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— Seu monge de um olho só...

E outra vez as duas soltaram risadas convulsivas, estridentes, até que suas barrigas doeram, e tiveram de se apoiar uma na outra.

Tão subitamente quanto surgira, o acesso de riso cessou. Mas persistiu uma certa aflição.

— É engraçado, Maureen, mas ao mesmo tempo não tem nada de engraçado.

— Tem razão, não é nada engraçado. Sinto... quero voltar para casa agora. Pensei que poderia suportar a Yoshiwara... Jamie não é diferente dos outros homens... mas não posso, sei disso agora. Não posso suportar esta vida em que a Yoshiwara existe... existe e sempre existirá, quer eu goste ou não. Dentro de um ou dois anos, Angelique, virão as crianças e depois de uns poucos anos ele achará que somos velhas, quem quer que ele seja... e seremos mesmo velhas, com os cabelos grisalhos, os dentes caindo, e quem quer que ele seja, vai tratar de se desguiar. O destino de uma mulher não é dos mais felizes. Eu gostaria de estar a bordo do Atlanta Belle neste momento, voltando para casa, não aqui, não aqui. Vou embora de qualquer maneira, assim que eu puder. Já decidi.

— Pense bem a respeito. Não diga nada a ele esta noite.

— É melhor dizer logo esta noite. É isso... é melhor assim.

Angelique hesitou.

— Esperarei até avistarmos o cúter e depois irei embora.

— Obrigada. Lamentarei deixá-la, agora que nos conhecemos melhor. Nunca tive uma amiga de verdade.

Maureen passou o braço pelo dela e tornou a olhar para o Atlanta Belle.

— Ai, ai... — sussurrou Chen, irritado, no dialeto das quatro aldeias, que ele e Vargas falavam fluentemente. — Por que aquelas duas prostitutas não podem ser sensatas e esperar dentro de casa? Assim, não teríamos de esperar no frio também.

— Jami não vai ficar nada satisfeito se ouvir você chamá-la assim.

— Por sorte, ele não fala este dialeto, nem mesmo cantonês, e de qualquer maneira eu não a chamaria de prostituta na frente dele, ou de qualquer outro demônio estrangeiro... embora seja assim que chamamos todas as mulheres deles, como você sabe muito bem... nem usaria palavras tão chulas perto deles. Usaria “Flor da Manhã” ou um de mil outros nomes, que ambos sabemos que significa “prostituta”, mas os demônios estrangeiros pensam que significa apenas “Flor da Manhã”.

Chen riu, agasalhado pelo comprido casaco acolchoado. Levantou os olhos para o céu, quando a lua surgiu por um instante no meio das nuvens.

— Aquela Flor da Manhã pensa que será a tai-tai de Jami. — Outra risada.

— Ela nunca será.

— Não, não depois de hoje — murmurou Vargas, sombrio. — Ela é do tamanho certo para ele, é tempo de Jami casar, e seria ótimo ter crianças por aqui.

Vargas sentia saudade dos próprios filhos, seis, que deixara com as duas esposas em Macau, até que tivesse condições de possuir sua própria casa aqui.

— O que acha de miss tai-tai e daquele Xangai Gornt? Ele vai conseguir aumentar o dinheiro dela?

— Se ele conseguir, será em seu próprio benefício, não dela. Mas o que eu gostaria de saber é outra coisa: o que há naqueles papéis?

— Que papéis?

— Os que Lun viu quando tai-pan Willum estava cochilando ao lado do fogo. Os papéis de Nariz Comprido Pontudo. Dew neh loh moh que Lun não saiba ler francês. Tai-pan Willum levou o maior choque, contou Lun.

— O que Nariz Comprido mandou para Willum da sepultura?

Chen deu de ombro

— Encrenca para miss tai-tai. Talvez fosse sobre Escuro da Lua, hem?

— Isso é apenas um rumor.

Chen não disse nada, mantendo o segredo, como Chen da Casa Nobre lhe ordenara, depois da morte de Malcolm.

— Não importa o que venha a acontecer, Tess tai-tai vai triturar em poeira miss tai-tai e demônio estrangeiro de Xangai.

— É mesmo? O que você soube?

Chen revirou os olhos.

— Tess tai-tai é tai-pan agora, é isso o que diz Chen da Casa Nobre... ele nos informou pela última correspondência e advertiu que tivéssemos cuidado. Já ouviu falar de uma imperatriz cedendo o seu poder, depois de conquistá-lo? Ou qualquer outra mulher, diga-se de passagem? Nunca, em todos os nossos quinhentos séculos de história. Ela é tai-pan agora, segundo Chen da Casa Nobre, e ele deve saber dessas coisas.

— Pensei que Xangai Albert seria o tai-pan.

— Nunca. Ela vai triturá-lo em poeira também... Velho Demônio de Olhos Verdes forçou a entrada dele e do irmão na Casa Nobre. O rumor é de que Tess tai-tai odeia os dois, porque são bastardos secretos daquela filha do demônio estrangeiro missionário... aquela dos muitos amantes, com o próprio Demônio de Olhos Verdes.

— A esposa do mestre do porto Glessing? Mary Sinclair? Nunca!

— Pode ser verdade. Ela fez Glessing de uma perna só usar o chapéu verde uma dúzia de vezes.

— Transformou-o num corno? Isso é outra lenda.

Vargas tratou de resguardar a reputação da mulher, como todos os seus ex-amantes. Agora ela estava na casa dos quarenta anos, gasta, mas ainda tão faminta quanto antes, refletiu ele, o oposto de Tess Struan, que abomina a fornicação, e empurrou o marido Culum à bebida e outras mulheres.

— Tess tai-tai deveria ter casado com o tai-pan... e não com seu filho Culum. Ele poderia tê-la lubrificado de forma gloriosa, no fundo era disso que ela carecia, e ainda restaria mais do que o suficiente para segunda esposa May-may e terceira esposa Yin Hsi.

— É verdade. Neste caso, estaríamos fortes, com muito mais filhos para continuar, e não fracos, fugindo do demônio de um olho só Brock. — Uma pausa, e Chen acrescentou, ominoso: — Chen da Casa Nobre está preocupado.

— Muito triste que filho número um Malcolm tenha morrido do jeito que morreu.

— Os deuses tinham saído naquele dia — comentou Chen, do alto de sua sabedoria. — Escute, você que se curva ao deus dos demõnios estrangeiros, ele lhe disse alguma vez por que os deuses passam mais tempo ausentes do que velando por nossos assuntos?

— Deuses são deuses, só falam entre si... olhe, o Belle está partindo...

Maureen disse:

— O Atlanta Belle está a caminho, Angelique.

Boa viagem, pensou Angelique, contraindo os olhos contra o vento suave, o navio apenas uma forma indistinta.