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— São bem poucas, não sei se as pronuncio da maneira correta, tenho muito pouco tempo, e ainda nem comecei a aprender a escrita — murmurou Tyrer.

Em Kanagawa, perguntara a Babcott onde poderia encontrar o melhor mestre.

— Por que não pede ajuda ao padre? — sugerira Babcott. Fora o que ele fizera, no dia anterior.

— Claro, meu rapaz. Mas não pode ser esta semana. Que tal deixarmos para o mês que vem? Aceita mais um xerez?

Por Deus, como eles bebem aqui! Estão embriagados na maior parte do tempo e no almoço sempre bebem demais. O padre é inútil, só pensa no paraíso. Mas que golpe de sorte tivera com André Poncin!

Conhecera o francês ontem, por acaso, numa das lojas da aldeia japonesa que atendiam às suas necessidades. Margeavam a rua principal da aldeia, por trás da High Street, longe do mar, ao lado da cidade dos bêbados. Todas as lojas pareciam iguais, vendendo os mesmos tipos de mercadorias locais, de comida a apetrechos para pesca, e de espadas ordinárias a antiguidades. Ele examinava uma prateleira com livros japoneses — o papel da melhor qualidade, muito bem impressos, com ilustrações em xilogravura —, tentando se fazer compreender pelo radiante proprietário.

Pardon, monsieur — intervinha um estranho —, mas precisa indicar o tipo de livro que deseja.

Ele tinha trinta e poucos anos, o rosto raspado, olhos castanhos, cabelos também castanhos, ondulados, com um fino nariz gaulês, e bem vestido.

— Deve dizer: Watashi hoshii hon, Ing‘erish Nihongo, dozo... eu gostaria de ver um livro que tenha inglês e japonês. — Ele sorrira. — Claro que não existe nenhum, mas esse homem vai lhe dizer, com uma abjeta sinceridade, Ah so desu ka, gomen nasa,i etc... Ah, sinto muito, não tenho nenhum hoje, mas se voltar amanhã... Só que ele não está dizendo a verdade, mas apenas o que pensa que você quer ouvir, um hábito fundamental dos japoneses. Receio que os japoneses não sejam muito generosos com a verdade, mesmo entre si.

— Mas posso lhe perguntar, monsieur, como aprendeu japonês... pois parece evidente que fala fluentemente.

O estranho soltara uma risada jovial.

— Está sendo muito gentil. Não sou fluente, mas tento. — Ele dera de ombros, divertido. — Com paciência. E porque alguns dos nossos santos padres falam a língua.

Phillip Tyrer franzira o rosto.

— Mas acontece que não sou católico, mas sim da igreja anglicana e... ahn... aprendiz de intérprete na legação britânica. Meu nome é Phillip Tyrer e acabei de chegar, estou meio desorientado.

— Ah, claro, o jovem inglês da Tokaidô. Peço que me desculpe, por favor. Deveria tê-lo reconhecido. Ficamos todos horrorizados ao sabermos do incidente. Permita que me apresente. André Poncin, de Paris. Sou um mercador.

Je suis enchanté de vous voir — dissera Tyrer, falando francês com a maior facilidade, e bem, embora com algum sotaque inglês.

No mundo inteiro, fora da Grã-Bretanha, o francês era a língua da diplomacia, e a língua franca da maioria dos europeus; portanto, era essencial para ocupar um posto no Ministério do Exterior britânico, e para qualquer um que se considerasse instruído. Em francês, ele acrescentara:

— Acha que os padres concordariam em me ensinar ou permitiriam que eu participasse de suas aulas?

— Não creio que eles dêem aulas. Posso perguntar. Vai partir com a esquadra amanhã?

— Vou, sim.

— Eu também, acompanhando monsieur Seratard, nosso ministro. Esteve na legação em Paris antes de vir para cá?

— Infelizmente, não. Só passei duas semanas em Paris, monsieur, em férias... este é o meu primeiro posto no exterior.

— O seu francês é muito bom, monsieur.

— Nem tanto quanto eu gostaria — respondera Tyrer, voltando a falar em inglês. — Posso presumir que também é um intérprete?

— Oh, não, sou apenas um homem de negócios. Mas às vezes procuro ajudar monsieur Seratard, quando seu intérprete oficial de holandês está doente... pois também falo holandês. Deseja aprender japonês, e o mais depressa possível, nem?

Poncin fora até a prateleira, escolhera um livro.

— Já viu um desses? É de Hiroshigue, Cinqüenta e Três Estações na Estrada de Tokaidô. Não se esqueça de que o princípio do livro fica no fim, para nós, já que eles escrevem da direita para a esquerda. As ilustrações mostram as estações de posta até Quioto. — Ele folheara o livro. — Aqui está Kanagawa e aqui é Hodogaya.

As xilogravuras em quatro cores eram requintadas, melhores do que qualquer outra coisa que Tyrer já vira antes, os detalhes extraordinários.

— Mas são maravilhosas!

— Tem toda razão. Ele morreu há quatro anos, o que é uma pena, porque era fantástico. Alguns artistas japoneses são fabulosos, Hokusai, Masanobu, Utamaro, e uma dúzia de outros. — André rira, pegara outro livro. — Este aqui é indispensável, uma cartilha do humor e caligrafia dos japoneses, como eles chamam sua escrita.

Phillip Tyrer ficara espantado. A pornografia era decorosa e absolutamente explícita, página após página, com homens e mulheres muito bem vestidos, as partes nuas exageradas, desenhadas em detalhes precisos, enquanto se uniam com vigor e inventividade.

— Oh, meu Deus!

Poncin soltara uma gargalhada.

— Ah, estou vendo que lhe proporcionei um novo prazer. Em matéria de erotismo, eles são excepcionais. Tenho uma coleção que gostaria de lhe mostrar. As ilustrações são chamadas átshunga-e, e outras de ukiyo-e... imagens do mundo dos salgueiros ou do mundo flutuante. Já visitou algum bordel?

— Eu... ahn... não... ainda não.

— Neste caso, permita que eu seja seu guia?

Agora, durante a noite, Tyrer recordou a conversa, e como se sentira secretamente embaraçado. Tentara fingir que também era um homem do mundo, com muita experiência, mas ao mesmo tempo ressoava em sua cabeça o conselho solene e constante do pai:

— Escute, Phillip, os franceses são indignos, não merecem a menor confiança, os parisienses são a escória da França, e Paris é sem dúvida a cidade do pecado no mundo civilizado... licenciosa, vulgar e francesa!