Выбрать главу

— Seja bem-vindo a bordo, Sr. Tyrer. Bem que precisamos de pessoas que falem japonês por aqui. Como está seu ferimento?

— Não muito ruim, senhor, obrigado — murmurou Tyrer, querendo se refugiar de novo no anonimato.

— Ótimo. Um incidente lamentável.

Os olhos azuis-claros do almirante esquadrinharam o mar e seu navio, o rosto corado e curtido, bochechas pendentes, uma dobra de carne na nuca, por cima do colarinho engomado. Por um instante, ele avaliou a fumaça, com um olhar crítico, registrando a cor e o cheiro, depois soltou um grunhido, removeu alguns fragmentos de poeira de carvão do impecável colete.

— Algum problema?

— Não, Sir William. O carvão que obtemos aqui não se compara com o melhor de Xangai, muito menos com o bom carvão de Gales ou Yorkshire. Tê-los aqui seria demais. É bastante barato, quando conseguimos comprá-lo, o que não acontece com freqüência. Deveria exigir um aumento do suprimento. Esse é um grande problema para nós aqui.

Sir William acenou com a cabeça, cansado.

— Já insisti, mas parece que não há carvão nesta região.

— É de péssima qualidade, de onde quer que venha. Não podemos usar as velas hoje, não com este vento contrário. A assistência das máquinas é perfeita para esse tipo de exercício, para as manobras perto da terra e para atracar. Com o melhor vaso de guerra em operação, só com as velas, até mesmo um clíper, levaríamos cinco vezes mais tempo para chegar a Iedo, e não teríamos espaço de mar suficiente para uma margem de segurança. Mas é uma pena.

Sir William estava de mau humor, depois de outra noite insone, e reagiu no mesmo instante à descortesia e estupidez do almirante, dizendo-lhe algo que era óbvio:

— É mesmo? Pois não importa, já que muito em breve teremos só caçambas fétidas, sem qualquer vela.

Tyrer disfarçou um sorriso, enquanto o almirante corava, porque era uma questão sensível para todos os oficiais da marinha, discutida nos jornais de Londres, que jocosamente diziam que as futuras esquadras seriam formadas por “caçambas fétidas de vários tamanhos, comandadas por fedorentos de vários tamanhos, vestidos de acordo”.

— Isso não vai acontecer em futuro previsível. E jamais para longos cruzeiros, bloqueios ou esquadras de batalha. — O almirante falava com raiva. — Não há a menor possibilidade de transportar todo o carvão necessário entre portos e ainda contarmos com navios em condições de combate. Precisamos de velas para poupar combustível. Os civis não têm a menor noção dos problemas navais...

Isso o lembrou das críticas do atual governo liberal às estimativas da marinha, e sua pressão aumentou mais um pouco.

— Para garantir nossas rotas marítimas, mantendo o império inviolável, a marinha real, como um dos fundamentos da política governamental, deve conservar a equação de duas vezes mais navios... de madeira ou couraçados, a vapor e vela... do que as duas marinhas seguintes juntas, com os maiores e melhores motores, os mais modernos canhões, granadas e explosivos do mundo.

— Uma idéia admirável, mas agora superada, inviável, e receio que dispensa demais para o ministro das finanças e o governo aceitarem.

É melhor que isso não ocorra, por Deus! — A dobra de carne na nuca se tornara vermelha.

— É melhor o Sr. Avarento Gladstone aprender logo quais devem ser suas prioridades. Já falei isso antes: quanto mais depressa os liberais deixarem o governo, e os tories voltarem, melhor! Não por causa deles, mas, graças a Deus, a marinha real ainda conta com navios e poder de fogo suficientes para afundar as quadras de franceses, russos ou americanos, até em suas águas territoriais, se necessário! Mas o que aconteceria se esses três países se unissem contra nós num conflito próximo?

Irritado, o almirante virou-se, e berrou para Marlowe, que se encontrava próximo:

— Sr. Marlowe! Sinalize para a Pearl! Ela está fora de sua posição, por Deus!

— Pois não, senhor.

Marlowe afastou-se, apressado. Sir William olhou para a popa, nada percebendo de errado com os navios que vinham atrás, e depois tornou a se concentra no almirante.

— Russell, nosso ministro do exterior, é esperto demais para permitir que isso ocorra. A Prússia vai entrar em guerra com a França, a Rússia ficará de fora os americanos estão envolvidos demais com sua guerra civil, Cuba e as Filipinas em poder dos espanhóis e farejando as ilhas havaianas. Por falar nisso, propus anexarmos uma ou duas dessas ilhas, antes que os americanos o façam, pois seriam escalas perfeitas para reabastecimento de carvão...

Marlowe, amargurado, encaminhou-se para o sinaleiro, os olhos fixados na H.M.S. Pearl, seu navio, uma fragata da classe Jason, com três mastros, uma única chaminé, vinte e um canhões, capacidade de 2.100 toneladas, temporariamente sob o comando de seu segundo homem, o tenente Lloyd, desejando estar a bordo do outro navio, não mais um lacaio do almirante. Transmitiu a mensagem ao sinaleiro, observou-o usar as bandeiras de sinalização e leu a resposta antes que o rapaz a comunicasse:

— Ele diz que lamenta, senhor.

— Há quanto tempo é sinaleiro?

— Três meses, senhor.

— É melhor rever seus códigos, com a maior atenção. A mensagem disse: “Comandante Lloyd da H.M.S. Pearl pede desculpas.” Cometa outro erro e vai ficar com os ovos no espremedor.

— Desculpe, senhor — balbuciou o rapaz, desolado.

Marlowe voltou para junto do almirante. Aliviado, descobriu que a briga era potencial entre os dois homens parecia ter amainado e agora eles discutiam planos alternativos de ação em Iedo e as implicações a longo prazo do ataque na Tokaidô. Enquanto esperava por uma pausa na conversa, Marlowe, cauteloso, alteou uma sobrancelha para Tyrer, que sorriu em resposta. Queria ser dispensado para perguntar ao outro sobre Kanagawa e Angelique. Tivera de partir no mesmo dia em que Sir William chegara, três dias antes, e não tinha informações diretas sobre o que ocorrera desde então.

— O que é, Sr. Marlowe?

O almirante escutou a mensagem e acrescentou, em tom ríspido:

— Mande outra mensagem: apresente-se em minha nave capitânia ao pôr-do-sol. — Ele percebeu que Marlowe estremecia. — É isso mesmo, Sr. Marlowe. Um pedido de desculpas é insuficiente para negligência em minha esquadra. Ou acha que é?

— Claro que não, senhor.

— Sempre considere com todo cuidado o homem a quem entrega o comando do seu navio.

O almirante Ketterer tornou a se virar para Sir William.

— O que era mesmo que estava dizendo? Você não...

Uma rajada de vento sacudiu o massame. Os dois oficiais levantaram os olhos para o cabo, depois para o céu, esquadrinham tudo ao redor, sentindo o vento. Ainda não havia sinal de perigo, mas ambos sabiam que o tempo naquele mês era imprevisível e as tempestades surgiam de repente naquelas águas.