E agora!
— Está bem.— Ela respirou fundo e pôs-se a falar, com uma velocidade cada vez maior. — Foi assim que aconteceu, Jamie, exatamente assim. Quando fui ao prédio da Struan para perguntar onde você estava, se no Japão ou em outro lugar, mandaram-me esperar. E depois ela me chamou, a Sra. Struan, para aquela sala grande de onde se podia ver toda Hong Kong, mas uma mulher muito triste, embora com bastante força. Largue-me por um momento.
Maureen tornou a enxugar os olhos, assoou o nariz e, depois, sem saber o que fazer com as mãos, passou o braço pelo dele, e sua mão encontrou o caminho para o bolso do casaco de Jamie.
— Vamos andar, Jamie, é mais fácil falar andando. Faz muito frio. A Sra. Struan me convidou a sentar, disse que você fora dispensado. Perguntei por que e ela me contou. Protestei que não era justo, não era problema seu se o filho dela era um pequeno demônio, loucamente apaixonado por uma aventureira inaceitável chamada Angelique... não sei nada sobre aventureiras, Jamie, mas depois de ter visto Angelique posso compreender por que o filho dela ou qualquer outro homem se apaixonaria por uma mulher assim, e tendo conhecido a mãe, também compreendo por que havia ira entre eles...
Uma rajada de vento agitou seus chapéus, tiveram de segurá-los, e depois Maureen continuou:
— Nós... tivemos uma briga. Não se esqueça que isso foi dias antes de sabermos da morte do rapaz. Foi uma briga terrível, Jamie. Logo estávamos as duas de pé e receio ter perdido o controle. Você ficaria envergonhado de mim. Ainda por cima, usei algumas palavras horríveis de papai.