Выбрать главу

— E lá está o cúter.

— Onde? Puxa, como os seus olhos são aguçados! Mal consigo ver. — Angelique deu um aperto cordial no braço de Maureen. — Tenho certeza que você e Jamie vão...

Ela viu a cor se esvair do rosto da outra e acrescentou:

— Não se preocupe, Maureen. Tudo vai acabar dando certo. Tenho certeza.

— Acho que não posso encará-lo agora — murmurou Maureen.

— Neste caso... é melhor ir embora. Direi que você estava com dor de cabeça e o verá amanhã. Assim, terá tempo para pensar. Será melhor deixar o encontro para amanhã.

— Esta noite, amanhã, não faz diferença, já tomei minha decisão — respondeu Maureen.

As duas ficaram observando as luzes do cúter, que eram cada vez mais visíveis. Não demorou muito para que pudessem divisar o vulto alto de Jamie na cabine iluminada. Ele estava sozinho.

— Boa noite, Maureen — disse Angelique. — Eu a verei amanhã.

— Não, por favor, fique. Não serei capaz de fazer isso sozinha. Por favor, fique.

O cúter se encontrava agora a apenas cinquenta metros do cais. Elas viram Jamie se inclinar pela janela da cabine e acenar. Maureen não respondeu à saudação. Por trás delas, os lampiões estavam acesos ao longo do passeio, nas casas e armazéns intactos. Homens cantavam em algum lugar. Vervene tocava flauta na legação francesa. Os olhos de Maureen fixavam-se no homem que se aproximava do cais. Ele tornou a acenar, saiu para o convés.

— Maureen! — gritou Jamie, feliz por tornar a vê-la.

Angelique virou o rosto, viu os olhos de Maureen se abrandarem e compreendeu que fora esquecida. E com toda razão, pensou ela, sorrindo para si mesma. Maureen vai chorar, ter um acesso de raiva, jurar que partirá, mas continuará aqui. Fará com que ele sofra, mas acabará perdoando-o. Nunca esquecerá, mas ficará — e ficará porque o ama... ah, como as mulheres são tolas!

Em silêncio, despercebida, ela se afastou, contente por estar sozinha.

A noite era agradável. Na baía, os sinos dos navios assinalaram a hora. Lá longe, além do promontório, seu emissário seguia no Atlanta Belle, uma viagem de conquista, uma viagem sem retorno para ambos. E para a inimiga, a mulher de Hong Kong.

Edward vai pressionar aquela mulher horrível e viveremos felizes para sempre, passaremos mais de dois meses em Paris a cada dois anos, o verão na Provença, e iniciarei uma dinastia... com cinco mil guinéus só meus, sou uma herdeira, e cada sou que gastar me lembrará aquela mulher.

Edward roi muito tolo ao pensar que algum dia eu poderia me tornar amiga dela ou haveria de querer isso.

Aquela mulher é vil. Nunca a perdoarei pelas coisas que fez e escreveu. Ilegítimo, hem? Jamais esquecerei isso, e nós seremos vingados, meu Malcolm e eu, por toda a angústia que ela nos causou, a ele e a mim. Vamos nos vingar daquela megera.

Gosto dessa palavra, disse Angelique a si mesma, sorrindo. E este é um dos meus novos segredos. Percebi o que ela era desde o primeiro momento em que a conheci e durante as poucas vezes em que nos encontramos, nas ocasiões em que jantamos juntas, a megera mal falando comigo, sempre me desaprovando, por mais que eu me esforçasse. Ela é mesmo uma velha megera. Embora tenha apenas trinta e sete anos. Mas é e sempre será a megera Struan para mim.

Angelique tinha dezoito anos, seis meses e uns poucos dias. Entrou no saguão do prédio da Struan, sob o leão vermelho da Escócia e o dragão verde da China entrelaçados, subiu a enorme escada, e foi para sua suíte. Trancou a porta e, depois, na maior felicidade, foi para a cama... e mergulhou num sono tranquilo.

