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Mais quatro cúteres seguiam para o cais, três transportando soldados de infantaria Highland, para se juntarem aos outros que já se encontravam em formação. Os tambores ressoando, as gaitas de foles em seu lamento impaciente. Kilts, túnicas escarlates, fuzis. Sir William, Tyrer, Lun e três homens de sua equipe na última embarcação. Ao desembarcarem, o capitão no comando do destacamento bateu continência.

— Está tudo pronto, senhor. Temos patrulhas vigiando este cais e as áreas ao redor. Os fuzileiros virão nos substituir dentro de uma hora.

— Ótimo. Vamos agora para a legação.

Sir William e sua comitiva embarcaram na carruagem que fora trazida para terra com tanto esforço. Vinte marujos pegaram os tirantes. O capitão deu a ordem para avançar e o cortejo partiu, as bandeiras tremulando, cercadas por soldados, um imponente tambor-mor com mais de um metro e oitenta à frente, cules chineses de Iocoama puxando as carroças com a bagagem na retaguarda, muito nervosos.

As ruas estreitas, entre lojas e prédios baixos, de um só andar, estavam estranhamente vazias. Assim como o inevitável posto de guarda na primeira ponte de madeira, sobre um canal pestilento. E o seguinte também. Um cachorro saiu de uma viela, latindo e rosnando, mas logo fugiu, uivando, depois de levar um chute que o jogou a dez metros de distância. Mais ruas e pontes vazias, mas a viagem até a legação era lenta e difícil, por causa da carruagem, já que todas as ruas eram projetadas apenas para o tráfego de pedestres. A carruagem tornou a empacar.

— Não seria melhor continuarmos a pé, senhor? — perguntou Tyrer.

— Não, claro que não! Faço questão de chegar de carruagem!

Sir William sentia-se furioso consigo mesmo. Esquecera como as ruas eram estreitas. Em Iocoama, decidira usar a carruagem, só porque as rodas eram proibidas, a fim de tornar ostensiva a sua insatisfação com o Bakufu.

— Capitão — gritou ele —, se tiver de derrubar algumas casas, não hesite em fazê-lo!

Mas isso não foi necessário. Os marujos, acostumados a arrastar canhões para os lugares certos, empurraram, puxaram, praguejaram e quase que carregaram a carruagem em torno dos gargalos, na maior jovialidade.

A legação ficava numa pequena elevação, no subúrbio de Gotenyama, ao lado de um templo budista. Tinha dois andares, uma estrutura ainda incompleta, ao estilo britânico, dentro de uma cerca alta, com portões. A construção fora iniciada três meses depois da assinatura do tratado.

Os trabalhos eram angustiosamente lentos, em parte por causa da insistência britânica em usar suas plantas e seus materiais habituais de construção, como vidro nas janelas, tijolos nas paredes — que tinham de ser trazidos de Londres, Hong Kong ou Xangai —, além de fundações profundas, e outras coisas similares. As casas japoneses, de modo geral, não tinham nada disso, sendo de madeira, leves e fáceis de erguer e reparar, de propósito, por causa dos terremotos, além de ficarem a alguma distância do solo. A maior parte do atraso, no entanto, fora em decorrência da relutância do Bakufu em permitir construções estrangeiras fora de padrão.

Embora ainda não estivesse pronta, a legação já estava ocupada, e a bandeira britânica era hasteada todos os dias no mastro enorme, o que enfurecia ainda mais os moradores locais. No ano passado, a ocupação fora temporariamente abandonada, pelo antecessor de Sir William, depois que um ronin, à noite, matou dois guardas diante da porta de seu quarto, para fúria britânica e regozijo japonês.

— Ah, lamentamos muito... — dissera o Bakufu.

Mas o local, arrendado em caráter perpétuo pelo Bakufu — um equívoco como alegara depois —, fora escolhido com a maior habilidade. A vista do pátio era a melhor da área, e podia-se ver a esquadra em ordem de batalha, ancorada ao largo, em segurança.

