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Baka — resmungou Katsumata, repugnado.

— Tem razão. Esse doutor deve ser detido. A fonte de Raiko diz que ele volta amanhã, ou no dia seguinte, para ver o tairo de novo.

So ka? — O interesse de Katsumata dobrou. — Onde? No castelo? Ela sacudiu a cabeça.

— Não. Esta é a melhor parte. Fora das muralhas, no palácio de Zukumura, o idiota, como na última vez.

Katsumata franziu o rosto.

— Muitas opções, Meikin, opções excepcionais. Igual a Utani, neh? Tentação demais. A morte de Utani ainda ressoa por todo o Nipão! Hiraga? Ele já foi apanhado?

— Não. O chefe gai-jin deixou Akimoto partir e Takeda também continua seguro. — Raiko observou-o por um momento, especulando sobre o que ele estaria pensando e depois acrescentou, suavemente: — Há mais dois fatos que deve saber. Lorde Yoshi esteve no encontro do doutor com o tairo, também com apenas uns poucos guardas. Ouvi dizer que ele estará presente de novo.

Ela viu os olhos de Katsumata faiscarem e experimentou um repentino medo, sentindo sua violência contida.

— Yoshi e Anjo juntos, aqueles cães fora das muralhas juntos? Puxa, Meikin, mas isso é incrível! — Katsumata tremia de excitamento. — Pode descobrir quando exatamente o doutor chega?

Meikin inclinou-se para a frente, quase tonta de esperança, e murmurou:

— Outro mensageiro é esperado esta noite. Saberei então. Raiko deve compreender como poderia ser uma oportunidade vital para nós, para todos nós, para todos os que têm contas a acertar.

E era mesmo uma oportunidade como nunca surgira antes, se viesse a se concretizar. Katsumata contraiu os olhos.

— Não posso esperar aqui, nem voltar esta noite. Quando foi o outro encontro, em que momento do dia?

— Cedo.

A carranca se aprofundou, depois se dissolveu.

— Meikin, todos os shishi lhe agradecerão. Se o encontro for amanhã, mande-me o aviso da hora imediatamente, para a estalagem dos Céus Azuis, perto da ponte em Nihonbashi.

Ele fez uma reverência, Meikin retribuiu, ambos satisfeitos, por enquanto.

A ponte em Nihonbashi era considerada a primeira etapa da Tokaidô, nos arredores de Iedo, e a estalagem dos Céus Azuis uma entre dezenas, ricas e pobres, espalhadas por todo o distrito. Aquela noite era escura e fria, o céu coberto por sólida camada de nuvens, ainda faltavam horas para a meia-noite. A estalagem ficava numa viela pequena e suja, um dos estabelecimentos mais pobres, um prédio indefinido, de dois andares, quase em ruínas, com as latrinas, cozinhas e uns poucos bangalôs separados de um só cômodo nos jardins, por trás dos muros. Katsumata sentava na varanda de um desses bangalôs, meditando, com uma túnica acolchoada contra o frio, desfrutando o jardim, a única coisa por ali a que se dispensavam cuidados mais meticulosos.

Lanternas coloridas em meio a plantas viçosas, ao longo de um regato, uma ponte, o som suave e tranquilizador da água correndo, o ruído ressonante da caçamba de bambu caindo contra a pedra, ao se encher de água, para se esvaziar, subir, cair de novo, enquanto a água escorresse pela cachoeira em miniatura. Seu silencioso guarda shishi parou por um instante, gesticulou que estava tudo bem e prosseguiu em sua ronda pelo terreno da estalagem.

Katsumata sentia-se contente, seus planos aperfeiçoados: dois shishi o acompanhariam no retorno a Iocoama pela manhã, aquele guarda e mais outro. O sacrifício dos dois, mais Hiraga, Takeda e Akimoto, garantiria o incêndio da colônia e o afundamento do navio de guerra, o que acarretaria o bombardeio e destruição de Iedo, com todos os resultados conseqüentes. No último minuto, ele assumiria o encargo de incendiar a igreja, como antecipara desde o início, deixando que Hiraga comandasse o ataque contra o navio de guerra. Com isso, teria amplas oportunidades para escapar, enquanto os outros não teriam nenhuma.

Os dedos acariciaram o punho de uma espada longa em seu colo, apreciaram o contato do couro de primeira qualidade, enquanto ele se imaginava a participar daqueles atos de terrorismo que tirariam sonno-joi de sua atual apatia e garantiriam sua liderança sobre os novos quadros de shishi, recém-formados, e que dali por diante seriam dominados por ele e Satsuma.

Yoshi e Anjo, por mais tentadores que fossem, não eram tão importantes quanto Iocoama, e por isso os deixaria aos cuidados de outros shishi. Não havia homens suficientes para desfechar um ataque frontal, o que o levara a planejar uma emboscada. Talvez uma emboscada tivesse êxito, provavelmente não, mas a própria ousadia seria inspiradora. Mas ele precisava saber a hora exata da volta do doutor. Se Meikin transmitisse a informação amanhã, ele avisaria os homens já mobilizados, esperando numa estalagem próxima, para a missão suicida, e depois partiria com seus dois companheiros para Iocoama.

Já será suficiente se a emboscada for realizada tão perto do castelo, disse ele a si mesmo, inebriado pela expectativa. Isso e mais Iocoama garantirão Sonno-joi e tornarão meu futuro sublime. Se ao menos houvesse mais tempo para nos prepararmos... Ah, tempo! “Tempo é um pensamento”, era o que sempre diziam aos discípulos em suas aulas de Zen, cerrando e abrindo o punho para dar ênfase “O tempo existe, mas não existe, é permanente e impermanente, fixo e flexível necessário e desnecessário, devemos tomá-lo na mão e indagar: por quê?”

Solene, Katsumata abriu a mão, contemplou a palma. E soltou uma risada. Que absurdo! Mas quantos daqueles jovens costumavam rebuscar seus cérebros em busca de um significado, quando não havia nenhum, Ori em particular, Hiraga também, meus melhores discípulos, futuros líderes, a minha esperança. Mas Ori morreu, e agora Hiraga se tornou maculado, traiçoeiro.

O barulho da caçamba de bambu era confortador. E também o som da água correndo. Seu ser transbordava de vitalidade, planos e idéias, o futuro mais uma vez promissor, sem o menor vestígio de cansaço naquela noite, haveria tempo suficiente para Meikin enviar...

Uma sombra passou pelos arbustos, depois outra, um som tênue por trás, e ele se levantou, a espada na mão, correu para a porta secreta escondida entre as folhagens, mas três homens vestidos de ninja emergiram das sombras, e bloquearam o caminho, as espadas erguidas. No mesmo instante, Katsumata virou-se, correu em outra direção, mas havia outros ninjas ali, povoando todo o jardim, alguns em movimento, outros parados como rocha, esperando que ele se aproximasse. Katsumata desfechou um ataque impetuoso contra um alvo fácil, os quatro homens que se adiantavam pela esquerda, matando um, os outros se evaporando tão depressa quanto haviam surgido. Uma súbita dor ofuscante em seus olhos, de um pó ácido lançado contra o rosto. Em agonia, ele uivou de raiva e arremeteu sem ver contra o inimigo, o frenesi por ser emboscado e enganado proporcionando força maníaca a seus braços e asas aos pés.

A espada encontrou carne, o homem gritou, sem braço, e Katsumata se encolheu, golpeou às cegas de novo, desviou-se para a esquerda e direita, correu para a direita, com fintas sucessivas, enquanto tentava limpar os olhos. Virando-se, golpeando, correndo para um lado e outro, em pânico, esfregando os olhos.