* * *

Sete dias depois, a seu pedido, Yoshi reuniu-se com Sir William e os outros ministros em Kanagawa e tratou de tranquilizá-los, contente por Anjo ter caído outra vez em sua armadilha, usando um porrete grande que nem era um porrete... embora também se sentisse Atônito pelo fato de os gai-jin não terem ido embora, escapando da devastação. Seu bálsamo foi prometer uma reunião com o xógum, assim que este voltasse.

E quando seria isso?, perguntou Sir William. Ao que Yoshi respondeu: Providenciarei esse encontro o mais depressa possível, passando por cima do tairo Anjo, se for necessário, ele está muito doente, o pobre coitado, embora ainda seja o tairo. Enquanto isso, posso confiar que as informações que solicitei para tornar possíveis os nossos futuros acordos estarão prontas em breve, e que minhas sugestões serão levadas em consideração?

Imediatamente, a fragata Pearl foi despachada para Kagoshima, com uma exigência formal para que Sanjiro pedisse desculpas, pagasse reparações e entregasse ou identificasse os assassinos. Sanjiro descartou a exigência como impertinente. Na semana seguinte, com Sir William e seu pessoal a bordo da nave capitânia, a esquadra de batalha zarpou — H.M.S. Eurylus, com 35 canhões, Pearl, 21, Perseus, 21, Racehorse, 14, Havoc, Coquette e a chalupa de roda Argus, 9 — e logo ancorou na entrada da baía de Kagoshima, fora do alcance das baterias em terra, que eram bem protegidas, em quatorze fortes, nos lados da baía. O tempo começou a piorar.

À medida que as condições se deterioravam, Sanjiro vacilava. Durante quatro dias. Ao amanhecer do quinto dia, a chuva e a tempestade ainda mais intensas, três vapores construídos no exterior, mas pertencentes a Satsuma, ancorados ao largo da cidade, foram capturados e afundados. Ao meio-dia, todas as baterias de terra começaram a disparar e o almirante Ketterer deu ordens para iniciar a batalha. Em linha, com a nave capitânia à frente, a esquadra avançou por águas desconhecidas. Ao se aproximarem dos fortes, os navios despejaram sucessivas surriadas, o fogo de retaliação muito mais intenso do que se esperava.

Uma hora depois do início da batalha, o Eurylus desviou-se da linha. Involuntariamente, colocara-se entre um forte e uma área de alvo em que os artilheiros haviam se exercitado com extrema precisão e uma bala de canhão arrancou as cabeças de seu capitão e imediato, ambos na ponte de comando, ao lado de Ketterer e Sir William, e uma granada explodiu no convés, matando mais sete marujos e ferindo um oficial. A Pearl assumiu seu lugar na vanguarda. Quase ao pôr-do-sol, o Perseus encalhou sob os canhões de um forte, mas a Pearl conseguiu retirá-lo de lá, sem maiores perdas.

O combate se prolongou até o pôr-do-sol. Vários fortes haviam sido avariados, com muitos canhões destruídos, alguns paióis explodidos e foguetes disparados contra Kagoshima. Nenhum navio fora perdido e as únicas mortes até aquele momento haviam sido as dos homens a bordo da nave capitânia. Naquela noite, Kagoshima ardeu, como acontecera com Iocoama. A tempestade aumentou. Ao amanhecer, sem que o tempo ruim mudasse, os mortos foram sepultados no mar e ordenado o reinício da batalha. O Eurylus tornou a assumir a vanguarda. Naquela noite, a esquadra tornou a ancorar fora do alcance das baterias em terra, todos os navios intactos, o moral alto, com muita munição de reserva. Kagoshima fora arrasada, a maioria das baterias ficara danificada. Ao amanhecer, com um vento cada vez mais forte e chuva intensa, para irritação de muitos a bordo, e apesar dos protestos de Sir William, Ketterer ordenou que a esquadra retornasse a Iocoama. Embora fora de alcance, uns poucos canhões em terra ainda dispararam em desafio, na esteira da esquadra.