O cortejo chegou em estilo marcial, a fim de retomar a posse do prédio. Sir William decidira passar a noite na legação e se preparar ali para a reunião no dia seguinte. Arrumava as coisas quando foi abordado pelo capitão, batendo continência.

— Oque é?

— Devemos hastear a bandeira, senhor? E defender a legação?

— Isso mesmo. Execute o plano, com bastante barulho, tambores, gaitas e todo o resto. Toque de recolher ao pôr-do-sol. Até lá, mantenha a banda tocando.

— Pois não, senhor.

O capitão encaminhou-se para o mastro. Solene, ao som dos tambores e gaitas, hasteou a bandeira britânica. No mesmo instante, por prévio acordo, uma salva foi disparada pela nave capitânia. Sir William ergueu o chapéu e liderou três vivas retumbantes para a rainha.

— Assim está melhor. Lun!

— Pois não, amo?

— Ei, você não é Lun!

— Sou Lun Dois, amo. Lun Um não pôde vir, doente.

— Está bem, Lun Dois. Jantar ao pôr-do-sol. Arrume tudo direito.

Lun Dois acenou com a cabeça, amargurado, detestando se encontrar num tugar tão isolado e indefensável, cercado por mil olhos ocultos e hostis, que todos ignoravam na maior negligência, embora quase todos devessem senti-los. Nunca vou compreender os bárbaros, pensou ele.

Phillip Tyrer não conseguiu dormir naquela noite. Deitou-se em um colchão de palha, por cima de um tapete esfarrapado no chão, exausto, mudando de posição a intervalos de poucos minutos, a mente afligida por pensamentos de Londres e Angelique, o ataque e a reunião no dia seguinte, a dor em seu braço e Sir William, que se mostrara irritado durante o dia inteiro. Fazia frio, com uma ligeira promessa de inverno no ar, o quarto era pequeno. A janela com vidraças dava para o espaçoso e bem-cuidado jardim dos fundos. O outro colchão era para o capitão, mas ele ainda não terminara as rondas.

Além dos sons de cachorros em busca de comida e de uns poucos gatos, a cidade mantinha-se silenciosa. Tyrer ouvia de vez em quando os sinos distantes dos navios da esquadra, assinalando as horas, e risadas guturais dos soldados, o que o tranquilizava. Aqueles homens são magníficos, pensou ele. Estamos seguros aqui.

Acabou se levantando, bocejou, foi até a janela, abriu-a, inclinou-se sobre o peitoril. Estava bem escuro lá fora, com uma densa camada de nuvens. Não havia penumbras, mas ele avistou vários Highlanders patrulhando com lampiões a óleo.

Além da cerca, para um lado, podia divisar os vagos contornos de um templo budista. Ao pôr-do-sol, depois que as gaitas de foles tocaram o recolher, a bandeira britânica fora arriada para a noite, de acordo com o ritual, os monges haviam fechado seu portão, tocaram um sino e povoaram a noite com seu estranho canto, “Ommmmahneepadmeehmmmmm...”, sempre repetido, interminável. Acalmara Tvrer, ao contrário do que ocorrera com vários outros, que vaiaram, pediram aos berros, grosseiramente, que se calassem.

Ele acendeu a vela que havia ao lado da cama. O relógio de algibeira marcava duas e meia. Tornando a bocejar, rearrumou o cobertor, recostou-se no travesseiro duro, abriu sua pasta, com as iniciais de seu nome gravadas — um presente de despedida da mãe — e tirou seu caderno de anotações. Percorrendo a coluna de palavras e frases japonesas, que escrevera foneticamente, ele murmurou os equivalentes em inglês, passou para a página seguinte e a outra. Repetiu o processo ao contrário, lendo o inglês e dizendo em voz alta o japonês. Gostaria que todas estivessem certas.