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— Pois então mantenha uma contagem do número de soldados, suas idas e vindas, que cômodos estão ocupados e por quem.

Os dois haviam esperado e vigiado durante o dia inteiro. Ao anoitecer, vestiram as roupas de ninja. Por duas vezes, Hiraga se aproximara da legação, numa delas chegara a escalar a cerca, a título de experiência e para fazer um reconhecimento, mas logo batera em retirada, sem ser visto, quando uma patrulha avançara em sua direção.

— Jamais conseguiremos entrar durante a noite, Ori — sussurrara ele. — Nem de dia. Há patrulhas demais agora.

— Quanto tempo acha que eles vão ficar?

Hiraga sorrira.

— Até os expulsarmos.

Agora, estavam quase alcançando a casa segura, uma estalagem a leste do castelo. O amanhecer era iminente, o céu se tomava mais claro, a camada de nuvens mais tênue do que no dia anterior. À frente, a rua se encontrava deserta. A ponte também. Confiante, Hiraga avançou apressado em sua direção e quase derrapando. Uma patrulha de dez homens do Bakufu saíra das sombras. No mesmo instante, os dois lados assumiram a posição de ataque e defesa, as mãos nos cabos das espadas.

— Adiantem-se e mostrem seus papéis de identificação — ordenou o samurai no comando da patrulha.

— Quem são vocês para darem ordens a alguém?

— Está vendo nossos emblemas — disse o homem, furioso, dando alguns passos pelas tábuas da ponte, enquanto seus homens espalhavam-se por trás. — Somos guerreiros de Mito, nono regimento, guardiões do xógum. Identifiquem-se.

— Estivemos espionando a fortificação do inimigo. Deixe-nos passar.

— Parecem mais com ladrões. O que há na bolsa em suas costas, hem? Identifiquem-se!

O ombro de Ori latejava. Já vira a descoloração reveladora, mas escondera de Hiraga, e também não mencionara a dor. Sua cabeça doía, mas percebeu no mesmo instante que nada tinha a perder, e podia ganhar uma morte admirável.

Sonno-joi! — berrou ele de repente, avançando para o samurai na ponte.

Os outros recuaram para lhes dar espaço, enquanto Ori golpeava com toda a sua força, recuperou-se quando o golpe foi aparado e tornou a atacar, fazendo uma finta e desta vez acertando o alvo. O homem morreu de pé, e só depois é que tombou. Ori avançou para outro homem, que recuou, depois para um terceiro, que também recuou. O círculo de guerreiros começou a se fechar.

Sonno-joi! — gritou Hiraga, e correu para o lado de Ori. Juntos, eles mantiveram os homens a distância.

— Identifiquem-se! — insistiu um jovem guerreiro, sem se mostrar impressionado. — Sou Hiro Watanabe e não desejo matar ou ser morto por um guerreiro desconhecido.

— Sou um shishi de Satsuma! — anunciou Ori, orgulhoso, acrescentando um pseudônimo, como era o costume: — Riyama Takagaki.

— E eu sou de Choshu, meu nome é Shodan Moto. Sonno-joi! — gritou Hiraga.

Ele avançou para Watanabe, que recuou sem medo, assim como os outros ao redor.

— Nunca ouvi falar de vocês — disse Watanabe, por entre os dentes semi-cerrados. — Não são shishi... são a escória.

Seu golpe foi aparado. Hiraga, um mestre na espada, usou a força e a velocidade do atacante para desequilibrá-lo, deu um passo para o lado e golpeou sob a espada, no lado desprotegido do homem. Retirou a lâmina e, num movimento que parecia contínuo, acertou no pescoço, decapitando o atacante enquanto ele caía, concluindo numa perfeita posição de ataque. O silêncio era profundo.

— Com quem você estudou? — perguntou alguém.

— Toko Fujito foi um dos meus sensei — respondeu Hiraga, pronto para a próxima morte.

— Ei!

Toko Fujito era um dos reverenciados mestres espadachins de Mito, que morrera no koto de Iedo em 1.855, causador de cem mil mortes.

— Eles são shishi, e homens de Mito não matam shishi, sua própria gente murmurou um dos homens. — Sonno-joi!

Cauteloso, esse homem deu um passo para o lado, sem ter certeza da reação dos outros, sua espada ainda em posição de combate. Os companheiros fitaram-no, depois uns aos outros. Outro homem se afastou. Havia agora uma passagem estreita e convidativa entre eles, mas todas as espadas continuavam erguidas.

Hiraga preparou-se para uma traição, mas Ori acenou com a cabeça para si mesmo, a dor esquecida, a vitória ou a morte era a mesma coisa para ele. Sem se apressar, limpou sua lâmina, guardou a espada na bainha. Com toda polidez, fez uma reverência para os mortos e avançou pela passagem estreita, sem olhar para a direita ou esquerda, nem para trás.

Um momento depois, Hiraga seguiu-o, também em passos lentos. Até virarem a esquina. E só então os dois desataram a correr, não parando até se encontrarem bem longe.

10

Os cinco representantes do bakufu entraram sem pressa no pátio da legação, em seus palanquins. Chegavam com uma hora de atraso, precedidos por samurais com estandartes que exibiam seus emblemas oficiais, e cercados por guardas. Sir William se postava no alto dos degraus largos que levavam à entrada imponente. Tinha a seu lado os ministros da França, Rússia e Prússia — seus assessores, Phillip Tyrer, e outros membros da legação, um pouco mais atrás — e mais uma guarda de honra, formada por Highlanders, com alguns soldados franceses, exigidos por Seratard. O almirante Ketterer e o general haviam permanecido a bordo, de sobreaviso.

Os japoneses fizeram uma reverência cerimoniosa. Sir William e os outros levantaram o chapéu. Com o devido ritual, conduziram os japoneses para a grande sala de audiências, tentando disfarçar sua diversão pelos trajes exóticos: pequenos chapéus pretos laqueados, equilibrados no alto de cabeças raspadas e presos com cordões por baixo do queixo, os trajes externos de ombreiras largas, os quimonos de seda cerimoniais, multicoloridos, as calças volumosas, sandálias de tiras de couro, e meias abertas entre os dedos, as tabi, leques no cinto e as duas espadas inevitáveis.

— Esses chapéus não são bastante grandes para se dar uma mijada — comentou o russo.

Sir William sentou no centro da fila de cadeira, junto com os ministros, Phillip Tyrer numa extremidade, para completar a delegação. Os representantes do Bakufu sentaram na fileira em frente, com os intérpretes se instalando em almofadas no chão, entre os dois grupos. Depois de prolongadas discussões, concordaram em cinco guardas para cada lado. Esses homens postaram-se por trás de seus superiores, adversários se fitando com expressões desconfiadas. Nos termos do rigoroso protocolo, os membros das delegações se apresentaram. Toranaga Yoshi foi o último.